Denúncia no plenário

Para oposição, reprovação a Temer pode contaminar base; governo confia em blindagem

Oposicionistas dizem que desgaste de Temer pode afetar votos contra a denúncia. Governistas admitem votação menor, mas confiam nos métodos de sempre para evitar surpresas

Blog do Zarattini

‘Nossa avaliação é de que tem havido uma mudança, lenta mas firme, na forma de posicionamento dos deputados da base aliada’, diz Zarattini

Brasília – A denúncia contra o presidente Michel Temer e seu ministros no plenário da Câmara dos Deputados, por organização criminosa e obstrução de Justiça, a matéria tem tudo para ser votada na próxima quinta-feira (25). A tensão entre integrantes da base aliada só piora no Congresso e oposicionistas demonstram confiança de que, diante disso, pode haver virada de jogo – o que ainda é muito improvável.

Várias bancadas combinaram de se reunir nos estados neste final de semana. O Planalto, mesmo com os vários pacotes de benefícios distribuídos nos últimos dias aos parlamentares, acerta as últimas negociações e conversas para aparar arestas com os aliados insatisfeitos, sobretudo os deputados do chamado Centrão e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). 

“Nossa avaliação é de que tem havido uma mudança, lenta mas firme, na forma de posicionamento dos deputados da base aliada, que cada vez mais apresenta falta de coesão e não consegue reverter a impopularidade do presidente perante à população, muito pelo contrário”, afirmou líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP). “Por isso, estamos confiantes que poderemos obter um resultado diferente do de ontem na votação da denúncia no plenário.” 

Zarattini apresentou, ontem mesmo, requerimento para solicitar ao senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), presidente do Congresso Nacional, a convocação do Legislativo para a próxima terça-feira (24). O pedido evita qualquer antecipação da votação da denúncia na Câmara.

O regimento comum do Congresso exige a convocação imediata das duas Casas para a apreciação dos vetos presidenciais, na terceira terça-feira de cada mês. E, em caso de qualquer motivo que a sessão conjunta não possa se realizar, como aconteceu na última terça (17), o Congresso tem de reservar, obrigatoriamente, a terça-feira seguinte para a apreciação dos vetos.

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) afirmou os parlamentares devem conclamar a população a fazer pressão nos próximos dias. “O país precisa disso”, disse.

Outro argumento destacado pelos oposicionistas é a existência de provas consistentes que dão suporte à denúncia.“Existem elementos suficientes para o julgamento de Temer no Supremo Tribunal Federal (STF), não há como o governo nem sua base negarem”, afirmou Wadih Damous (PT-RJ).

A parada, porém, é dura e todos reconhecem, diante das últimas ações do Executivo. Dentre as quais, a portaria que flexibiliza a definição do trabalho escravo no país (em atendimento à bancada ruralista), a ajuda do Planalto na votação que salvou Aécio Neves (PSDB-MG) e a Medida Provisória que apresenta um pacote de benefícios fiscais para petrolíferas internacionais.

Centrão e Maia

O Planalto, enquanto, sinaliza liberar mais cargos para parlamentares dos partidos PP, PR, PTB e PRB (que compõem o Centrão), depois da articulação malsucedida como PSB (quando os socialistas trocaram o líder e votaram em peso pelo acolhimento da denúncia).

A iniciativa é uma forma de amenizar a insatisfação dessas legendas, que receberam desde a primeira denúncia promessas de indicações e reclamam de ainda não terem sido contempladas.

Temer também precisa administrar a segunda crise explícita da semana com o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), inclusive porque ter sido noticiado que o cargo do presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, ou alguma diretoria abaixo dele na instituição, seria oferecido para atender alguma indicação de Maia.

Em nota, o presidente da Câmara afirmou que a versão é falsa e que “o autor da falsa versão disseminada pelo Palácio do Planalto precisa repor a verdade dos fatos”.

Temer se reuniu ontem com Rabello de Castro. O Planalto negou que a conversa tenha passado pela destituição do presidente do banco, mas a notícia inflamou as bolsas de apostas de que o BNDES seria mais um órgão do governo a ser “rifado” como moeda de troca para blindar o presidente.