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Em programa de governo, Boulos destaca combate à ‘Disneylândia financeira’

Candidato à Presidência pelo Psol lança em São Paulo 'livro de receitas' para popularizar propostas: 'a esquerda muitas vezes erra ao falar coisas importantes numa linguagem que só ela entende'

Eduardo Maretti/RBA

Boulos: “Tenho ao meu lado com muito orgulho a primeira indígena numa chapa presidencial na história do país”

São Paulo – O candidato à Presidência da República pelo Psol, Guilherme Boulos, lançou na noite de ontem (13), em São Paulo, uma versão resumida, metafórica e bem-humorada de seu plano de governo, 50 Receitas de Boulos para Mudar o Brasil, publicada no formato de um livro de receitas. O evento foi no Espaço Cultural Lélia Abramo, região dos Jardins.

“Fizemos um programa a várias mãos, construído com mais de 3 mil contribuições na plataforma virtual e debates em todas as capitais. Mais de duzentas pessoas contribuíram nos grupos de trabalho e o programa é reconhecido  como o mais completo e contundente”, disse Boulos.

A ideia do “livro de receitas” tem o objetivo de simplificar as propostas. “A esquerda, muitas vezes, erra ao falar coisas importantes numa linguagem que só ela entende. Nosso programa fala em linguagem popular e usa a metáfora de receitas para trabalhar uma popularização do conteúdo.”

Um dos pontos que destacou do programa de governo do Psol é a necessidade de enfrentar o sistema financeiro do país. “O Brasil é uma Disneylândia financeira”, disse. “O Estado pode regular isso, desde que tenha coragem para enfrentar o interesse dos grandes bancos. Em relação à escorchante taxa de juros que cada cidadão brasileiro paga hoje, uma das maiores do mundo, vamos usar os bancos públicos para reduzir os juros de mercado. Se a Caixa (Econômica Federal) e o Banco do Brasil baixam os juros, os bancos privados vão ter que vir atrás.”

Ao lado da candidata a vice, Sônia Guajajara, Boulos afirmou que a chapa tem o caráter histórico de representar os povos esquecidos. “Nosso lado é o dos povos indígenas, da demarcação de terras, da agricultura familiar. Sônia traz esse debate de forma viva e efetiva. Tenho ao meu lado com muito orgulho a primeira indígena numa chapa presidencial na história do país.”

Ele afirmou que a candidatura do Psol tem compromisso com a demarcação das terras indígenas e quilombolas e com uma reforma agrária agroecológica. Segundo Boulos, há um equívoco na ideia de que o agronegócio sustenta o Brasil. “Não é verdade. É o Brasil que sustenta o agronegócio, com subsídios e desonerações de todo tipo. Com a gente não vai ter agrotóxico e transgênico envenenando a nossa comida. No nosso governo, o agronegócio não vai mandar.”

O programa de governo do Psol, segundo o candidato, contempla uma realidade que já existe no país, ao contrário do que dizem os defensores do agronegócio. Hoje, 70% da comida que chega à mesa dos brasileiros vem da agricultura familiar. “É ela que tem que ter crédito público.”

Questionado sobre “de que lado vai ficar”, se não chegar ao segundo turno, respondeu que sua posição é conhecida. “Sempre tive lado, não só nessa campanha. Estive enfrentando o golpe parlamentar nas ruas. Estive enfrentando a agenda do Temer. Esse é o lado em que eu estou na campanha, e o lado em que estarei no segundo turno. E após a campanha.”

Defendeu a tese de seus militantes e eleitores, segundo a qual o primeiro turno é momento de “votar naquilo em que se acredita e afirmar um projeto novo para o país”. A candidatura com Sônia Guajajara “está plantando sementes para o futuro”, disse.

Voltou a manifestar “respeito por Lula, pela trajetória e liderança política dele”. “Estivemos de maneira muito firme contra sua prisão, nas lutas em defesa da democracia no Brasil por entender que é uma prisão política.” Porém, ressalvou: “Também existem diferenças que sempre coloquei de maneira transparente para ele. Uma dessas diferenças tem a ver com a questão das alianças”.

Ele criticou a política tradicional, pela qual são feitos acordos que “negociam princípios e trocam voto no parlamento por cargo em ministério, porque esse ‘toma lá, dá cá’ gerou uma completa descrença nas pessoas nesse sistema político apodrecido.” Para o candidato do Psol, governar por meio de uma democracia direta, com plebiscitos e referendos, é a alternativa à tradicional política de alianças.

“Governabilidade não pode ser uma relação só entre instituições, mas tem que ser uma relação com a sociedade. No nosso governo, a turma do MDB – Sarney, Renan, Jucá –, que entra governo, sai governo, está sempre lá, com a gente vai estar pela primeira vez na oposição.”

Boulos comentou ainda o fator Bolsonaro. “O que está acontecendo é grave, a democracia sendo destroçada a cada dia, sofrendo sucessivos golpes. A violência e o ódio tomando o lugar do debate político. Condenamos o ataque ao Bolsonaro, da mesma forma que condenamos as posições de extrema-direita, as posições do fascismo que Bolsonaro representa na política. Não vai se enfrentar isso com violência, mas com debate político. É isso que nossa candidatura tem feito.”

Mulheres

À RBA, Sônia Guajajara afirmou que ela e Boulos representam “uma candidatura necessária e urgente para uma alternativa, nesse momento tão conturbado”. Sobre a conjuntura tensa do país, ela se declara otimista. “Porque somos de luta, de movimento, e nossa história sempre foi travada na luta. A gente tem que acreditar que é possível construir algo de forma coletiva, e estamos nesse rumo”.

Para ela, o movimento Mulheres contra Bolsonaro é “providencial e oportuno”. cA gente tem que se movimentar muito mais. Precisamos de mais grupos ainda para se posicionar contra Bolsonaro.”

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