Luto

Dilma sobre Marielle: ‘Ela lutava por tempos melhores. Devemos persistir nesse caminho’

Presidenta divulga nota de solidariedade às famílias da vereadora do Psol-RJ e do motorista do carro em que ambos foram assassinados em emboscada. Artistas, intelectuais e políticos também se manifestam

arquivo pessoal/facebook – youtube/reprodução

São Paulo – Em nota divulgada na manhã de hoje (15), a presidenta deposta pelo golpe, Dilma Rousseff (PT), mostrou indignação e cobrou apuração sobre a morte da vereadora Marielle Franco (Psol), na noite de ontem, quando ia para sua casa após participar de um evento político, no centro do Rio de Janeiro. “Tristes dias para o país onde uma defensora dos direitos humanos é brutalmente assassinada. Ela lutava por tempos melhores, como todos nós que acreditamos no Brasil. Devemos persistir e resistir nesse caminho”, disse Dilma.

Na emboscada, morreu também o motorista do carro em que a ativista viajava, Anderson Pedro Gomes. Uma assessora foi atingida por estilhaços, mas escapou com vida. Ao menos nove tiros foram disparados contra o veículo, quatro dos quais atingiram Marielle na cabeça. Nenhum objeto foi roubado.

A vereadora, de 38 anos, era socióloga, ativista no movimento negro e feminista. Ela também atuava na comunidade da Maré, onde morava. Há indícios de que a execução da vereadora, a quinta mais votada nas eleições de 2016, pode ter relação com a sua atuação nos bairros da cidade e também com as denúncias que fez sobre violência policial em Acari, especificamente, na última semana.

Leia a nota de Dilma Rousseff:

“Lamento e repudio a morte da ativista Marielle Franco, vereadora pelo PSOL, e de Anderson Pedro Gomes, seu motorista. Um ato covarde praticado contra uma lutadora social incansável. As circunstâncias dessas mortes – baleados dentro do carro, no Centro do Rio –, são absolutamente chocantes e podem indicar que foram executados.

Estou profundamente chocada, estarrecida e indignada. Espero que as investigações apontem os responsáveis por este crime abominável. As mortes violentas de Marielle e de Anderson precisam ser apuradas com o rigor da lei. Tristes dias para o país onde uma defensora dos direitos humanos é brutalmente assassinada.

Ela lutava por tempos melhores, como todos nós que acreditamos no Brasil. Devemos persistir e resistir nesse caminho. Minha solidariedade e votos de pesar às famílias de Marielle e Anderson, seus companheiros e amigos, também aos militantes do PSOL. Suas mortes não serão em vão”.

Dilma Rousseff – Presidenta eleita do Brasil

Círculos

Pelas redes sociais, artistas, políticos, intelectuais e organizações não governamentais também manifestaram suas reações ao assassinato de Marielle. “Das poucas vezes que me falta a voz. Chocada. Horrorizada. Toda morte me mata um pouco. Dessa forma me mata mais. Mulher, negra, lésbica, ativista, defensora dos direitos humanos. Marielle Franco, sua voz ecoará em nós. Gritemos”, publicou a cantora Elza Soares

O ator e escritor Gregório Duvivier pediu reação da sociedade à escalada da violência contra representantes dos movimentos sociais, simbolizada no assassinato da ativista. “Tiraram a vida de Marielle Franco. Assassinaram uma guerreira. Por ser negra, por ser mulher e por ser guerreira. Marielle dedicou sua vida à luta contra a injustiça e a barbárie. Isso não pode ficar assim. Não podemos nos calar!”

Cantora que tem nas periferias seu maior público, Karol Conka também expressou preocupação com a escalada da violência contra os movimentos sociais. “A vereadora Marielle Franco foi executada no Rio, enquanto milhares de brasileiros sonham com a igualdade, segurança e empatia. Que sua alma encontre a luz e que a força cresça dentro de cada um de nós pois, vivemos num mundo adoecido e não será fácil concluir nossas missões!

Deputado estadual do Rio de Janeiro e colega de partido, Marcelo Freixo deu tom pessoal à sua mensagem de pesar. “Mais do que uma guerreira, feminista e defensora de Direitos Humanos, Mari era uma amiga, companheira com quem dividíamos o cotidiano, nossas vidas, esperanças, angústias, sonhos. Por isso, viva Marielle Franco! Marielle Franco, PRESENTE!”

A feminista, ativista do movimento negro e mestra em filosofia política Djamila Ribeiro, mostrou disposição para seguir em luta como Marielle. “Estou sem palavras hoje, meu peito dói, não consegui dormir, estou cansada de ver a gente ser escudo. Hoje vivo o luto. Mas, por tudo o que fizestes, seguiremos. Marielle, presente!” 

Por sua vez, a filósofa Marcia Tiburi externou repúdio à violência crescente no país, em especial contra as populações vulneráveis.  “O assassinato de Marielle Franco significa matar muita, mas muita coisa em nós. É uma morte aviltante de alto impacto simbólico que cancela a vida de uma guerreira admirável, aquela pessoa que a gente queria ver na política, em todos os lugares, o tempo todo. (..) Ela é escolhida nesse momento pelo sistema de opressão para confirmar o genocídio do povo negro. Para silenciar quanto ao lugar das mulheres negras na política. Marielle Franco fazia desse mundo um lugar menos horrível. O Rio de Janeiro nesse momento dá a prova do pior dos horrores de uma política genocida.”