REAÇÃO

Parlamentares governistas e de oposição lançam frente em defesa de Furnas

De caráter multipartidário, movimento tem o propósito de agregar todas as iniciativas contra o projeto de privatização proposto pelo governo para resguardar a soberania nacional

Lúcio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados

Ministro de Minas e Energia Fernando Coelho Filho apresentou dados sobre a Eletrobras em setembro na Câmara

Brasília – Em pleno período de reestruturação de sua base aliada no Congresso, o presidente Michel Temer passa a contar com mais um movimento de mobilização contra o programa de privatizações do seu governo. Trata-se da Frente Parlamentar Mista em Defesa de Furnas, a ser lançada nesta terça-feira (31), no auditório Freitas Nobre, que já conta com as assinaturas de mais de 260 parlamentares.

O trabalho é encampado e apresentado, em sua maior parte, por integrantes do PMDB, partido de Temer, a pedido de associações diversas de técnicos e servidores em defesa de Furnas Centrais Elétricas – subsidiária da Eletrobras e uma das maiores do setor elétrico no país.

Muitos destes deputados e senadores são de partidos que integram a base de apoio a Temer e votaram para arquivar as denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente. O próprio autor do requerimento que solicitou a criação da Frente, Leonardo Quintão (PMDB-MG), já disputou a liderança do PMDB na Casa e foi cotado para ser ministro do governo. Mesmo sendo aliado do Palácio do Planalto, admite que “não tem como não ser contrário à privatização”.

O requerimento apresentado pelo deputado tem origem na Associação dos Empregados de Furnas (Asef), entidade que possui mais de 35 anos de atuação em defesa da estatal. “A envergadura de Furnas nos exige encampar qualquer batalha para que essa empresa importantíssima para o Brasil continue pertencendo ao Brasil”, disse Quintão.

Outro que faz parte da frente, o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), afirmou que “defender Furnas é defender o interesse do Brasil e especialmente de Minas Gerais, berço desta importante empresa estratégica para nosso país”.

Energia de 63% dos lares

A polêmica toda começou porque, em agosto passado, o governo anunciou a inclusão de 57 projetos no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Do pacote, constam estradas, portos, aeroportos, e empresas públicas como a Eletrobras.

Segundo informações de representantes da Asef, o parque transmissor de Furnas concentra mais de 24 mil quilômetros de linhas e 71 subestações, e é responsável por quase 10% da energia produzida no país. O complexo é formado por 20 usinas hidrelétricas, duas termelétricas e três parques eólicos.

“Estamos aqui para dar início a essa mobilização e concentrar todos os esforços para impedir que a privatização das subsidiárias da Eletrobras se concretize”, afirmou o engenheiro José Nivaldo Santos, que está desde a noite de domingo em Brasília para acompanhar o lançamento e percorrer gabinetes no intuito de conversar com os parlamentares sobre a questão.

A intenção dos deputados e senadores integrantes da Frente é que a partir do seu lançamento possam se engajar ao movimento ex-parlamentares e outras frentes com o mesmo objetivo existentes em assembleias legislativas e câmaras de vereadores de todo o país.

‘Sanha devastadora’

O deputado oposicionista Patrus Ananias (PT-MG), responsável por ações que tentaram impedir a privatização da Cemig e criador da Frente Nacional de Defesa da Soberania Nacional, que também atua contra as privatizações, afirmou ontem que o momento é de resistência “aos golpistas e à sanha devastadora de direitos, sobretudo, das brasileiras e dos brasileiros pobres”.

“O governo golpista está impondo ao Brasil a agenda do desmonte de direitos, de conquistas sociais e da soberania nacional. Não podemos permitir isso”, destacou Ananias.

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) disse que se a privatização da Eletrobras e de suas subsidiárias for concretizada, aumentará o risco de racionamento de energia elétrica no Brasil. Ele observou que todos os países desenvolvidos consideram a energia como uma área estratégica e citou exemplos, como China e Estados Unidos, onde o Estado possui controle sobre a produção de energia “por considerarem que a soberania passa pela necessidade de ter domínio sobre os fatores que influenciam o desenvolvimento”.

“Não é racional privatizar por R$ 20 bilhões uma empresa que tem como recebíveis R$ 40 bilhões, ativos de R$ 400 bilhões e receita líquida anual de R$ 60 bilhões”, ressaltou o senador.