Eleições 2018

Na Globo, Bolsonaro foge de perguntas, nega o que disse e parte para o ataque

Em segunda entrevista do 'Jornal Nacional' com alguns dos candidatos, Jair Bolsonaro se esquiva, nega pregar homofobia, defende armas e 'mais violência'. 'JN' não pergunta sobre ações no STF

Reprodução

“O policial, se mata dez, 20 ou 30, ele deve ser condecorado”, disse candidato do PSL no Jornal Nacional

São Paulo – Na segunda entrevista realizada com alguns dos candidatos à presidência da República em série iniciada na segunda-feira, com Ciro Gomes (PDT), o Jornal Nacional recebeu Jair Bolsonaro (PSL) nesta terça (28). Fiel ao seu estilo, ao ser questionado em pontos polêmicos procurou falar mais alto e deixou de responder objetivamente a maioria das questões dos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos. 

Foi perguntado sobre por que se julga o novo, se atua há 27 anos e fez da politica uma profissão. Respondeu que sua família é “limpa”, nunca teve um cargo em governos e sempre se valeu do que conquistou em seus mandatos. 

Sobre questões trabalhistas, tentou explicar por que votou contra a PEC dos trabalhadores domésticos e justificou: “(A PEC) levou milhões para ser diaristas, e não recolhem sequer para a Previdência. Muitas mulheres perderam emprego por causa de excesso de direito”. Segundo ele, as pessoas que dormiam na casa dos patrões “perderam o café da manhã e o pernoite”. 

Ao ser questionado a respeito dos direitos trabalhistas, disse que os empregadores “têm dito que um dia o trabalhador vai ter que decidir entre todos os direitos e menos emprego ou menos direitos e mais emprego”. A respeito de quais direitos estaria disposto a retirar, saiu pela tangente: “quem tira direito é a Câmara  e o Senado”. Acrescentou: “O salário é muito para quem paga e pouco pra quem recebe. Não jogue a responsabilidade sobre um candidato”. 

Ele tentou negar uma afirmação na qual defendeu que, se fosse patrão, não empregaria mulheres com mesmo salário dos homens. “Ouviu ou leu onde?”, devolveu à apresentadora Renata. “Ouvi e li”, retrucou a jornalista. Depois, ainda questionado sobre o tema, o candidato afirmou que “na CLT já se garante isso (igualdade). Por que o Ministério Público do Trabalho não age? Isso está na CLT”, repetiu.  

Nas redes sociais, telespectadores acusaram a Globo de “levantar a bola” para o candidato e de dar “palco” para ele discorrer sobre “as maluquices” que gosta de falar. A jornalista Helena Chagas escreveu em seu perfil: “É impressão minha ou o JN não está taaaaaaão agressivo com o Bolsonaro?” 

No entanto, além de ser questionado sobre sua posição contra a classe trabalhadora, também foi perguntado sobre receber auxílio-moradia, preconceito contra LGBTs, por estimular a violência e outros temas. Mas usou sempre o recurso de desviar o foco das questões ou partir para o ataque.

Disse que não tem preconceito contra LGBTs, e que seu intuito é “defender as crianças”. Repisou a questão do kit gay. “Um pai não quer chegar em casa e ver um filho brincar com boneca por influência em sala de aula”, respondeu, após ouvir a pergunta sobre seu preconceito e sua frase segundo a qual “seria incapaz de amar um filho homossexual” e que preferiria que um filho morresse do que aparecer “com um bigodudo por aí”.

Sobre sua proposta de militarizar a sociedade e combater a violência com mais violência, respondeu: “mais violência é se o bandido tem uma.762 (ponto 762, um fuzil), o policial também tem que ter. Se (o bandido) tem uma.50 (ponto 50), o policial tem que ter um tanque. Não pode (o bandido) ser tratado como um ser humano normal. O policial, se mata 10, 20 ou 30, ele deve ser condecorado. Vai dar florzinha pra ele? Tem que atirar”, pregou.

Ao colocar a questão sobre a democracia e o fato de o candidato a vice de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, ter defendido que os poderes “têm que buscar solução” para situação de caos, William Bonner teve que ouvir o candidato, mais uma vez, lembrar que o todo-poderoso Roberto Marinho, mandatário da Globo até sua morte, em 2003, defendeu a ditadura em editorial de outubro de 1984. “Deixe os historiadores pra lá”, disse Bolsonaro. 

Ao se despedir, afirmou que “dois partidos (PT e PSDB) mergulharam o Brasil na mais profunda crise ética e moral” e acrescentou: “Precisamos eleger um presidente honesto que tenha Deus no coração”. 

Os entrevistadores da Globo não perguntaram sobre o fato de o candidato ser réu em duas ações penais no Supremo Tribunal Federal por declarações de 2014 contra a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). Bolsonaro é réu por injúria e incitação ao estupro.

Bonner e Renata também não se lembraram de que, nesta terça-feira, a Primeira Turma do STF iniciou julgamento em que discute a admissibilidade de mais uma ação contra ele

A Rede Globo já informou que “não vai haver cobertura de campanha” do candidato do PT. O candidato a vice na chapa do ex-presidente Lula, o ex-prefeito Fernando Haddad, não foi convidado. 

O JN dá sequência à série com Geraldo Alckmin (PSDB), nesta quarta (29), e Marina Silva (Rede) na quinta.

Leia também

Últimas notícias