pensando no futuro

Viveiro do MST em Minas recupera assentamentos e permite plantar sonhos

No acampamento Liberdade, do MST, Caravana Lula pelo Brasil vê a experiência com o aprendizado para renovar a terra e equilibrar o ambiente em prol da vida

Ricardo Stuckert

Lula e os trabalhadores do viveiro: reflorestar assentamentos da reforma agrária por intermédio do plantio de Sistemas Agroflorestais (SAFs)

O Viveiro de Mudas Silvino Gouveia completou um ano em 19 de agosto. Localizado no assentamento Liberdade, em Periquito, Vale do Rio Doce abriga um sonho: o projeto Semeando Agroflorestas. Com isso, o Movimento Sem Terra  (MST) pretende reflorestar assentamentos da reforma agrária por intermédio do plantio de Sistemas Agroflorestais (SAFs) e recuperar as áreas degradadas, seja pelo pastoreio e pelo mau uso da terra, seja pelo crime da Samarco. A técnica alia o plantio de árvores à produção de alimentos.

“Estamos tentando fazer um trabalho de recuperação das nossas áreas, que estão muito degradadas em função da atividade anterior, do fazendeiro que explorou muito”, conta Davy Pereira Paixão, 27 anos. Ao lado da esposa Lélia Lima Santana, de 22 anos, e de uma das filhas do casal, Cecília, de 10 meses, relatam o trabalho coletivo que fazem, apesar de todas as dificuldades. Mesmo jovens, já sofreram vários despejos, conhecem a dura realidade da falta de chuvas e lamentam não ter mais as águas do Rio Doce nem sequer para banho.

“Pelas histórias contadas pelos mais velhos, a gente se sente muito triste. Estão acabando com tudo, a monocultura aumentando”, lembram.

“Estamos fazendo esse trabalho coletivo, tentando construir a agroecologia em nossas áreas, em parceria com o viveiro de mudas, com projetos de sistema agroflorestal. A gente luta pela terra e tenta mudar essa realidade. Nem pensar em desistir! E Lula é a nossa esperança nesse mundo melhor”, diz Lélia, que fazia um curso de Agroecologia, mas com a entrada de Michel Temer, todos os recursos foram cortados.

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André: A ideia é reflorestar a região muito degradada por causa do mau uso do pastoreio. Davy, com a mulher, Lélia, e a filha: É um trabalho de recuperação das nossas áreas

O acampamento Liberdade foi a primeira parada da Caravana Lula pelo Brasil, na manhã da terça-feira (24). O clima no local era de festa. Do caminhão de som, o ex-presidente entrevistava pessoas da comunidade, ressaltando a importância da experiência desses lavradores que até hoje ajudam a manter suas famílias com os parcos recursos da aposentadoria.

Sabedoria de gerações

São os mais velhos que ensinam o poder da solidariedade e importância da luta às novas gerações. Eles assimilam e incrementam com outros direitos da cidadania, como o respeito às questões de gênero, a equidade.

Foi o que contou André Pereira da Paixão. Aos 23 anos, trabalha como coletor de sementes no viveiro de mudas Silvino Gouveia, nome que ele não esquece: “companheiro de luta do MST, assassinado há alguns meses por causa no conflito de terra”, ensina. “Ele contribuía aqui com o viveiro também no trabalho voluntário. E fazemos essa homenagem para que a gente não esqueça.”

O jovem conta que as mulheres são maioria no trabalho com o viveiro de mudas. “A gente pensa na importância de equiparar a renda e acha importante essa questão de gênero, da equidade.”

Ele trabalha coletando sementes nos assentamentos e depois retorna com a muda para esses assentamentos. “Queremos nos tornar autossustentáveis em relação à coleta de sementes que é minha tarefa. A ideia é reflorestar os assentamentos da região que foram muito degradados por causa do mau uso do pastoreio. Isso aqui era Mata Atlântica e foi desmatado para colocar gado. Como o MST tem ocupado essas áreas para poder fazer assentamento das famílias, dos trabalhadores rurais, temos como objetivo reflorestar essas áreas.”

E explica que ainda é tudo muito novo. “Conseguimos o projeto com o governo do estado e a Codemig. Tem sete meses que estamos plantando, estudando e aprendendo. As pessoas dos assentamentos contribuem em relação ao plantio e ao manejo. Queremos trabalhar com os Sistemas Agro Florestais  (SAFs) para, além de árvore, produzir alimentos. É também cuidar da fauna e da flora para tentar equilibrar ao máximo, de forma que fique o mais parecida possível com o que era antes, quando Mata Atlântica.”

São quatro viveiros no estado e mais de 600 famílias assentadas e mais de 300 acampadas. “Cada assentamento tem um núcleo que contribui com o trabalho no viveiro, a tarefa de coleta de sementes, e estuda essa questão do SAF, como fazer para recuperar as áreas, as nascentes. Tem muita gente envolvida.”

Quando perguntado sobre o crime ambiental, diz que fica até triste falar. “A gente está aqui margeado por ele, boa parte do acampamento Esperança, aqui perto, eram pescadores. Depois que aconteceu o crime da Samarco eles não tinham mais o que fazer. Acabamos fazendo ocupação e eles vieram.”

Uma vida

André vive com o MST desde os 6 anos, quando a mãe acampou pela primeira vez. “Ela já está assentada no município de Jampruca e eu vim trabalhar no viveiro e sou acampado aqui perto.”

Técnico em administração de cooperativas, estudou na escola do MST. “Desde sempre gostei de estudar a questão da agroecologia. Pra gente que conhece outras regiões, é triste voltar aqui e ver esses morros todos pelados, essa degradação. O trabalho do viveiro rejuvenesce a gente. Quando chegamos nos assentamentos somos recebidos com muito carinho e as pessoas entendem a importância que tem isso.”

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Maria das Dores Vieira, Dona Dorinha, mora no acampamento Liberdade e está na luta pela terra há quase 18 anos

Do alto de seus 60 anos, Maria das Dores Vieira, Dona Dorinha, mora no acampamento Liberdade e está na luta pela terra há quase 18 anos. A terça-feira (24) entrou para a história dessa jornada: realizou o sonho de tirar foto com Lula. Junto com a neta Analice, comemorava. “Hoje foi um dia maravilhoso, especial. Estou feliz da minha vida, não queria morrer sem ver o Lula e hoje eu vi. Quando Lula entrou, muitas pessoas se levantaram, conseguiram ter máquina de lavar roupa, um carro. Ele levantou muito os pobres que estavam passando dificuldade. Hoje podemos contar com ele de novo, minha família inteira vota nele. Sempre Lula na frente!”

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