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Em acampamento do MST, Lula volta a propor referendo contra medidas de Temer

Ex-presidente visitou viveiro mantido pelos sem-terra com espécies para reflorestamento. 'O homem que está lá agora está estragando as coisas', disse um camponês sobre Temer

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Investimentos em agricultura familiar chegaram a alcançar R$ 24 bilhões

São Paulo – No segundo dia da Caravana Lula pelo Brasil, em Minas Gerais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi até o município de Periquito, na manhã desta terça-feira (24), para um conhecer um viveiro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em que se cuida de 150 mil mudas para reflorestamento em áreas desmatadas.

Lula foi recebido por centenas de camponeses que trabalham no viveiro e moram no acampamento Liberdade. Eles conversaram com o ex-presidente, enquanto caminhavam em meio a mudas de cedro, ipê e paineira rosa, cultivadas no viveiro Silvino Gouveia, manejados com técnicas da agroecologia que dispensam o uso de veneno. O presidente brincou que estava de fato com os pés no barro.

Como no primeiro dia da caravana, Lula voltou a propor uma a realização de um referendo revogatório, caso dispute e vença a eleição em 2018, sobre as medidas impopulares aprovadas pelo governo Temer, como a “reforma” trabalhista e emenda que congela gastos sociais por 20 anos.

“Depois que você entrou para ajudar nós, ficou uma coisa bem melhor. O homem que está lá agora está estragando as coisas”, disse a Lula um camponês.

Em uma apresentação teatral dos agricultores, com a declamação de um poema de Pedro Tierra, em homenagem ao padre Josimo Tavares, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), assassinado com tiros pelas costas em 1986, Lula ouviu dos camponeses as reivindicações por reforma agrária. “O que importa é que as pessoas mais humildes possam dizer dos seus sonhos, esperanças e expectativas”, disse Lula.

“Ainda não perdi a esperança de ver a reforma agrária no Brasil. Apesar dos golpes, ainda reina um pouco de esperança. Lula faz parte dessa esperança. Espero ver, ainda vivo, essa tal reforma agrária acontecer no Brasil”, disse o agricultor Agostinho, 77, que trabalha no viveiro.

Vendendo tudo

“Vocês sabem que esse país sofreu um golpe, que tem interesses outros além do Brasil, para que se possa retirar direitos, vender empresas públicas importantes. Querem destruir a Petrobras, estão vendendo o pré-sal, que a gente tinha decidido criar um fundo para investir em saúde e educação. Estão acabando com a indústria naval, com a petroquímica. Querem vender o Banco do Brasil, destruir o BNDES. Estão vendendo tudo“, falou o presidente.

Lula afirmou que o país vive, portanto, uma briga para recuperar a sua soberania. Observou que além de empresas públicas e riquezas naturais está sendo atacada a soberania. “Pela maneira com que o povo vem sendo tratado, e pela maneira que somos tratados pelos outros povos. Lamentavelmente o Brasil está perdendo.”

Outro trabalhador lembrou que a crise hídrica que afeta as populações da região se deve também a destruição das matas ciliares, que comprometem a saúde dos rios e nascentes. As mudas produzidas no viveiro, que conta com o apoio do governo estadual, também serão destinadas a recuperar a vegetação das margens dos rios mineiros. Os trabalhadores responsabilizam latifundiários e mineradoras pela devastação causada na região.

Lula afirmou que é possível viver com dignidade no campo, quando o pequeno produtor tem acesso à terra e conta com assistência técnica e financiamento, mas ressaltou que o governo Temer acabou com o Programa de Aquisição de Alimentos, criado em 2003, destinado a comprar o excedente produzido pelo agricultor familiar, além de cortes no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Disse ainda que nos governos petistas foram destinados cerca de 52 milhões de hectares de terra para assentamentos, o que representa quase metade de todo o esforço pela reforma agrária realizada pelo país ao longo da história, mas que é preciso fazer ainda mais, já que a agricultura familiar é responsável pela maior parte dos alimentos que chegam à mesa do brasileiro.