tempestade contínua

Bruno Covas assume a prefeitura de São Paulo. O que esperar do tucano?

O neto de Mário Covas entra no lugar do tucano João Doria que abandonou a cidade para disputar o governo do estado. Bruno afirma ter maior ligação com a social-democracia, mas oposição duvida

heloisa ballarini/secom

Mesmo no dia do abandono, Doria tomou o protagonismo na coletiva: fez campanha e atacou jornalistas

São Paulo – Bruno Covas (PSDB) é o novo prefeito de São Paulo. O tucano assumiu o na sexta-feira (6), em cerimônia fechada, com a cúpula do governo do agora ex-prefeito João Doria (PSDB), que abandonou a cidade para disputar o Executivo estadual. Durante a entrevista coletiva após a transferência do cargo, Covas falou pouco e aparentava estar tranquilo ao lado de seu filho de 12 anos.

Mesmo ao abandonar o cargo, Doria puxou o protagonismo frente aos jornalistas. Fez campanha, mostrou vídeo institucional direcionado às redes sociais e atacou jornalistas, quando questionado sobre a veracidade de um dado apresentado em seu mais novo material de campanha, aonde fala sobre o fim da fila das creches na capital. “Eu não fico disfarçando meus sentimentos (…) da mesma maneira que nós cometemos erros, os jornalistas também”, disse.

Você vai afirmar aqui que a imprensa brasileira nunca falhou, não comete erros e falhas? Não coloca títulos que nada têm a ver com o conteúdo da matéria? Não comete equívocos e muitas vezes não reconhece seus erros?”, disse.

Mais cedo, alguns manifestantes estiveram em frente a Prefeitura e inflaram um boneco do Doria com um grande nariz, em referência ao personagem do folclore infantil Pinóquio, do escritor italiano Carlo Collodi, que a cada mentira vê seu nariz crescer mais. O ex-prefeito não gostou e ordenou que forças policiais retirassem a alegoria. Estava marcado para o dia um carnaval fora de época para dizer adeus ao ex-prefeito, mas o evento foi desmarcado em decorrência da conjuntura política nacional.

Novo prefeito

Neto de um dos maiores nomes da história do PSDB Mário Covas, Bruno é o segundo prefeito mais jovem a assumir o cargo – tem 37 anos. Jânio Quadros o supera quando eleito pela primeira vez,  com 36. Formado em Direito e Economia, Bruno começou sua carreira na Juventude Tucana, que presidiu de  2007 a 2011. Também em 2007, Bruno foi eleito deputado estadual com  votação expressiva, muito em razão da história de sua família.

Nascido em Santos, o tucano vive na política desde muito cedo. Aos 14 anos, morou com o seu avô no Palácio dos Bandeirantes, quando era governador, em 1996. Sua opinião política é mais ligada ao seu avô do que a Doria. “Em função da convivência com ele (Mario Covas), sou social-democrata que entende que o Estado não deve participar de tudo, mas precisa dar atenção máxima à Educação, Saúde e Segurança”, disse em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Doria já tem um perfil mais agressivo neoliberal, defensor do Estado mínimo.

Entretanto, Doria deixou claro que vai cobrar de Bruno a continuidade das políticas do empresário. Junto das cobranças, vêm os escândalos, como o caso de corrupção na Iluminação pública e a recente derrota de Doria diante dos servidores públicos que, incansáveis, derrubaram a proposta tucana de reforma na previdência municipal. “Em relação à Iluminação, apoiamos os órgãos de investigação, total disposição para colaborar com qualquer investigação. Não há compromisso com o erro. Vamos tornar o que já é transparente ainda mais transparente (…) Em relação à reforma, o Executivo fez sua parte, apresentou a proposta (…) agora, o movimento é da Câmara e nós aguardamos”, disse. A proposta deve passar por comissões de estudo na Casa antes de retornar à pauta.

Tempestade sem fim

Antes de ser vice-prefeito, Bruno era deputado federal. Seu mandato era de 2014 até 2018. O tucano, enquanto parlamentar, seguiu a agenda de Michel Temer (MDB). Votou a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) e também a favor da Emenda Constitucional 95, a conhecida PEC do Teto, que limitou os investimentos em áreas essenciais por 20 anos. O tucano também recebeu doações de campanha do engenheiro João Roberto Zaniboni, que foi diretor da CPTM e acusado na Suíça por envolvimento em esquema de desvio de recursos.

O vereador de oposição Toninho Vespoli (Psol) afirmou que seguirá com a mesma postura. “Ele é do PSDB, um neoliberal e a vida regressa dele dá para ter ideia do que ele pretende fazer. Como deputado, seguiu a agenda do Temer. Votou à favor da redução da maioridade penal, da PEC do Teto, a favor do golpe jurídico, político e midiático.”

Como vice-prefeito, avalizou as medidas esdrúxulas do Doria, como a ação totalmente equivocada na Cracolândia, entre inúmeras ações desastrosas. Mais recentemente, depois que Doria foi derrotado pelos servidores municipais, Bruno foi o porta-voz da administração e foi à público com inverdades para tentar colocar a população contra os servidores”, acrescentou Vespoli.

Ele ainda faz uma análise sobre o posicionamento de Bruno. “Apesar de se identificar como social-democrata, na prática não é o que vemos, tanto na relação com os servidores municipais, quanto como sua vida política passada. Sem falar nas questões éticas. Em 2014, nas eleições, um colaborador de Bruno foi flagrado com 102 mil reais em dinheiro, 16 cheques e um cartão da campanha de Bruno. Em 2007, modificou parecer do TCE que indicava irregularidades em uma ação do CDHU, que apontava para superfaturamentos. Portanto, acho que a tempestade por São Paulo ainda não terminou.”