intolerância

Censura, mentiras e ódio: as estratégias dos fãs de Bolsonaro

Chamam seu político preferido de “mito”, espalham notícias falsas, chamam mulheres de 'cadelas', usam hackers para derrubar páginas de opositores e querem o poder

arquivo/ebc

Bolsonaro frequentemente faz apologia à tortura. Idolatram abertamente o coronel Ustra

São Paulo – Eleitores do representante da extrema-direita nas eleições de outubro, Jair Bolsonaro (PSL), se comportam como fãs. Alimentados por um discurso radical, chamam seu político preferido de “mito” e utilizam de estratégias para censurar, difamar e provocar os opositores. Um exército de intolerância: gritam que mulheres que não votam no Bolsonaro são “cadelas”, disparam nas redes sociais grande coleção de fake news e até mesmo promovem ataques de hackers contra páginas que repudiam o candidato.

O ataque virtual mais notório foi contra o grupo do facebook Mulheres Contra Bolsonaro, que reúne mais de 3 milhões de pessoas, de caráter suprapartidário. Após alcançar 2 milhões de mulheres, o grupo sofreu um ataque e teve seu nome alterado por hackers fãs de Bolsonaro, para um título de apoio ao candidato.

Mesmo a campanha do candidato, através de seu filho deputado por São Paulo, Eduardo Bolsonaro (PSL), e seu vice, Hamilton Mourão, divulgaram mentiras sobre a mobilização das mulheres. O caso ficou ainda mais grave: organizadoras da página começaram a ser ameaçadas. Ontem, uma delas foi agredida com soco e coronhada no Rio de Janeiro.

Reproduçãoódio e tortura
Conteúdo divulgado pelo filho de Bolsonaro

A página acabou sendo restabelecida e recuperou poder de mobilização. No sábado (29), as mulheres, em parceria com inúmeros setores da sociedade, organizam grandes atos em todo o país contra Bolsonaro. Em São Paulo, a mobilização acontece às 15h no Largo da Batata. No Rio de Janeiro, a concentração será no mesmo horário, na Cinelândia.

Escalada do ódio

Ontem (25), outro filho do candidato, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC), divulgou a imagem de uma simulação de pessoa torturada, com um saco plástico na cabeça, ensanguentado e com a boca aberta. No peito dele, o dito que virou símbolo da luta das mulheres contra Bolsonaro: #EleNão. Na descrição da imagem, o vereador diz: “Sobre pais que choram no chuveiro”, frase com referência homofóbica.

A família Bolsonaro frequentemente faz apologia à tortura. Idolatram abertamente o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido na Justiça como torturador na época da ditadura, quando comandou o DOI-Codi (1970-1974).

Provocações

O ódio também é estimulado pelos apoiadores de Bolsonaro, junto aos opositores. No domingo (23), integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL), grupo político que, frequentemente, promove postagens de apoio ou defesa de Bolsonaro, deram um exemplo de seus métodos.

Um arrastão, que contou com a presença de candidatos do grupo a cargos legislativos, encontrou com uma tenda do deputado federal Ivan Valente (Psol-SP), candidato à reeleição. As imagens revoltaram ativistas nas redes sociais. Os direitistas provocaram com insultos os militantes do Psol que apenas observavam. Fizeram um tumulto, espalharam o material de campanha, tentaram pegar as bandeiras e jogaram seus materiais sobre a bancada. Não houve reação do outro lado.

 

Fake news

É também intensa a divulgação de notícias falsas. Uma delas atingiu a candidata à vice-presidência Manuela D’Ávila. Circulou a informação mentirosa de que ela teria participado do ataque à faca contra Bolsonaro, durante comício em Juiz de Fora (MG).

“Levamos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um conjunto de notícias falsas, fake news, que tiveram amplificação muito veloz nas redes sociais. Provavelmente foram financiadas”, disse, em entrevista à Jovem Pan.

“Sabemos que uma publicação não vai de mil compartilhamentos para 19 mil em dez minutos, como vi acontecer. Trata-se de uma notícia falsa, como diversas, mas com um caráter muito mais grave. Ela diz de forma direta que eu havia monitorado os passos do sujeito que esfaqueou Jair Bolsonaro. No mesmo momento ele disse que é vítima de um crime político e que ‘sabe’ que a Polícia Federal quer abafar o crime. Ele cria um ambiente de altíssima intensidade de raiva contra mim”, completou. Manuela pediu para o TSE a retirada das publicações falsas, que esclareçam quem publicou, se há financiamento, e que forneçam segurança a ela.

reproduçãoproposta fake bolso
FAKE NEWS: Atribuem a Bolsonaro proposta (deturpada) de Haddad, que prevê progressividade a partir do valor dito

As fake news relacionadas ao militar reformado perpassam diferentes temas. É possível citar, como exemplo, uma notícia falsa que circula via WhattsApp sobre a proposta do candidato para o Imposto de Renda. Depois de o economista do candidato revelar a proposta de Bolsonaro para o imposto, que prevê aumentar a cobrança dos mais pobres e diminuir dos mais ricos, começou a ser divulgada uma tabela que, na verdade, traz parte da proposta do candidato do PT, Fernando Haddad, de forma deturpada, já que o petista prevê progressividade a partir da isenção dos cinco salários mínimos, como se fosse de Bolsonaro.

Hackers censores

Hackers que defendem o candidato atacaram e derrubaram o site do manifesto #DemocraciaSim. O movimento reuniu um grupo amplo de acadêmicos, empresários e artistas “diante da grave ameaça à democracia representada pela possível eleição do candidato Jair Bolsonaro”, como afirmam seus organizadores.

Em dois dias, o documento alcançou 200 mil adesões. “Em um primeiro momento, a campanha de Bolsonaro decidiu menosprezar o movimento, atacando alguns de seus signatários”, continua a organização. Na sequência, o site “foi atacado na tentativa de interromper a expansão do movimento e o volume de apoiadores.”

O grupo de signatários informa que “a truculência e a opção pelo uso de meios ilegais a fim de cercear o direito à manifestação cidadã apenas reforçam a profunda preocupação quanto ao risco que a chegada desse grupo ao poder representaria às práticas e valores democráticos”.