Memória

‘Paul Singer foi um sonhador e gestor dos seus sonhos’, diz Berzoini

Ex-ministro destaca 'secretário obstinado' pela economia solidária. Deputada Luiza Erundina também lamenta morte

EBC

Companheiros de governo e militantes lembraram de sua atuação. “Turrão e apaixonado”, definiu Jaques Wagner

São Paulo – O ex-ministro do Trabalho Ricardo Berzoini lembra de Paul Singer, que morreu ontem, aos 86 anos, como um “secretário obstinado” à frente da área da economia solidária no governo. A Secretaria Nacional de Economia Solidária foi criada em 2003, no primeiro ano do governo Lula, com Singer à frente. 

Titular da pasta durante um ano e meio, entre 2004 e 2005, Berzoini destaca a importância de Paul Singer “na formulação de uma política para desenvolver a economia solidária no Brasil e quebrar preconceitos arraigados no setor produtivo em relação a essa modalidade de economia que é tão fundamental para organizar setores da classe trabalhadora que precisam produzir e não se inserem no mercado de trabalho”. Ele cita a contribuição de Singer para a formulação econômica do PT e na gestão de Luiza Erundina na prefeitura de São Paulo (1989-1992), como secretário de Planejamento.

Em rede social, a deputada federal Erundina, hoje no Psol, lamentou a morte “do querido professor Singer”, dizendo-se “particularmente grata a ele”, que como secretário “foi fundamental na concepção e construção do primeiro governo democrático popular da cidade de São Paulo”.

“Foi uma figura extraordinária, que merece ser registrado na história do partido e do país”, afirma Berzoini. “Foi um sonhador, mas ao mesmo tempo um executor e um gestor dos seus sonhos.”

Primeiro ministro do Trabalho na gestão Lula, o ex-governador Jaques Wagner lembrou do “generoso e genial” Singer. “Turrão e apaixonado – como todos os filhos da paixão – na fase atual de ‘financeirização’ do capital, de ‘coisificação’ da vida, perdemos um dos mais brilhantes teóricos da construção de outro mundo possível. Que falta fará!”, afirmou, citando o economista como “dessas pessoas tocadas pelo sofrimento alheio, a quem a injustiça incomodava sobremaneira”.

Outro ex-ministro, Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), lembrou do tempo em que trabalharam juntos no governo Lula. “Era um intelectual muito comprometido com a vida e, principalmente com os pobres. Agora, vamos mantê-lo vivo no coração e na memória.”

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também homenageou Paul Singer. “Militante, professor, nos deu uma grande contribuição sobre o papel da cooperação e da economia solidária. O Brasil perde um intelectual marxista e o MST um grande amigo.”

A presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), lembrou que Singer foi um dos fundadores do partido. “Deixa o exemplo da coerência política, da militância de esquerda, do caráter reto e do intelectual que nunca mudou de lado.”

O jornalista Leonardo Sakamoto contou que teve “a honra de levar uns puxões de orelha” de Paul Singer em sua banca de doutorado, em 2007, “quando me deu uma aula sobre o pensamento de Rosa (Luxemburgo)”. E disse que “por absurda e triste coincidência”, poucos antes da saber da morte, estava consultando um livro de Rosa com apresentação do professor. 

Paul Singer foi referência não apenas intelectual como pessoal para mim e gerações de militantes, economistas e pesquisadores que sonhavam e sonham com um mundo mais justo. Definitivamente, estamos perdendo pessoas fundamentais em uma velocidade muito maior do que o mundo é capaz de repor. Se o país produzir uma geração com metade de sua envergadura intelectual e ética, teremos um futuro bonito pela frente.”

O deputado Ivan Valente (Psol-SP) definiu Singer como “economista da igualdade”, enquanto a deputada estadual e pré-candidata à Presidência Manuela d´Ávila (PCdoB) afirmou que ele deixou “um legado de luta por distribuição de renda e justiça social”.

Há um documentário, Paul Singer: uma história do Brasil, ainda em andamento, com financiamento coletivo. A direção é de Ugo Giorgetti.