respeito e solidariedade

​Conselho da Comunidade de Curitiba quer inspecionar carceragens da PF

Entidade formada por representantes da sociedade civil se reuniu com superintendente da PF para saber das condições do ex-presidente, que por sua liderança política e social exige atenção

Ricardo Stuckert

‘A informação é de que ele está bem. Pode receber os médicos dele regularmente e também há médicos à disposição’

São Paulo – O Conselho da Comunidade de Curitiba encaminhou nesta terça-feira (10) pedido de vistoria às carceragens da Superintendência da Polícia Federal, no bairro Santa Cândida, na capital paranaense. O órgão apontou preocupações levantadas nos últimos dias com a integridade física do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Houve de hostilidades a manifestantes apoiadores de Lula por parte de pessoas com acesso ao prédio a áudios de agentes do Estado com ameaças ao petista. “Há preocupação quanto a sua segurança em virtude do cargo político ocupado e da liderança na sociedade civil”, diz a direção do conselho.

A presidente do órgão, Isabel Kugler Mendes, e a coordenadora administrativa Elisabete Subtil de Oliveira ficaram cerca de uma hora reunidos com o diretor executivo da superintendência. “Eles têm consciência da condição de que é uma pessoa especial, sabem que há uma diferença muito grande no tratamento que deve ser dispensado a ele”, afirmou a presidenta do conselho, Isabel Kugler Mendes. Ela relatou ter se reunido por cerca de uma uma hora com o superintendente da Polícia Federal do Paraná, Maurício Leite Valeixo.

Isabel conta que conheceu Lula quando ainda era presidente. “Ele é uma pessoa que respeito, por quem tenho admiração, é muito inteligente. O conselho, que é representado por integrantes da sociedade civil, lembrou às autoridades de Curitiba suas funções primordiais”, disse.

Entre essas atividades, visitar estabelecimentos penais, entrevistar presos, pleitear recursos materiais e humanos para melhorar a assistência ao preso, fomentar a criação de programas de atendimento e a participação da comunidade na execução penal.

Nos últimos dias, em decorrência do mandado de prisão expedido contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o conselho recebeu diversas solicitações de órgãos e entidades sobre as condições de cárcere submetidas ao líder político. “Desta maneira, no uso de suas atribuições legais, com especial fundamento na participação cidadã da nossa Carta Magna, requer acesso à sala de Estado Maior reservada ao ex-presidente e às dependências da carceragem da Polícia Federal (PF), onde se encontram os demais custodiados”, diz o ofício da entidade. O conselho já vinha realizando inspeções mensais ao Complexo Médico Penal, em Pinhais, onde estão detidos outros 14 presos da Operação Lava Jato.

A visita pode ser autorizada, caso Lula queira, explicou Isabel. “Eles ficaram de estudar com atenção nosso pedido de vistoria, que faz parte do nosso trabalho, é uma constante. Mas para ele receber alguém, ele tem de querer.”

Quarta-feira é o único dia de visita geral, familiar. Isabel afirma que, de acordo com a PF, Lula ainda não teria esboçado a intenção de ver ninguém.

“Informaram que ele está tranquilo, calmo. Tem lido muito e tem direito a assistir TV. Mantém contato com seu advogado, o doutor Zanin, que o vê todos os dias e passa a ele o que chega.”

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Superintendência da Polícia Federal em Curitiba

Segurança e saúde

De acordo com Isabel, Lula está seguro e o local onde está é monitorado. “A alimentação dele não é separada, é coletiva, igual para todos. O superintendente relatou que a comida é de boa qualidade e que Lula tem se alimentado bem. Toma muita água e por isso a tem sempre à disposição.”

O espaço de sol para o ex-presidente seria uma sacada segura, grande, mas que ainda não foi utilizada porque ele não quis. Segundo Isabel, ele andará e tomará sol quando manifestar vontade.

Isabel questionou ainda sobre a saúde de Lula. “A informação é de que ele está bem. Pode receber os médicos dele regularmente e também há médicos à disposição imediatamente, caso seja necessário.”

Para a presidenta do conselho, foi uma conversa satisfatória. “Passou segurança em relação à situação do ex-presidente.” Agora, esperam a resposta da Superintendência da PF sobre a visita a Lula. Não há prazo.

Respeito e solidariedade

A advogada também é responsável pela visita ao Complexo Médico Penal, na capital paranaense. Desde 20 de março de 2015, grande parte dos presos da Lava Jato foi transferido para o CMP.

O local é um antigo manicômio judiciário que hoje abriga um hospital e um presídio para 659 pessoas. Lá há uma ala feminina com grávidas e presas que passam por algum tratamento, mulheres juradas de morte. Também as galerias 1 e 2 que abrigam detentos com transtornos mentais. As 3 e 4, de presos com problemas psíquicos causados ou agravados pelo uso abusivo de drogas. A galeria 5 de “presos especiais” como ex-policiais e idosos. E a 6, com os presos da Lava Jato.

Foi a relação entre esses “velhinhos” – que chegam a ter mais de 80 anos, em geral pobres e abandonados pela família – que aproximou Isabel dos presos da mais famosa operação policial do país.

“Você chegava lá, de repente você via um velhinho com uma camisa daquele jacarezinho. Daí a pouco você via ele com um casaco especial. Os ‘lavajatos’ passaram a dividir as roupas deles. E eu passei a respeitá-los mais”, disse a advogada em entrevista ao jornal local Metro.

Isabel recorda que os banheiros só tinham chuveiros frios e nenhum réu de Sérgio Moro fez objeção. “Mas quando os velhinhos entraram, eles [os da Lava Jato] perguntaram: não tem como colocar chuveiro quente? Eles são tão velhinhos…”. O conselho, então, comprou oito duchas “de oitenta a cem reais” e doou à galeria 6, que desfruta de banhos quentes até hoje.