Eleições 2018

Manuela defende, em vez de um só craque, um time para a disputa política e eleitoral

Pré-candidata do PCdoB à Presidência da República contesta ideia de fragmentação ('Nossas opiniões nunca foram únicas'), defende 'conceito maior' de frente ampla e vê Lula no jogo em 2018

Reprodução

Deputada afirma que não se pode ficar “preso às agendas que construímos”, mas apontar soluções para o país pós-crise e golpe

São Paulo – Para a pré-candidata do PCdoB à Presidência da República em 2018, a deputada estadual gaúcha Manuela D´Ávila, o campo progressista precisa escalar um “time” completo para a disputa política e eleitoral, fazendo com a sociedade o debate não apenas sobre a agenda passada, mas, principalmente, sobre o que fazer daqui em diante, no Brasil pós-golpe.

Em entrevista no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em São Paulo, ela rejeitou a ideia de fragmentação que alguns “apressadamente” viram no lançamento de seu nome, considera a esquerda unida e disse não enxergar o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fora da disputa.

Segundo ela, não se pode correr o risco de “ficarmos presos às agendas do que construímos”, sem apontar soluções para a crise. Se a esquerda não projetar saídas, “outros projetarão”, disse a deputada, que respondeu perguntas de diversos veículos alternativos. 

“O centro da nossa candidatura é que nossa saída para a crise é um ampla frente, não vinculada à mera lógica da disputa eleitoral. Nosso sentido de frente ampla é maior, é um espécie de pacto da maior parte do povo brasileiro, dos trabalhadores, em cima de um projeto”, afirmou Manuela. É preciso discutir, por exemplo, como será a indústria do próximo período e como o Estado enfrentará a crise. “Será esse de reforma trabalhista e de reforma da Previdência?”

A deputada reafirmou a importância da unidade, contestando “o sentido da nossa candidatura, que também alguns de forma apressada dão, de fragmentação do nosso campo político”. Ela usou de metáfora futebolística: “Nós somos como um time de futebol. Temos de fazer a opção se nós queremos ter um craque escalado para jogar contra um time de 11 ou se queremos ser um time que defenda diversas opiniões. As nossas opiniões não são únicas, nunca foram. Devemos escalar mais jogadores para apontar saídas”, argumentou. 

Ela voltou a falar sobre o ex-presidente, reafirmando que sua candidatura não existe apenas para “ocupar espaço”, mas para apresentar propostas. “Eu não trabalho com o cenário de o presidente Lula não ser candidato. É um direito dele concorrer. Ele não está acima da lei, mas também não está abaixo dela.” Manuela considera que existe um “esforço da unidade” no campo progressista e defendeu um debate amplo, incluindo “trabalhadores e trabalhadoras comuns”, não se limitando aos partidos, mas – ressalvou – “não entrando no discurso fácil, inclusive da esquerda, que desconstrói os partidos”.

Unidade e projeto

A parlamentar acredita que, principalmente depois do golpe que depôs Dilma Rousseff, a esquerda alcançou “um nível de unidade muito grande”. “Pontes foram restabelecidas, existe muito diálogo, em vários espaços. A gente dialoga na Frente Brasil Popular, na Frente Povo sem Medo, acho que é momento de múltiplas experiências”, avaliou. “Esse processo pós-golpe também tem feito a gente refletir sobre qual é esse projeto de desenvolvimento que nos une”, acrescentou. Para ela, talvez tenha faltado, no governo, pensar mais no futuro. “Não é uma crítica. Talvez seja natural, a gente vai cuidando do que está acontecendo e deixa de pensar um pouco nas perspectivas.”

Manuela acredita que, de alguma forma, o papel da comunicação foi subestimado. “O que o povo brasileiro pensa sobre Temer é aquilo que acontece na realidade, mas o que pensa sobre nós é aquilo que é construído midiaticamente. Nós, num período um pouquinho anterior, ainda conseguimos ter alguma construção de maior influência a partir das redes. Eles fizeram isso durante o golpe, que é o que o Trump fez depois nos Estados Unidos.”

Ela afirma que o país passou por um golpe “programático”, orquestrado a partir dos acertos, e não dos erros, do governo anterior. “Basta ver o pacote feito no primeiro ano de golpe, é o pacote que a Dilma não apresentaria.” E avalia que é preciso escapar da “armadilha” do PSDB, que, ao falar em gestão e eficiência do Estado, na verdade ataca o papel do Estado.

Para Manuela, a esquerda também precisa fazer o debate sobre segurança pública, sem creditar a violência apenas à desigualdade. “A diminuição da miséria não diminuiu a violência”, afirmou. “Hoje, a violência no Brasil faz parte da perpetuação da pobreza.” Segundo ela, é preciso considerar a “vida real do povo” e pensar em como “devolver legitimidade para as polícias”. 

Ainda sobre a questão da comunicação, a parlamentar acredita que os veículos digitais da imprensa tradicional se converteram, por causa dos likes, a busca de compartilhamentos, em “espaços de reprodução e fomento de notícias vinculadas ao ódio”.

A pré-candidata do PCdoB lembrou que essa violência, inclusive contra ela, a obrigou a se tornar “alguém forte”, desenvolvendo bom humor para se contrapor a ataques. “Eu me dei conta de que uma parte das pessoas não adere às ideias deles.”

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