Eleições 2018

Duelo entre Pimentel e Anastasia marca primeiro debate para o governo de Minas

Com momentos de constrangimento para os principais candidatos, propostas apresentadas para os problemas do estado foram apenas genéricas, sendo a maior parte delas relacionadas às contas públicas

© Divulgação BandTV

Antonio Anastasia (PSDB), Fernando Pimentel (PT) e Mario Lacerda (PSB), no primeiro debate na TV entre candidatos ao governo de Minas Gerais: troca de farpas e poucas propostas

Belo Horizonte – O debate na noite desta quinta-feira (16) entre os candidatos ao governo de Minas Gerais começou com um desconforto explícito no estúdio da TV Bandeirantes, em Belo Horizonte. Lado a lado estavam Antônio Anastasia (PSDB), afilhado político e aliado do senador Aécio Neves, o atual governador Fernando Pimentel (PT), ex-ministro e amigo íntimo da presidenta Dilma Rousseff, e Márcio Lacerda (PSB), ex-prefeito de Belo Horizonte e abençoado tanto pelo PT quanto pelo PSDB em 2008.

Lacerda trava uma disputa judicial para manter sua candidatura, suspensa pelo diretório nacional de seu partido como parte da aliança entre PSB e PT e que muito interessa ao PSDB. Menos tensos estavam João Batista Mares Guia (Rede), Dirlene Marques (Psol) e Claudiney Dulim (Avante), que se uniram a Anastasia nas críticas ao atual governador.

Por um capricho do sorteio, o primeiro embate foi entre rivais históricos, dando a Anastasia a chance de questionar Pimentel sobre o aumento de impostos para mais de 180 produtos, segundo ele. O atual governador negou e aproveitou para reafirmar o rombo no caixa que encontrou, dizendo que “Anastasia conhece bem o governo do estado, pois foi ele que nos deixou de herança um rombo de aproximadamente R$ 7 bilhões, um orçamento camuflado, um estrago deixado pelos governos tucanos que é preciso consertar.”

O duelo entre os dois candidatos marcou todo o debate, com Anastasia explorando ao máximo o ponto fraco do principal adversário, o desgaste com os servidores em função do parcelamento dos salários. Numa atuação considerada por muitos pouco convincente, prometeu reconstruir Minas, ignorando o déficit estrutural gestado ao longo de anos – apontado pelo jornalista Carlos Lindenberg – e o fato de o PSDB ter governado Minas Gerais por 16 anos consecutivos. “Para Minas sair da crise que vive é preciso parcerias com o setor privado. Minas é um estado rico, mas que necessita da vinda de mais empresas. Para isso tem que ter credibilidade e confiança”, disse o tucano.

Pimentel criticou a fragilidade do discurso de Anastasia. “Estamos assistindo a um festival de promessas falsas. Nada será resolvido com essa mágica. Vivemos uma crise estrutural. A previdência pública é um problema para todos os estados. Em Minas, pagamos R$ 22 bilhões por ano aos inativos e arrecadamos apenas R$ 5 bi. Precisamos de uma reforma séria da previdência pública, que não retire direito dos trabalhadores, dos servidores, mas isso não vai acontecer com este governo (federal) que está aí, que deu um golpe de Estado com o apoio do PSDB. Por isso defendo a candidatura do presidente Lula”, afirmou o candidato pelo PT.

Alvo de todos os candidatos, Pimentel utilizou seu tempo para, basicamente, defender sua gestão, denunciar o golpe e reafirmar o direito do ex-presidente Lula de ser candidato. Respondendo a uma pergunta da candidata Dirlene Marques sobre educação, o governador citou o acordo firmado com os professores no início de sua gestão para valorização dos profissionais.

“Aumentamos em 44% o salário dos professores de Minas. Fizemos progressões de carreira. Nomeamos 56 mil professores. Reformamos 1.700 escolas e colocamos internet em 97% delas. Tudo isso dentro de toda essa crise extraordinária.”

Pimentel elencou setores que sua administração teriam avançado mesmo com a escassez de recursos em caixa e atacou as gestões anteriores do PSDB, em especial o senador Aécio Neves que “apoiou o golpe e, agora, se esconde”.

Tucano abatido

Antonio Anastasia foi também criticado por outros candidatos. Sua participação no impeachment de Dilma Rousseff – o tucano foi o relator do processo no Senado, favorável a deposição da presidenta mesmo sem comprovação de crime de responsabilidade – e seu apoio ao governo Temer foram lembrados.

Mares Guia, candidato da Rede, foi o enfático. “Vejo o candidato Anastasia completamente em silêncio diante do seguinte fato: ele foi vital para a cassação da presidente Dilma Rousef, por acusá-la de pedaladas fiscais. Mas ele foi vital com o seu líder, Aécio Neves, e com seu partido, o PSDB, na salvação de Temer, que foi acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha”, relembrou.

Questionado sobre o que o teria levado a disputar o governo de Minas, uma vez que fe declarações publicamente que “em hipótese alguma” deixaria o Senado para se candidatar, Anastasia foi bastante romântico: “a situação de Minas hoje é muito difícil e foi o meu amor a Minas Gerais que me fez candidatar”.

Mares Guia, um dos fundadores do PT em Belo Horizonte e secretário de Educação no mandato do ex-governador Eduardo Azeredo – único tucano preso por caixa 2 –, não poupou os antigos aliados e também disparou contra Pimentel, seu companheiro durante a luta contra a ditadura.

“Pimentel tem dito constantemente que Temer é o quinto cavaleiro do Apocalipse, mas ele foi o vice de Dilma em 2010 e 2014”, criticou, repetindo uma crítica rasa contra as coalizões firmadas pelo PT para aquelas eleições.

Marcio Lacerda, às voltas com uma provável impugnação de sua candidatura, não se destacou no debate nem mesmo quando criticou seus principais adversários e apontou a falta de sinergia entre os governos estadual e federal como um dos maiores entraves para Minas Gerais.

Quando questionado sobre como solucionar a insegurança de motoristas que trafegam pela BR-381, foi genérico. “Esse problema da BR-381 acontece por falta investimento federal. Isso vem com o descrédito que a bancada mineira em Brasília carrega. Temos que nos unir para que Brasília volte a nos respeitar”, disse. 

Poucas propostas

Olhando mais pelo retrovisor do que para frente, os candidatos apresentaram propostas genéricas para os problemas do estado sem detalhar como as colocarão em prática, sendo a maior parte delas relacionadas a sanear as contas públicas.

O candidato da Rede, Mares Guia, prometeu enxugar a máquina para reverter a grave situação econômica do estado. “Se eu for eleito, vou propor o corte de seis secretarias. Vou valorizar a herança boa que receber, mas também acabar com a ruim. Precisamos de uma auditoria completa, pois dinheiro existe.”

Márcio Lacerda afirmou que, dentre medidas que pretende adotar para enfrentar a crise, está a revisão de todas as políticas de isenção fiscal que existem hoje, reavaliando as desonerações existentes – o que não deixa de ser curioso, sendo ele um grande empresário. 

A candidata do Psol centrou-se nas políticas sociais, mas não explicou de onde virão os recursos para o que propõe. “Temos que construir as soluções para os problemas que a população enfrenta. Vamos fazer gestão voltada para o social. Não vamos fazer enxugamento da máquina pública, vamos fortalecê-la para que o sistema produza de forma mais descentralizada”, afirmou.

O atual governador, Fernando Pimentel, propôs a criação de um fundo formado por ativos do estado como forma de superar a crise financeira, mas usou a maior parte do tempo para defender sua gestão e se contrapor às críticas dos demais candidatos. “Escalonar salário não é uma escolha, é uma imposição. Estamos escalonando porque, quando chega o dia do pagamento, não tem dinheiro em caixa.”

Em suas considerações finais, Pimentel homenageou o presidente Lula. “Não tem sido fácil governar Minas, mas o barco mineiro não vai naufragar. Tenho muito orgulho de ser governador. Minas está se saindo muito melhor do que outros estados. Vamos nos livrar dessa crise, do Temer e ter anos felizes pela frente”, encerrando com um “Lula livre!”

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