'De mal' a pior

Alckmin diz que Temer não tem legitimidade, mas apoia ações do governo

Empacado nas pesquisas, candidato tucano defendeu cortes, reformas e 'enxugamento'; disse que Temer está 'de mal' com ele e negou que esteja atacando Bolsonaro: 'É ele que fala'

Reprodução/TV Faap

Para o tucano Geraldo Alckmin, cortar gastos no governo “é que nem cortar unha, é toda semana”

São Paulo – O ex-governador e candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, disse que Temer “está de mal” com ele. “O problema do governo Temer não são os ministros, é o presidente, que não tem a liderança que precisa ter, nem a legitimidade”, afirmou o tucano. Contudo, destacou que o seu partido foi “o que mais votou” medidas do atual governo recordista em impopularidade, como a dita “reforma” trabalhista, que tem contribuído para o crescimento da precarização e informalidade, e a reforma do ensino médio, contestada por estudantes e educadores.

Durante sabatina com presidenciáveis promovida pelo jornal O Estado de S. Paulo, em parceria com a Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), Alckmin não rebateu diretamente ataques de Temer, que divulgou vídeo nesta quarta-feira (5), em que acusa o tucano de dizer “falsidades” contra o seu governo, e também na manhã de hoje. Parado nas pesquisas com apenas um dígito nas intenções de voto, Alckmin afirmou que que a disputa eleitoral “mal começou”, e disse que a campanha começa “pra valer” depois das paradas militares do feriado da Independência, nesta sexta-feira (7). 

“A reforma trabalhista, que foi uma reforma importante, foi encaminhada pelo Congresso desse tamanhinho, uma coisa limitadíssima. Foi a Câmara dos Deputados que fez uma reforma para valer”, frisou Alckmin, para destacar a capacidade de mobilização dos partidos de direita e centro-direita que o apoiam, o chamado “centrão”. “O problema do futuro é o emprego. A reforma trabalhista é para estimular o emprego.” 

Para justificar o apoio dos partidos, muitos deles envolvidos em denúncias corrupção, Alckmin destacou a aliança com o “centrão” como necessária para fazer “as reformas política, tributária, previdenciária e reforma de Estado”. “Se nós não fizermos reforma, o Brasil não vai mudar. Para mudar, precisa ter reforma. Para ter reforma, precisa ter maioria. Ou vamos ficar do jeito que está”, tentou se explicar.

Ele afirmou que “muita gente está votando” no candidato Jair Bolsonaro (PSL) pelo discurso antipetista do capitão reformado, mas que ele representaria o “passaporte para a volta do PT”. Alckmin disse ainda que Bolsonaro é “uma candidatura fraquíssima” e negou que esteja usando o seu tempo do horário eleitoral para atacar o candidato da extrema-direita, com cenas que mostram o deputado atacando uma jornalista e a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). “Não faço um ataque ao Bolsonaro, é ele que fala. Se o que ele fala é ofensivo, é problema dele. Foi ele que falou, não falei nada. Não fizemos um comentário, só pegamos o que ele fala, defende, o que acredita, e pusemos para a população saber.”

Sobre as suas propostas para a economia, Alckmin prometeu “cortar, cortar, cortar”. “Vamos fazer um enxugamento para valer”, afirmou o candidato, tirando risos da plateia. Segundo o tucano, cortar gastos no governo “é que nem cortar unha, é toda semana. É uma tarefa infinita”. Ele disse que, se eleito, não vai privatizar o Banco do Brasil e a Petrobras, mas espantou-se com as 146 estatais federais, sem detalhar quais seriam alvo. Além dos cortes, ele também prometeu “reduzir o imposto corporativo das empresas”. 

Em ato falho sobre a Petrobras, Alckmin disse “que nós vamos privatizar é a prospecção em águas profundas, que é o que a Petrobras sabe fazer. Não vou trocar monopólio estatal por monopólio privado. O que vamos quebrar é o monopólio”. Mais à frente, se explicou: “Pretendo quebrar o monopólio do refino, trazer iniciativa privada para privatizar distribuição e ficar na prospecção em águas profundas.”

Segundo ele, o ex-presidente da Petrobras Pedro Parente, que pediu demissão durante a greve dos caminhoneiros, “é inteligente, um grande gestor”. “Por que a Petrobras não amplia o refino? Porque não tem dinheiro para tudo, quebrou. O que fez a Petrobras? Se estou com uma empresa em dificuldade, vou correr para aquilo que dá mais resultado. O pré-sal, óbvio.” Ele destacou ainda que o pré-sal é um “espetáculo”, com crescimento da produção de petróleo em torno de 40% ao ano. 

“Hoje nós exportamos o petróleo bruto e volta derivado de petróleo. Estamos perdendo o frete, o custo do refino, emprego e investimento no Brasil”, disse Alckmin. O que não disse é que a redução na produção das refinarias foi decisão de Parente para abrir o mercado para as importações, um dos fatores da subida do preço do diesel, que causou a greve dos caminhoneiros.

Confira a íntegra da sabatina Estadão/Faap: