Eleições 2018

Pré-candidato à Presidência, filho de Jango evoca reformas e projetos interrompidos em 1964

João Vicente Goulart propôs dobrar salário mínimo e taxa de investimento em quatro anos. 'E quem puxa investimento é o Estado', afirmou, durante debate no Sindicato dos Metalúrgicos

Jaélcio Santana

João Vicente Goulart (de blazer e camisa branca, ao centro) com metalúrgicos, falou em ‘revisitação das lutas trabalhistas’

São Paulo – De blazer e camiseta com uma imagem do ex-presidente João Goulart acenando, o pré-candidato do PPL à Presidência da República, João Vicente Goulart, filho de Jango, defendeu nesta sexta-feira (13) uma proposta nacional-desenvolvimentista para o país “e a revisitação das nossas lutas trabalhistas”, por um projeto de nação “livre, soberana e justiça” – interrompido em 1964. Em evento no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, ele lembrou que exatamente ontem completavam-se 56 anos da lei que criou o 13º salário, uma das marcas do governo Jango e que em 1962 foi combatido pelo setor patronal.

“Foi com muita luta, com povo na rua, que esses direitos se conquistaram. São direitos que só podem avançar, não podem retroceder”, afirmou João Vicente, posicionando-se totalmente contrário à lei de “reforma” trabalhista e a qualquer tentativa de alteração nas regras da Previdência. “Vamos rever tudo isso”, disse o pré-candidato. “Para sair do fundo do poço, temos de inverter toda essa política econômica”, acrescentou. “A primeira coisa que temos de fazer é cobrar quem deve”, comentou, referindo-se ao setor previdenciário.

Ainda em relação ao salário mínimo, ele se comprometeu a dobrar o valor em quatro anos, lembrando que seu pai, quando ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, fez isso em 30 dias. E também defendeu dobrar a taxa de investimento em seu eventual mandato. “E quem puxa o investimento é o Estado”, emendou, observando que a atuação do poder público tem capacidade de atrair o setor privado. Para obter recursos, uma medida é “enfrentar o sistema financeiro”.

Outro compromisso perante os sindicalistas foi o de “paralisar completamente” os processos de privatização em curso. Chamou a venda do pré-sal de “crime de lesa-pátria” e defendeu o retorno do monopólio estatal do petróleo. 

Para João Vicente, os chamados ajustes fiscais são “falácias”, sem cortar o que é efetivamente preciso. Ele criticou particularmente o sistema financeiro, afirmando que desde 1995 “os bancos engoliram” o equivalente a um PIB do Brasil. 

O filho de Jango citou vários nomes que compunham o governo Goulart, como Darcy Ribeiro, Celso Furtado, San Tiago Dantas, Evandro Lins e Silva, Waldir Pires e Paulo Freire. “Temos de resgatar”, afirmou João Vicente, para quem o atual Congresso “não representa” o povo brasileiro.

Ele fez referência ao pré-candidato Jair Bolsonaro, dizendo não acreditar que o deputado e ex-militar represente o pensamento da Escola Superior de Guerra, que tem posições nacionalistas. E afirmou que aproximadamente 7 mil militares foram cassados por serem contrários ao golpe em 1964.

João Vicente defendeu a democracia, mas identificou um momento de certo enfraquecimento do sistema. “É um sistema de governo que não existe melhor. Acho que descuidamos da nossa democracia depois de reavê-la.”

O presidente do sindicato e da CNTM, confederação nacional da categoria ligada à Força Sindical, Miguel Torres, disse que o país vive um período de “desencanto” com a política, com a perspectiva de alto índice de abstenção nas eleições de outubro. Segundo ele, Jango foi exemplo de que era possível construir um país melhor “junto com os trabalhadores”. Os metalúrgicos já haviam promovido debates com Ciro Gomes (PDT), Manuela D´Ávila (PCdoB) e Vera Lúcia (PSTU).

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