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Lindbergh Farias pode esperar retaliação da Globo, diz Lalo Leal

Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado aprovou nesta terça (28) requerimento do senador petista para realizar audiência pública sobre denúncias envolvendo a emissora da família Marinho

Reprodução

Segundo empresário argentino Alejandro Burzaco, negociações eram sobre as Copas de 2026 e 2030

São Paulo – A Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) do Senado aprovou, nesta terça-feira (28), requerimento do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) para realizar uma audiência pública sobre as denúncias envolvendo a Rede Globo. A empresa teria participado de um esquema de pagamento de propinas para obter apoio e conseguir direitos de transmissão das Copas do Mundo de 2026 e 2030.

A revelação foi feita pelo empresário argentino Alejandro Burzaco, ex-executivo da empresa Torneos y Competencias, em depoimentos nos dias 14 e 15 de novembro, ao Tribunal do Brooklin, em Nova York, no julgamento do ex-presidente da CBF José Maria Marin. A Globo foi citada junto com a mexicana Televisa. Juntas, elas teriam desembolsado 15 milhões de dólares, parte dos quais pagos a Julio Grondona, presidente da Federação Argentina de Futebol por 30 anos. As copas Libertadores e Sul-Americana também faziam parte do “pacote”, segundo Burzaco.

“São denúncias seríssimas que mostram relações promíscuas entre a Globo e os dirigentes do futebol, nacional e internacional, que, pelas denúncias, já vêm de longa data e nunca ganharam atenção da mídia e dos órgãos públicos, como Polícia Federal e  Judiciário”, diz o jornalista e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) Laurindo Lalo Leal Filho. “Um debate público no Congresso é bem-vindo, porque é necessário esclarecer o que está acontecendo.”

Ele considera louvável a iniciativa de Lindbergh Farias, mas acha possível que  o parlamentar seja objeto de retaliação. “Uma retaliação da Globo virá. Quando ela sofre algum tipo de denúncia, rapidamente aciona seus organismos para replicar.” O professor lembra o ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola. “Ele era uma figura que não podia aparecer na Globo, porque teve coragem de denunciar falcatruas da emissora.”

Devem ser convidados para a audiência pública, ainda sem data definida, representantes da Rede Globo e do Ministério Público Federal. Uma semana depois do depoimento de Burzaco, PT, PDT e Psol apresentaram representações contra a Globo à Procuradoria-Geral da República (PGR), ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações.

Em nota divulgada no dia 15, a Globo negou as acusações. “O Grupo Globo afirma veementemente que não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina”, disse a empresa.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, encaminhou denúncia contra a empresa da família Marinho ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ). “O primeiro passo a ser dado seria o Ministério Público assumir a responsabilidade de uma investigação, depois o Judiciário e a própria Polícia Federal, se for o caso”, diz Lalo Leal.

Ele observa que as informações contra a Globo só vieram a público após investigação realizada não no território brasileiro, mas nos Estados Unidos. “Denúncias desse tipo a gente ouve falar, mas nunca ninguém tem coragem de assumir. Só foi possível pegar a Globo porque a denúncia foi feita fora do Brasil. Essa rede que se formou para conseguir benefícios por meio de propinas na transmissão de competições internacionais de futebol inclui corporações midiáticas de outros países”, lembra o professor.

“O poder da Globo, para muita gente, é maior do que os poderes da República. Mesmo os órgãos institucionais – Judiciário, Legislativo e mesmo o Ministério Público – têm algum tipo de receio de enfrentar esse poder”, acrescenta.  “A Globo tem um poder de contra-ataque muito forte e eles evitam a todo custo um confronto com ela. “

O deputado Wadih Damous (PT-RJ) já afirmou que há elementos para se propor a cassação da concessão da Rede Globo de Televisão, pois o artigo 53 da Lei 4.117, que trata do setor, estabelece que “constitui abuso, no exercício de liberdade da radiodifusão, o emprego desse meio de comunicação para a prática de crime ou contravenção”.

Para Lalo Leal, se for desencadeado um processo isento que vá a fundo nas apurações, “poderia haver razões para isso”. “Não que vá acontecer, mas podem surgir razões que legalmente determinariam a cassação da concessão”, afirma.

Lindbergh defende a realização da audiência ainda em 2017 e aventou a possibilidade de se abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o caso. “Se os representantes da Rede Globo decidirem não participar do debate, estamos estudando a possibilidade de recolher assinaturas para a criação de uma CPI”, disse o petista ontem. A reportagem procurou o senador, mas não obteve retorno.

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