Razão verdadeira

‘O golpe queria enquadrar o Brasil geopoliticamente’, afirma Dilma

Ex-presidenta debateu com lideranças sindicais e políticas da América do Sul e da Europa. 'A terceira fase do golpe é crucial para entregar a Petrobras às petrolíferas internacionais', apontou

Claudio Fachel/Frente Brasil Popular

Dilma avalia que impeachment foi apenas o “ato inaugural” da ruptura democrática, que precisa condenar Lula para continuar

São Paulo – Ovacionada aos gritos de “presidenta eleita do Brasil”, Dilma Rousseff encerrou o encontro “Diálogos Internacionais sobre a Democracia”, nesta segunda-feira (22), em Porto Alegre, afirmando ser “especial” o atual momento de julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O golpe não é o impeachment, o impeachment é o ato inaugural do golpe”, afirmou, recordando o passo a passo da acusação fiscal que a tirou da presidência da República. “Utiliza-se isso, criminaliza e está feito o impeachment sem responsabilidade.”

Segundo Dilma, o julgamento de Lula é a terceira fase da ruptura democrática, considerando que a segunda foi a implementação de uma agenda liberal derrotada em quatro eleições sucessivas, e que agora desconstruiu as leis trabalhistas, desmontou a regulação do mercado de trabalho e quer acabar com a previdência pública. “Todo esse processo é impensável pelo escrutínio das urnas, tais propostas nunca teriam aprovação”, afirmou. “É isso que o golpe queria, enquadrar o Brasil geopoliticamente.”

Na sua avaliação, o golpe não tem candidato para enfrentar o ex-presidente nas urnas, mas ainda assim precisa continuar em sua terceira fase, que será a entrega da Petrobras para as grandes petrolíferas internacionais se apoderarem da riqueza nacional. “Por isso, é preciso condenar Lula.”

A presidenta reeleita em 2014 com 54 milhões de votos lembrou das sugestões que ouvia, no auge da crise do seu governo, para que renunciasse. O gesto era apontado por alguns como algo em benefício do país, um argumento que ela disse nunca ter aceitado por entender que, na prática, serviria apenas para legitimar a ruptura democrática que estava em curso. Para Dilma, há paralelo com o que acontece agora, quando alguns defendem que o PT deve pensar num “plano B”, na hipótese de Lula não poder ser candidato. “Não acho isso correto”, afirmou, explicando que aceitar tal hipótese é novamente legitimar um processo jurídico repleto de erros.

Para a petista, o roteiro do que está acontecendo no país fez com que o “fogo amigo” da mídia e do Judiciário atingisse as principais lideranças conservadoras do Brasil e a consequência da deterioração do centro político conservador criou espaço para o surgimento do Movimento Brasil Livre (MBL), Vem pra Rua, Revoltados Online, entre outros, além do fortalecimento da extrema-direita.

“Temos a chance, em 2018, de iniciar o processo do Brasil se encontrar consigo mesmo, desde que a eleição não leve a qualquer tentativa de ganhar no ‘tapetão’”, afirmou Dilma. “Temos que construir o nosso futuro e, sobretudo, um país que respeite a democracia e a sua população.”

 

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