Toma lá, dá cá

Temer usa liberação de recursos aos estados para barganhar reforma da Previdência

Ministro Carlos Marun afirmou que o Planalto espera 'reciprocidade' para liberar empréstimos de bancos públicos, e sugeriu que os insatisfeitos poderiam 'pedir financiamento no Bradesco'

Segov

Amigo de deputado cassado Eduardo Cunha, Marun foi nomeado ministro da Secretaria de Governo de Temer

São Paulo – O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, confirmou nesta terça-feira (26) que o governo Temer tem se utilizado da liberação de recursos para pressionar governadores a apoiarem a proposta do governo de reforma da Previdência, que pretende restringir o acesso à aposentadoria. 

“Realmente o governo espera daqueles governadores que têm recursos a serem liberados, financiamentos a serem liberados, como de resto de todos os agentes públicos, reciprocidade no que tange à questão da (reforma da) Previdência”, disse o ministro.

Empréstimos em instituições federais, como Banco do Brasil, Caixa Econômica eBNDES, só seriam liberados a estados e municípios com prefeitos e governadores alinhados com o projeto do governo e que pressionem os deputados federais de seus estados a apoiar a aprovação da PEC 287.

Segundo nota publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo na última semana, o primeiro a sofrer pressão, com o risco de não ter os empréstimos liberados, foi o governador de Sergipe, Jackson Barreto (PMDB), que teria saído reclamando de uma reunião com integrantes da equipe do governo Temer dias antes. 

Marun afirmou ainda que financiamentos de órgãos federais são “ações de governo”, e que aos insatisfeitos com as condições das negociações restaria a alternativa de solicitar os empréstimos a bancos privados. “Financiamentos da Caixa Econômica Federal são ações de governo. Senão, o governador poderia tomar esse financiamento no Bradesco, não sei onde.” 

“Obviamente, se são na Caixa Econômica, no Banco do Brasil, no BNDES, são ações de governo, e nesse sentido entendemos que deve, sim, ser discutida com esses governantes alguma reciprocidade no sentido de que seja aprovada a reforma da Previdência, que é uma questão que entendemos hoje de vida ou morte para o Brasil”, acrescentou o ministro. 

Deputado em primeiro mandato, Marun ficou nacionalmente conhecido no ano passado ao ser o único parlamentar a fazer a defesa pública do então presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante o processo que culminou na sua cassação pelo plenário da Casa.

Em outubro, Marun também dançou na Câmara para comemorar a rejeição da segunda denúncia contra Michel Temer. Ele foi nomeado ministro da Secretaria de Governo no início do mês.