Rumos do país

Soberania nacional e resgate da democracia são os desafios da esquerda hoje

Barão de Itararé reúne representantes de fundações ligadas a PT, PCdoB, Psol e PDT para debater unidade do campo progressista a partir do manifesto Unidade para Reconstruir o Brasil

Ricardo Stuckert

‘Eles querem impor as condições para as eleições. Precisam tirar Lula de cena. Tirar Lula é um segundo golpe’

São Paulo – O manifesto Unidade para Reconstruir o Brasil, a reconquista da democracia e da soberania nacional foram os principais temas de debate promovido na noite de ontem (20) pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em São Paulo. O encontro contou com a participação do economista Marcio Pochmann, do ex-presidente nacional do PCdoB Renato Rabelo, do presidente da Fundação Lauro Campos, Francisvaldo Mendes, e do bacharel em Direito Henrique Matthiesen, além da jornalista Maria Inês Nassif e da ex-presidente da União Nacional dos Estudantes Carina Vitral, que participaram como comentaristas. 

O manifesto, elaborado pelas fundações ligadas a PT, PCdoB, Psol e PDT, foi divulgado no mês passado. Pochmann, representando a Fundação Perseu Abramo (PT), destacou em sua fala o esvaziamento da soberania nacional e dos direitos no Brasil depois do golpe que tirou Dilma Rousseff da presidência da República em 2016. O economista questionou a legitimidade do processo eleitoral de 2018 e disse que o golpe parlamentar “segue em curso”. Como os grupos que se instalaram no poder se negaram a aceitar o resultado eleitoral da última eleição, a própria eleição deste ano corre risco. “Se não aceitaram 2014, por que aceitariam em 2018?”, indagou. 

Para Renato Rabelo (da Fundação Maurício Grabois – PCdoB) a sociedade brasileira vive hoje um “desalento” e a nação “está mais uma vez diante de uma encruzilhada: o país se reencontra com a democracia e soberania ou vamos nos submeter ao neocolonialismo, a esse consórcio que deu o golpe que vende o país aos Estados Unidos e à Europa”.

Rabelo também questionou a legitimidade do pleito que vai escolher um novo presidente da República. “Eles querem impor as condições para as eleições. Precisam tirar Lula de cena. Tirar Lula é um segundo golpe.” Ele pediu mobilização de rua para conter mais essa investida da direita no processo político. “E para fortalecer a resistência é preciso unidade”, defendeu. “Garantir a legitimidade das eleições é garantir a participação de Lula.”

Na opinião de Maria Inês Nassif, “Lula é o único cara capaz de liderar um retorno à democracia, preso ou solto”.

Para Pochmann, os partidos do campo da esquerda ainda não chegaram à necessária união para enfrentar a grave crise institucional do país. “Nossos partidos estão fragmentados em candidatos. A questão é oferecer um programa”, disse.

Na opinião de Henrique Matthiesen, da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini (PDT), os dois grandes desafios da esquerda são a defesa da democracia e a soberania nacional. “A classe dominante não entende o que é a soberania, ela prefere ser subordinada aos interesses internacionais. Defender a soberania é revogar algumas medidas que estão sendo feitas por esse governo”, advogou. “Precisamos recuperar o patrimônio do povo brasileiro.”

Ele acusou a “subalternidade da nossa elite” como o principal problema nacional. “A elite prefere viver na periferia das elites internacionais, enquanto a elite dos Estados Unidos trabalha pelos interesses norte-americanos, e a elite alemã pelos interesses alemães”, disse. 

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Para debatedores, eleição presidencial sem a participação de Lula é a continuidade do golpe de 2016

Quem é violento?

Matthiesen também apontou como falso o estigma propagado pela mídia e setores direitistas de que a esquerda é violenta. “Dizem que a direita brasileira não é violenta, mas ela massacrou os índios, os negros, derrubou Getúlio e Jango. A elite sempre preferiu o atalho para chegar ao poder e impor o poder”, afirmou. “Mataram Marielle, que é vítima da luta de classes. E depois a esquerda é que é radical?”

Francisvaldo Mendes, da Fundação Lauro Campos (Psol), defendeu o “enfrentamento do controle da mídia e um controle popular que possa aplicar a Constituição”. Embora a Constituição Federal de 1988 preveja um sistema de comunicações democrático (aspecto até hoje não regulamentado), “na prática, o que existe, é o oligopólio”, afirmou. Também criticou a dificuldade de unidade entre os diversos setores da esquerda. “Hoje na esquerda o que a gente vê mais são investimentos na divisão.”

Para Maria Inês, o manifesto Unidade para Reconstruir o Brasil “foi a única boa noticia de todas as tentativas que a gente teve desde o golpe para efetivar a resistência”. Ela se disse preocupada com as divergências no campo progressista, mas destacou que “um encontro de convergências das esquerdas pode ser a peça mágica para conseguir uma unidade urgente, apesar dos interesses de cada partido no processo eleitoral”.

Carina Vitral disse que a construção das maiorias políticas no sistema político brasileiro “continua sendo o X da questão”. “Como construir maiorias a partir do rompimento do pacto (com o golpe)?. Como tratar a questão da maioria política?”, questionou. Para ela, porém, “a unidade e o diálogo são possíveis”.

Mais do que tudo, é preciso “dar respostas a essa crise”. “A crise econômica gera uma crise social e isso talvez explique o apelo pela segurança pública. Precisamos dar respostas a essa crise”, disse Carina. 

 

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