Caravana em Minas

Defesa da soberania e democracia marca ato com Lula e Dilma em Ipatinga

Lula abre caravana em tom de desafio. Dilma é ovacionada aos gritos de 'senadora'. Patrus Ananias lembra que grandes lutas do país passaram por Minas Gerais

Ricardo Stuckert

Dilma: O que está acontecendo é muito grave. Deram um golpe não só por maldade, mas porque não ganham eleições

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou hoje (23) nova etapa de suas caravanas pelo país. Lula percorrerá pelo menos 14 cidades de Minas Gerais até o dia 30, tendo como tema especial a defesa da soberania nacional. “Quando fui eleito, comecei a pensar que eu não era mais do que ninguém. E nem menos. Passei a conversar com os Estados Unidos com igualdade de condições”, disse no ato de abertura da caravana, em Ipatinga.

A cidade, a 210 quilômetros de Belo Horizonte, é um polo da produção siderúrgica de Minas Gerais, conhecida como a capital da região do Vale do Aço. “Não foram poucas as vezes que estive aqui. Já estive muitas vezes na fábrica da Usiminas, ou na prefeitura, e nesta mesma praça, fazendo protesto. Venho dizer para todas as mulheres e homens que estamos começando mais uma caravana para fazer uma medição do que era o Brasil há pouco tempo e do que ele está virando”, disse Lula na Praça dos Três Poderes, região central da cidade que já pertenceu à vizinha Coronel Fabriciano e tem hoje 260 mil habitantes.

Ipatinga foi chamada por Lula e por outros que participavam do ato como um dos berços do Partido dos Trabalhadores.

Lá, em 1963, ao menos 30 trabalhadores foram assassinados, em meio a protestos de campanha salarial, durante ataque de militares e capatazes a mando da Usiminas. Os policiais envolvidos foram punidos, entretanto, as penas foram revertidas após o golpe civil-militar no ano seguinte. 

Lula iniciou sua trajetória mineira pela cidade e lembrou conquistas de seu governo. “Nunca se criou tanto emprego, nunca se colocou tanto jovem periférico na universidade, nunca se fez tanta escola técnica. Diziam que o pobre era o problema desse país. Nós provamos que ele é a solução. Quando incluímos o pobre na economia, quando eles passaram a trabalhar e consumir do bom e do melhor, esse país cresceu”, disse.

Ao lado de Lula, estava a presidenta eleita em 2010 e 2014, Dilma Rousseff (PT), que foi destituída por um “golpe parlamentar”. Estavam ainda o ex-ministro e deputado Patrus Ananias (PT-MG), o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), a presidenta do PT, senadora Gleisi Hoffmann e o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas.

Anular o golpe

Aos gritos de “volta Dilma” e “Dilma senadora”, a ex-presidenta, nascida em Minas Gerais, disse que o estado é “o coração do Brasil”. “Essa caravana tem um sentido. Conversar sobre o que está acontecendo com o nosso país. O que está acontecendo é muito grave. Deram um golpe parlamentar e tiraram uma presidenta eleita por vocês com 54 milhões e meio de votos. Fizeram isso não só por maldade, porque eles perderam quatro eleições. Duas eles perderam para o Lula e duas para mim”, disse.

Dilma reiterou que a motivação do impeachment foi a agenda neoliberal barrada pelas sucessivas vitórias do PT. “Esse programa é a retirada total dos trabalhadores. O benefício só para os mais ricos. Além disso, descobrimos o pré-sal, que chamávamos de passaporte para o futuro, porque ele podia ser usado para garantir educação de qualidade para os brasileiros. Sem isso não vamos ser uma nação desenvolvida”, disse.

O tema da soberania nacional, ela observa, influencia diretamente o ato de abertura. “Soberania é colocar as riquezas de nosso país a serviço dos 208 milhões de pessoas e não para uma minoria. Por isso, tínhamos criados uma série de regras para a exploração do petróleo. Eles estão vendendo poços de petróleo sem a presença da Petrobras. Acabaram com a presença obrigatória da Petrobras na exploração do petróleo. Acabaram com a política para garantir empregos de qualidade na cadeia de petróleo. E tentam acabar com o acesso à riqueza do pré-sal.”

A senadora Gleisi Hoffmann também falou sobre o desmonte promovido pelo governo de Michel Temer (PMDB). “Soberania é ter um país com justiça social, é ter acesso a educação, trabalho e moradia. Soberania é ter acesso a dignidade. Isso está sendo tirado do povo brasileiro.”

Gleisi lembra que nesta quarta-feira a Câmara vota admissibilidade da denúncia contra Temer por obstrução de Justiça e organização criminosa. “Mais do que tirar o Temer, temos que lutar para restituir o poder de quem chegou lá legitimamente. Temos que lutar para que o Supremo anule o impeachment e Dilma retorne para seu cargo”, completou Gleisi.

Patrus Ananias observou que os grandes movimentos de resistência nacional passaram por Minas. “Essa caravana, liderada por Lula, vai, com certeza, ser um marco histórico na caminhada do povo brasileiro rumo a sua libertação. Falo em nome da Frente Parlamentar em Defesa da Soberania Nacional”, disse. “As pessoas perguntam o que significa nossa frente. Um país soberano é um país que possibilita que seu povo exerça seus direitos e deveres de nacionalidade. O governo golpista está destruindo os direitos sociais, como no caso da Emenda 95, que congela o Brasil por 20 anos”, completou Ananias.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, ressaltou que o golpe não foi contra Dilma, mas contra os direitos dos trabalhadores. “Para acabar com isso, precisamos que o impeachment seja revogado. É um direito que temos. Acima de tudo, precisamos eleger Lula presidente do Brasil, com o compromisso de fazer um referendo para revogar, com a força do povo, todas as medidas dos golpistas contra os trabalhadores.”

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