injustiça histórica

Tribunal que julga Lula é farsesco como o de Stálin contra Trótski, diz assessoria

Ex-trotskista, Palocci é associado a método stalinista empregado nos processos de Moscou, usados pelo ex-ditador soviético para perseguir e eliminar adversários

Ricardo Stuckert

Lula e Leonardo Padura em 2015. Livro do escritor cubano sobre perseguição a Trótski inspirou assessoria do ex-presidente.

São Paulo – “Julgamentos sem provas e baseados em delatores é o que se tem visto contra Lula em Curitiba”, disse, em nota, a assessoria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobre supostas acusações do ex-ministro da Fazenda de Lula Antonio Palocci contra o ex-presidente. De acordo com a informação veiculada no jornal O Globo, Palocci firmou acordo de delação premiada com a Polícia Federal.

A assessoria argumenta que possíveis acusações de Palocci seriam fruto da tentativa do ex-ministro de se livrar da prisão. “Declarações autoincriminatórias e sem provas de réus presos por mais de um ano não podem ter valor probatório. São apenas tentativas desesperadas de sair da prisão”, afirma o comunicado. A nota em defesa de Lula começa com expressão retirada do livro O Homem que Amava os Cachorros (Boitempo, 2009), do escritor cubano Leonardo Padura.

A obra de Padura descreve a perseguição do líder soviético Joseph Stálin contra o comandante do Exército Vermelho, intelectual marxista, Leon Trótski. “O texto da nota é inspirado – quase um plágio – do livro do escritor cubano (…) De acordo com a lei brasileira, delações não são provas. Ainda mais quando o delator está preso há mais de um ano, desesperado para sair da cadeia (Moro mandou prender Palocci em setembro de 2016).”

“Liev Davidovitch é o nome de batismo de Trótski”, continua a nota. “Os processos de Moscou foram farsas judiciais conduzidas por Stálin, nas quais presos confessavam crimes e acusavam Trótski de ser inimigo da União Soviética. O principal objetivo era eliminar inimigos políticos de Stálin e manchar a imagem de Trótski. Palocci, ex-trotskista, conhece bem a história de como delatores foram usados pelo Ministério Público da antiga União Soviética para contar as histórias mais fantasiosas contra Trótski.”

A defesa de Lula ainda pondera o peso do legado e da imagem dos comunistas. “Sabe também (Palocci) que a história, mais dia menos dia, reparou e revelou a farsa daquele tribunal.” Por fim, a nota lembra que Lula é um grande fã de Padura e que ambos se encontraram algumas vezes em São Paulo para conversar sobre política e literatura.