bastidores

Saída de Parente pode ter se dado por interferência de Moreira Franco

Conversas nos gabinetes dão conta de que presidente da estatal ficou insatisfeito por sofrer pressão direta do ministro de Minas e Energia, em meio ao turbilhão da greve dos caminhoneiros

José Cruz – ABR / Antônio Cruz – ABR

Pedro Parente e Moreira Franco: pressões inevitáveis depois que a política de preços foi rejeitada por greve de caminhoneiros

Brasília – O assunto mais comentado nos bastidores dos gabinetes do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e dos ministérios hoje (1º) foi a avaliação de que a demissão de Pedro Parente da presidência da Petrobras foi consequência direta de críticas feitas internamente à sua conduta e até mesmo à pressão para que alterasse em algum item a política de preços da estatal. Tais pressões vinham sendo feitas nos últimos dias pelo seu chefe mais direto, o ministro de Minas e Energia, Wellington Moreira Franco, o que contribuiu para a decisão de Parente de deixar o cargo.

Entre ministros e parlamentares da base do governo no Congresso, Moreira Franco trabalhava com a possibilidade de mexer no plano instituído para a companhia de forma leve, mas imediata, como forma de negociar com os caminhoneiros. Mas esse tipo de alteração enfrentava resistência por parte de Parente.

O ponto alto do confronto velado terminou sendo declarações dúbias de Moreira Franco e do presidente da República, Michel Temer, de que poderia, sim, haver uma revisão da política de preços dos combustíveis.

O que mais se comentou no Palácio do Planalto e nos gabinetes do Congresso ao longo do dia foi que Parente poderia ficar por mais um tempo no cargo e que sua saída terminou prejudicando ainda mais os rearranjos que estão sendo feitos, no sentido de normalizar a situação no país. Já o ministro Moreira Franco não se posicionou sobre o tema, nem respondeu aos pedidos de entrevista.

Segundo pessoas próximas a Parente, ele teria ficado muito insatisfeito com a  entrevista concedida por Temer à TV Nacional, da EBC, na qual o presidente admitiu poder ser feita uma revisão na política de preços. A entrevista foi avaliada como um sinal de Michel Temer de aval à posição de Moreira Franco. 

No dia seguinte, depois do estrago feito, Temer tentou retificar sua declaração dizendo que tinha se expressado mal, mas já tinha deixado clara a possibilidade de recuo, por parte do governo, na política da Petrobras.

Para piorar ainda mais o quadro, Moreira Franco defendeu, durante debate sobre a questão na Câmara dos Deputados no mesmo dia, a necessidade de ser feita uma mudança no sistema para permitir, ao menos, que houvesse menos indefinição para os consumidores sobre os aumentos dos combustíveis.

“Pedro Parente foi amplamente criticado em todo esse episódio do aumento do óleo diesel e da greve dos caminhoneiros pela população, petroleiros, parlamentares e até integrantes do governo e se manteve firme. Sua saída, a meu ver, foi consequência das demonstrações dúbias do Executivo, avaliou o economista Henrique Nóbrega, professor da Universidade de Brasília (UnB) e analista legislativo do Senado.

Segundo Nóbrega, pesou na saída do executivo da estatal o fato de, em uma hora, defenderam sua gestão e o considerarem insubstituível no cargo e, pouco tempo depois, recuarem e darem a entender que a política da Petrobras será revista”.

O economista é da opinião que, independentemente das críticas feitas à atual gestão da Petrobras e das reclamações de parlamentares de todos os partidos, a saída de Pedro Parente não mudará as regras da estatal a curto prazo.

Até porque as queixas e críticas foram referentes não apenas aos constantes aumentos dos combustíveis, mas também à forma como Temer cedeu às reivindicações dos caminhoneiros e retirou dinheiro de áreas sensíveis para suprir a conta pela redução do preço do diesel. De verbas antes destinadas para saúde, educação e agricultura familiar, entre outros – em vez de permitir que os recursos saíssem da própria estatal.

Caminhoneiros

Quando questionado sobre a situação de Pedro Parente durante entrevista coletiva no início da semana, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que qualquer mudança na Petrobras estava “fora de questão”.

Padilha destacou, na ocasião, que “Parente foi bem escolhido para estar no lugar onde está e tem respondido positivamente nas ações que vem implantando” – numa demonstração de que não contava com a carta de demissão apresentada nesta sexta-feira.

O executivo pediu demissão justamente na data em que completou dois anos como presidente da Petrobras. Parente afirmou, durante a carta entregue ao presidente Michel Temer, que não estava mais vendo sua participação na companhia como positiva. Destacou, ainda, que tal participação não teria mais condições de contribuir para as alternativas que o governo tem pela frente, motivo pelo qual considerou melhor sair do cargo.

No Senado, os parlamentares se preparam para instalar, a partir da próxima semana, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar a política de preços da Petrobras e a gestão da companhia desde 2016.

A CPI teve número de assinaturas maior que o necessário e conta com o apoio de oposicionistas e também integrantes do governo, como os senadores Omar Aziz (PSD-AM), Otto Alencar (PSD-BA), Maria do Carmo (DEM-SE), Eduardo Braga (MDB-AM), Marta Suplicy (MDB-SP) e Roberto Requião (MDB-PR). O requerimento que pediu a criação da comissão teve como autora a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).

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