Nem da Rocinha: para tirar o poder do tráfico, ‘é só legalizar’
Traficante que comandou a maior favela do Rio de Janeiro diz que os políticos sabem como acabar com a violência, mas políticas sociais não trazem retorno eleitoral imediato
Publicado 14/03/2018 - 16h43
Por duas vezes, tropas federais ocuparam a Rocinha durante a “gestão” de Nem, sem nenhum resultado efetivo
São Paulo – “Os problemas do Rio não se resolvem com Exército ou polícia”, diz o ex-traficante Nem da Rocinha. De um presídio de segurança máxima no meio da Amazônia, ele afirmou ao jornal El País que a intervenção militar no Rio de Janeiro é “eleitoreira” e não vai dar em nada. “Quer tirar todo o poder do traficante? É só legalizar”, afirmou.
Nem comandou a Rocinha de 2004 a 2011, período em que a comunidade viveu tempos tidos como tranquilos, e por isso ainda hoje é reverenciado. Ele percebeu que trocar tiros com a polícia não era bom negócio. Em vez da violência, passou a falar a língua do dinheiro com os policiais.
Na entrevista, publicada hoje (14), ele diz que o Exército também não é incorruptível, e ressaltou que por duas vezes tropas federais ocuparam a Rocinha durante a sua “gestão” à frente dos negócios ilícitos na área da comunidade, sem nenhum resultado concreto.
Além da legalização das drogas, Nem afirma que a classe política sabe como resolver o problema da violência, mas esses mesmos políticos acreditam que, no curto prazo, investimento em educação e políticas sociais não lhes trazem os votos necessários. “A preocupação maior é o mandato, não é resolver nada.”
Em vez disso, adotam o discurso fácil de enfrentamento policial e prometem o endurecimento de penas. Mas, segundo ele, “está mais que provado que nada disso dá resultado”.
Ele também criticou a vista grossa que fazem quando o traficante não vive na favela. “E o helicoca? Quem foi preso? E o filho da desembargadora?”, questiona Nem, fazendo referência a casos que ganharam repercussão por envolver autoridades políticas e do Judiciário.