CORRIDA ELEITORAL

Por alianças, Ciro busca reuniões com caciques do DEM, PSB, SD, PPS e PP

Presidenciável já conversou com Rodrigo Maia e ACM Neto, é visto como uma alternativa pelo vice-presidente do PSB e tem a simpatia de integrantes do SD, mas xadrez político só será fechado em 10 de julho

JAÉLCIO SANTANA/Fotos Públicas

Para viabilizar candidatura, Ciro Gomes busca alianças ao centro e à direita

Brasília – O pré-candidato à Presidência da República pelo PDT Ciro Gomes está fazendo esta semana um périplo por legendas diversas em busca de apoios ao seu nome. Até agora ele não anunciou qualquer aliança, mas conversou anteontem (19) com caciques do DEM, foi elogiado pelo governador de Pernambuco, Paulo Câmara (vice-presidente nacional do PSB), e recebeu demonstrações de simpatia do presidente nacional do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força. 

Visto por muitos da esquerda como uma possível alternativa para um segundo turno das eleições, o ex-ministro passou a ser encarado de outra forma por siglas de outras correntes mais ao centro e à direita.

Por parte do DEM, por exemplo, o ex-ministro já participou de jantares com o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), e com o prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto (ACM Neto). Os que são favoráveis a uma união com o candidato do PDT acham que apesar do seu programa de governo não ter muita compatibilidade com o que querem os integrantes do Democratas, o maior empecilho para uma aliança são as críticas que Ciro fez, ao longo dos anos, aos políticos antigos do partido.

Caso, por exemplo, do ex-senador Antônio Carlos Magalhães, avô de ACM Neto, que quando vivo era chamado de “coronel” pelo pedetista. A aproximação com a nova geração foi vista como um gesto simpático, que pode ajudar a reverter a aversão de alguns grupos dentro da sigla ao seu nome. O prefeito de Salvador, atual presidente nacional do DEM, ainda terá um encontro com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB, para conversa semelhante.

Em relação ao PSB, as tratativas também estão encaminhadas. No entanto, muitos pessebistas trabalham, principalmente em Pernambuco, para repetir a aliança observada em 2002 e em 2006 com o PT. Por outro lado, parlamentares da legenda, em reservado, dizem que o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, tem afirmado que não vê com muito otimismo uma nova aliança com os petistas e que, se dependesse dele, o PSB apoiaria Ciro Gomes.

Já o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, falou sobre a possibilidade de união com Ciro de forma mais tímida, ao mesmo tempo em que elogiou o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem adiantar possíveis resultados. “Estamos discutindo, vendo cenários e avaliando o que é melhor para o Brasil. Para isso vamos ter encontros com o PDT, o PT e qualquer outro partido que apareça”, desconversou.

“O Brasil governado pelo presidente Lula cresceu, gerou emprego, teve um olhar para as regiões, para os estados e foi um grande parceiro de Pernambuco para enfrentar problemas seculares, como a questão da água, do desenvolvimento industrial e da interiorização das universidades. Então a gente tem que reconhecer isso, tem que estar sempre falando porque tem que se inspirar em boas ações para construir um futuro melhor”, acrescentou ainda o governador, que é candidato à reeleição.

Estímulo maior

O presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, outra legenda que tem sido procurada por Ciro Gomes para a formação de uma coligação com partidos do chamado Centrão, disse que os integrantes do SD admitem uma aliança mais adiante e destacou que o entusiasmo que determinados nomes do grupo demonstram ter por Ciro tem sido maior do que outros demonstram por Alckmin.

Ao longo da semana, estão programadas conversas de representantes do PDT, incluindo o próprio Ciro, com integrantes do PPS, PP e PSC, em um xadrez  peculiar que vai definir para qual lado o pêndulo do candidato balançará: se para a possibilidade aventada por grupos de esquerda de abrirem mão de uma candidatura pela dele ou de o apoiarem no segundo turno, ou se para uma posição de centro em contraponto a nomes da direita, como o do candidato Jair Bolsonaro (PSL).

Perguntado a respeito, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, evita se manifestar até que as articulações sejam consolidadas. Recentemente, Lupi disse que considera possível ganhar a eleição “sem o apoio do mercado financeiro”, em uma espécie de resposta a demonstrações de apoio por parte desse setor a Jair Bolsonaro.

“O mercado perde os anéis, mas não os dedos. Ele sabe que com Bolsonaro perde a mão. Ciro tem dito que é melhor diminuir o lucro do que perder completamente, pois o juro real está sufocando a economia”, ressaltou, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

Taxação de grandes fortunas

Enquanto as reuniões não chegam a um desfecho, o candidato do PDT continua com sua trajetória, formada ora por declarações que agradam antigos opositores, ora por momentos de estresse. Entrevistado pelo programa Roda Viva, da TV Cultura, ele criticou rentistas, defendeu taxação das grandes fortunas, sobre a tributação sobre lucros e dividendos e o aumento do imposto sobre as heranças, o que deixou muitos satisfeitos com sua atuação.

Por outro lado, chamou na última semana o vereador de São Paulo Fernando Holiday, do DEM, de “capitãozinho do mato”, pelo fato do integrante do MBL ser contrário ao sistema de cotas nas universidades e às manifestações pela consciência negra.

Anteontem (19), Ciro se retirou abruptamente de um evento com prefeitos, em Minas Gerais, após reclamar que estavam fazendo a ele perguntas repetidas e em função do tempo escasso que ele tinha para se manifestar, de cinco minutos.

Cenas típicas de sua personalidade forte, que levaram à declaração feita em reservado por um pedetista na Câmara dos Deputados, horas depois: “Ciro Gomes está mais forte que nunca, com um programa de governo mais atualizado e boas chances na campanha. Mas na esfera pessoal, embora possa ter mudado um pouco, vez por outra demonstra ser o mesmo Ciro de sempre”.