Islamofobia

Gleisi dá entrevista a TV árabe e senadora gaúcha associa com terrorismo

Ana Amélia (PP-RS) disse esperar que entrevista não tenha sido pedido para 'exército islâmico' atuar no Brasil. 'Estão confundindo Al Jazeera com Al-Qaeda', rebateu Regina Souza

Jefferson Rudy/Agência Senado

“Só posso reputar isso à ignorância, ao preconceito, à xenofobia contra o povo árabe”, disse Gleisi sobre declarações de Ana Amélia

São Paulo – A presidenta do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), voltou a falar nesta quinta-feira (19) sobre a polêmica envolvendo entrevista dada por ela à TV Al-Jazeera. Em entrevista à rádio CBN de Fortaleza, Gleisi afirmou que as reações da senadora Ana Amélia (PP-RS) e outros parlamentares se devem ao “preconceito” e à “ignorância” em relação ao mundo árabe

“Tenho falado com vários veículos de comunicação para colocar a situação em que o ex-presidente Lula se encontra aqui no Brasil, com veículos internacionais, inclusive. Dei várias entrevistas, para a CNN (norte-americana), a BBC (inglesa), EFE da Espanha, todas com o mesmo conteúdo. E não fui questionada sobre nenhuma. Reputo esse questionamento da senadora do Rio Grande do Sul por conta de ser um veículo do mundo árabe”, explicou a senadora do PT.

Em vídeo veiculado nesta quarta-feira (18) pela Al-Jazeera, Gleisi denunciou ao mundo árabe que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é “um preso político“. Ela também lembrou que Lula “é um grande amigo do mundo árabe”, que tratou de  reforçar os laços culturais e de comércio entre o Brasil e os países árabes, e pediu apoio à campanha pela libertação do líder petista.

A Al-Jazeera é a maior emissora de televisão jornalística do Catar e a mais importante rede de televisão do mundo árabe. Faz transmissões também em inglês, e funciona ainda como agência de notícias internacional, com conteúdo veiculado por outras emissoras, como a norte-americana CNN, entre outras 

A entrevista motivou declarações curiosas no Congresso. Ana Amélia chegou a afirmar que atitude de Gleisi poderia infringir a Lei de Segurança Nacional, e fez menção indireta ao grupo terrorista Estado Islâmico. “Só espero que, dada a gravidade do conteúdo dessa exortação publicada pela TV Al Jazeera, essa convocação ao apoio dos países do mundo árabe não tenha sido também um pedido para que o exército islâmico venha ao Brasil atuar aqui”, disse a parlamentar gaúcha – que é jornalista desde 1970, dirigiu a sucursal da RBS (afiliada da Globo) em Brasília, da qual foi colunista, assim como do jornal Zero Hora, ligado ao grupo.

Gleisi rebateu, e disse que Ana Amélia se incomodava não com o teor da declaração, mas por ter sido feita a um canal de língua árabe. “Só posso reputar isso à ignorância, ao preconceito, à xenofobia contra o povo árabe. Aliás, mais do que isso, chega a ser má-fé, desvio de caráter o que essa senadora – aquela mesma que incentivou a violência contra a caravana do presidente Lula, mandando erguer o relho contra nós todos – em relação ao que está fazendo nas redes sociais.”

José Medeiros (Pode-MT) também chegou a classificar a entrevista de Gleisi como um “recado muito estranho”. Foi a vez de Lindbergh Farias (PT-RJ) se contrapor: “Perdoe a ignorância desse… É muita ignorância”.

Na sequência, a senadora Regina Souza (PT-PI) reiterou: “A Gleisi não incitou nada. Eu acho que há aí ignorância ou má-fé. Estão confundindo Al Jazeera com Al-Qaeda”, ironizou, referindo-se à organização fundamentalista islâmica criada por Osama Bin Laden.

Deformação

Na Câmara, o caso também repercutiu. O deputado federal Major Olímpio (PSL-SP) declarou que Gleisi “agiu de forma incompatível ao decoro parlamentar ao praticar diversos crimes que atentam contra a Soberania Nacional”, devido à entrevista, e no Conselho de Ética do Senado contra a parlamentar. 

Nas redes sociais, chegou a circular versão ainda mais deturpada da história, com alegações de que a senadora teria pedido ajuda a terroristas para libertar Lula.