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‘Essa escola é motivo de orgulho para todos nós’

No segundo dia da caravana pelo Espírito Santo e Rio de Janeiro, ex-presidente Lula visita Instituto Federal em Cariacica e encontra exemplos da transformação que a educação traz

ricardo stuckert

Lula em Campos de Goytacazes: manifestação de carinho por quem defende as causas sociais

Campos dos Goytacazes (RJ) – A terceira etapa da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve início ontem (4) em Vitória, chegou na tarde de hoje (5) ao estado do Rio de Janeiro. A primeira cidade visitada é Campos dos Goytacazes, no norte do estado, que servirá de base até amanhã, quando a caravana se desloca para Maricá. Antes disso, Lula visita o pólo avançado do Instituto Federal Fluminense de Campos.

O segundo dia da caravana começou nesta manhã, ainda na capital do Espírito Santo onde, na noite de ontem, Lula participou de um ato na Praça Costa Pereira. Os encontros do ex-presidente com a população seguem efusivos. Os capixabas demonstram a todo tempo carinho com a caravana e repetem palavras de gratidão, especialmente aqueles impactados de alguma forma com as políticas públicas praticadas por governos petistas.

Educação e cidadania

O maior exemplo deste sentimento aconteceu hoje, no campus do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), em Cariacica, cidade da região metropolitana de Vitória, primeira parada da caravana, por volta das 11h. Faltaram cadeiras no grande auditório da escola. Alunos e professores se amontoaram para ver o ex-presidente, entoando, a todo momento, cantos em apoio a Lula.

O campus em questão foi criado durante os 13 anos de gestão petista no âmbito federal. Antes de Lula, eram cinco escolas técnicas federais no estado. Hoje, são 29. Em todo o país, 500 campi de institutos federais, dos 640 existentes, foram criados durante os governos de Lula e Dilma Rousseff.

Além da expansão, os institutos carregam bons resultados. O campus de Cariacica ostenta a terceira posição entre os melhores institutos federais do Brasil. Outro ponto de destaque perceptível na visita ao Ifes é a quantidade de ex-alunos do ensino médio e técnico que se formam e seguem para a graduação dentro da própria instituição. Alguns deles terminam como professores do próprio Ifes. É o caso do diretor-geral do campus Cariacica, Ludovico Faria.

“Essa escola é motivo de orgulho para todos nós. Temos alunos que estudaram no curso técnico, fizeram a graduação, o mestrado e hoje são nossos professores. Essa escola, aonde chega, transforma a vida das pessoas. Eu sou ex-aluno. Nosso instituto tem origem centenária e várias transformações ocorreram. Nosso campus tem 11 anos e hoje somos 88 professores, 1.640 alunos em quatro cursos técnicos, além de três graduações e um mestrado”, disse Ludovico.

Após a fala do diretor-geral, três alunos deixaram mensagens para o ex-presidente, relatando boas experiências e resultados acadêmicos alcançados com auxílio dos professores e da estrutura de laboratórios para pesquisa no instituto. Por sua vez, Lula agradeceu emocionado e afirmou que tal reconhecimento é um verdadeiro “prêmio” para ele.

“Pobre de uma nação que não investe em educação. Pobre de uma nação que coloca a educação na rubrica de gastos e não na de investimentos. Sou oriundo de um curso técnico e, por isso, em uma família de oito pessoas fui o primeiro a ganhar mais que um salário mínimo, a ter uma televisão, a ter uma casa, a ter um carro e a ser presidente da República. Valorizo muito o ensino técnico, porque ele dá uma meia garantia de orientação profissional qualificada para meninos e meninas nesse país”, disse Lula.

O ex-presidente seguiu seu discurso de aproximadamente meia hora com foco na educação. “Quando você tem uma profissão, isso muda sua vida (…) É exatamente a formação profissional que dá a qualquer homem e qualquer mulher a certeza de que ele possa ser cidadão de primeira classe, vai permitir ele escolher o trabalho e, muitas vezes, vai permitir uma negociação do seu salário. Fora disso, somos tratados como jogadores de segunda classe”, disse.

Lula ainda criticou governos anteriores e os fracos investimentos em educação ao longo da história do Brasil. “A elite que governou esse país por 500 anos nunca se importou com a educação do povo. Ela fazia o que era o mínimo para dizer que estava fazendo, mas nunca levou a sério. É indescritível que a Argentina, em 1918, já estava fazendo sua primeira reforma universitária. 58 anos depois do descobrimento, o Peru já tinha a Universidade São Marco. A Colômbia, 1662. Nossa universidade só veio em 1920, 420 anos depois do descobrimento. Isso significa o atraso a qual fomos submetidos”, disse.

O ex-presidente encerrou sua fala dizendo que está em caravana para aprender. “Para entender o que as pessoas estão vendo no Brasil, se estão compreendendo”, disse, ao relatar que tal elite agora retomou o poder a partir de um processo golpista em 2016 que colocou Michel Temer (PMDB) na Presidência.

A preocupação de Lula é, de acordo com suas palavras, com “como a história chega” aos cidadãos. “Antes, diziam que a história era contada por quem vence. Hoje mudou. Quem tem a imprensa na mão conta a história. Por exemplo, a guerra do Vietnã. Os americanos tomaram uma surra, uma derrota que os americanos não esqueceram. Mas para um jovem que não conhece a história, ele pensa que os americanos ganharam, porque eles inventaram um tal de Rambo que sozinho invadiu o Vietnã e matou o exército todo. Transformaram a derrota em vitória”, disse em clara referência ao domínio da superestrutura do capital, tal como descreveu o economista e filósofo alemão Karl Marx (1818-1883).

Crise

Em Campos dos Goytacazes, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) recebeu a caravana do ex-presidente. “Viemos dar um abraço no Lula e dizer que ele vai ser muito bem-recebido em todo o estado do Rio de Janeiro. Foi o presidente que mais fez pelo estado. Eles estão desesperados, pois acharam que iam afastar a Dilma, iam se juntar com a Globo e o Sergio Moro e acharam que isso ia parar o Lula. Pisam no PT e sabe o que acontece? Sobe Lula!”, disse.

“Só o Lula para tirar o estado dessa crise, porque já fez. Estamos ao lado da bacia de Campos e aqui ao lado, em Macaé, tem a cidade com o maior número de desempregados. Isso porque a Petrobras investia R$ 45 bilhões por ano com Lula. Agora investe apenas R$ 15 bilhões. Quando Lula foi eleito em 2002 ele disse que ia fabricar navios, sondas e plataformas. Agora, o Temer acabou com a política de conteúdo regional”, completou.

Lula também falou sobre a crise econômica, com destaque para o Rio de Janeiro. “O país vive, talvez, a pior crise de sua história. Pela primeira vez, está sendo governado por um golpista, responsável por rasgar 54 milhões de títulos de eleitores e que só é aceito por sua agenda econômica. Mas ele que se prepare, porque eu estou me preparando e, se voltar, muita coisa vai mudar nesse país.”

“Primeiro, vamos fazer o referendo revogatório; segundo, vamos desfazer essa pouca vergonha de desmonte e privatização da Petrobras; terceiro, vamos democratizar a mídia; quarto, temos consciência de que nenhum país do mundo cresce sem investir em educação. Eles acham que a solução é fazer cadeia e eu acho que é fazer escola”, completou.