Vigília

Social-democrata alemão visita Lula e vê Brasil como motor da democracia global

Para liderança política Martin Schulz, eleição brasileira é importante para América Latina e o mundo inteiro. Sociólogo português Boaventura de Sousa Santos também visitou ex-presidente

Juca Varella

Com Haddad, Martin Schulz é representante da social-democracia alemã e dos socialistas europeus

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu na tarde desta quinta-feira (30) a visita de Martin Schulz, líder da social-democracia alemã e ex-presidente do Parlamento Europeu. Além do alemão, o sociólogo e jurista português Boaventura de Sousa Santos esteve na cela de Lula, na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.

“Cheguei ao Brasil na condição de representante da social-democracia alemã e dos socialistas europeus para cumprimentar uma pessoa com a qual cooperamos durante muito tempo, enquanto ele foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos (de São Bernardo do Campo e Diadema, atual sindicato do ABC), presidente do PT e presidente da República. Visitei o ex-presidente Lula na prisão e encontrei uma pessoa muito corajosa, muito combativa”, disse Schulz.

Ele afirmou acreditar que as eleições de outubro “se revestirão de importância imensa” não apenas para o Brasil e a América Latina, mas para o mundo inteiro.

O líder alemão caracteriza a atual situação política como “muito peculiar”, pois, para ele, não só o Brasil, mas o mundo deixou de incentivar o multilateralismo e a democratização defendidas pelos governos Lula e Dilma Rousseff. “As eleições do Brasil têm importância grande, também, porque a questão que se coloca é a seguinte: será que é possível o Brasil de novo ser um motor da democratização do mundo?”

Segundo ele, “o PT, Lula e a esquerda brasileira simbolizam a cooperação internacional em torno dos direitos humanos e fundamentais. “Por isso estou aqui para expressar solidariedade.”

Schulz declarou que, como ator importante na política internacional, o Brasil “está muito bem avisado” sobre a decisão do Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas determinando que o país respeite os direitos políticos de Lula. “Não estou aqui para proferir juízo sobre a Justiça brasileira, mas nenhum poder deste mundo poderá impedir-me de confiar num homem com quem cooperei durante muitos anos e em quem continuo confiando.”

Inspiração

Juca Verella
Boaventura de Sousa Santos, ao lado de Gleisi: ‘Este homem merece que continuem a lutar. É o país que está a rejuvenescer, a perder o medo e ganhar a esperança. Aqui, a partir de uma cela, foi a grande lição que Lula me deu nesta tarde’

Boaventura de Sousa Santos disse ter saído da reunião com Lula “absolutamente inspirado”. “Essa é a sua grandeza: a grandeza de um homem que sabe inspirar um país e todos aqueles que o visitam. Ele está forte, a pensar o país, e influencia o país de dentro de uma cela. Não é o Lula pessoa, mas o Lula ideia, uma ideia de país com esperança numa sociedade mais inclusiva.”

O sociólogo lusitano acrescentou que gostaria de enviar uma mensagem aos militantes dos movimentos sociais, dos partidos de esquerda, sobretudo os mais jovens: “vocês têm aqui uma pessoa que não podem desmerecer. Este homem merece que continuem a lutar, porque ele está aqui a lutar nas piores condições. É o país que está a rejuvenescer, a perder o medo e ganhar a esperança. Aqui, a partir de uma cela, foi a grande lição que Lula me deu nesta tarde”, disse.

Ao lado de Martin Schulz, o candidato a vice na chapa de Lula, Fernando Haddad, também mencionou a decisão da ONU. “A manifestação deflagrou um processo que já acontecia no âmbito internacional, mas com uma onda muito mais vigorosa”, afirmou.

“As pessoas que acompanham o Brasil e conhecem Lula já se sensibilizavam com a situação, mas, depois da chancela do comitê, esse processo ganhou um volume e uma legitimidade muito maior.” Esse movimento tende a crescer, sobretudo se as autoridades brasileiras desrespeitarem a determinação, acredita Haddad.

O ex-prefeito paulistano lembrou que as normas que basearam a manifestação das Nações Unidas fazem parte de um tratado aprovado no Congresso Nacional brasileiro que, portanto, tem força de lei.

Ao lado de Boaventura, a presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), foi questionada por jornalistas se o partido tem um plano B para a campanha televisiva, no caso de o Tribunal Superior Eleitoral vetar a participação de Lula. “Não conhecemos a pauta de amanhã. Acredito que o TSE, pelo modo como vem agindo, não vai desrespeitar os procedimentos”, respondeu.

O horário eleitoral  começa nesta sexta-feira (31). A presidenta do TSE, ministra Rosa Weber, marcou para o mesmo dia uma sessão extraordinária do tribunal. 

O TSE divulgou, à tarde, a pauta da sessão, na qual constam processos sobre registros de candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) e José Maria Eymael (DC), mas nada há sobre Lula. Porém, o tribunal ressalva que “a pauta está sujeita a alterações”.

Segundo Gleisi, o processo sobre o PT não está pronto para ir a julgamento, pois precisa das alegações finais. Hoje (30) foi o último dia para a defesa de Lula se manifestar nos 16 processos contra Lula apresentados ao TSE.

 

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