São Paulo

Quase metade das CPIs da Assembleia Legislativa não apresenta resultados

Levantamento feito pela RBA nas legislaturas atual e anterior (2011-2015) indica que boa parte das comissões é instalada apenas para impedir outras investigações

Mauricio G. de Souza/Alesp

Wellington Moura, presidente da CPI dos Planos de Saúde, admitiu que comissão não chegou a lugar nenhum

São Paulo – Desde 2011, os deputados estaduais paulistas instalaram 36 Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa. Do total, 16 delas não apresentaram nenhum resultado, e oito não tiveram nem sequer reuniões para eleger presidentes ou relatores. Atualmente, há quatro comissões em funcionamento: CPI das Organizações Sociais da Saúde; da Operação Ethos/Condepe; dos Maus-Tratos contra Animais; e da T4F Entretenimento. Esta última teve os membros definidos em 7 de fevereiro, para 90 dias de funcionamento. Vencido o prazo, não realizou nenhuma reunião.

Na 17ª legislatura (2011-2015), os deputados instalaram 17 CPIs. Destas, oito não chegaram a relatório final. Na atual (2015-2019), a situação melhorou um pouco. Foram 23 comissões criadas, oito sem relatório conclusivo. Quatro ainda estão em andamento. Embora 20 comissões, desde 2011, tenham apresentado um documento final, o resultado muitas vezes fica aquém do esperado.

É o caso da CPI dos Planos de Saúde. Criada no final de 2016, só começou a funcionar em março do ano seguinte. Foram realizadas seis reuniões, mas apenas uma oitiva foi feita, com o diretor do Procon de São Paulo, Paulo Miguel. Nenhum representante dos planos de saúde ou de conveniados foi ouvido para prestar informações ou denúncias. Foram marcadas 23 reuniões e realizada apenas seis.

Na ata de discussão do relatório final da CPI, o presidente da comissão, deputado Wellington Moura (PRB), admite que não se chegou a lugar algum, e mesmo assim aprova o documento. “Eu voto favorável ao voto do relator e por uma única questão, o relator não tem culpa do relatório que hoje apresenta. Eu acho que seria injustiça minha não votar a favor dele, e não votar a favor dele não, aliás, do relatório, porque o relator tentou transparecer tudo que foi falado. E o que foi falado? Absolutamente e praticamente nada”, disse Moura, na reunião de 9 de agosto de 2017.

Relação de atas da CPI das Áreas Contaminadas, uma das que acabou sem apresentar qualquer resultado

Também se destacam os objetos de investigação de algumas comissões. Entre as CPIs da 17ª legislatura estão apurações sobre a Cartelização do Mercado de Autopeças de Reposição e do Parcelamento ‘sem juros’. Na atual legislatura, temas como Obesidade Infantil e Automedicação também foram temas de investigação dos parlamentares. Outros temas são recorrentes, como as CPIs da Eletropaulo ou da Energia Elétrica. Desde 2003, o tema é alvo de investigação em todas as legislaturas.

Para a líder do PT na Assembleia Legislativa, deputada Beth Sahão, o objetivo da base de apoio do governo estadual, atualmente chefiado por Márcio França (PSB) após a renúncia de Geraldo Alckmin (PSDB) para disputar a eleição presidencial, é impedir que investigações “de verdade” possam ocorrer.

“Quando chega o dia 15 de março a base do governador já tem dezenas de CPIs protocoladas. E nós temos dificuldade em reunir as assinaturas necessárias. Então, eles boicotam investigações de temas importantes para a população paulista, como os problemas no Metrô, os escândalos de corrupção e as denúncias contra o governador”, afirmou.

Durante 19 anos, a oposição não conseguiu instaurar nem sequer uma CPI. Em 2009, os deputados oposicionistas conseguiram instalar uma comissão para investigar denúncias de fraudes em licitações para a construção de casas pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Mais recentemente, a CPI da Merenda e a atual CPI das OSS são fruto de atuação da oposição. Mas que dependeram de muita mobilização para consegui-las.

“Quando a gente consegue instalar uma CPI, começam as manobras”, relatou Beth Sahão. “Um deputado da base do governo preside a CPI, outro assume a relatoria. Muitas reuniões são canceladas por falta de quórum. Ou são esvaziadas na metade. É uma pressão muito forte”, explicou a deputada. A Assembleia é composta por 94 deputados. Destes, somente 18 são de oposição: 1 do PCdoB, 3 do Psol e 14 do PT. São necessárias 29 assinaturas para requerer uma CPI.

Por meio de nota, o líder do PSDB na Assembleia, deputado Marco Vinholi, negou que exista uma manobra para impedir investigações. “A abertura de CPIs é prerrogativa de cada deputado, não há nenhuma orientação ou manobra para impedir criação ou andamento das Comissões Parlamentares de Inquérito na Assembleia. Elas seguem rigorosamente o Regimento Interno da Casa”.

Confira abaixo a relação das CPIs desde 2011.

CPIs

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