MÃOS AMIGAS

Nome escolhido para relatar denúncia contra Temer provoca atrito no PSDB

Líder tucano na Câmara disse aos colegas de sigla que se sentiu traído, com articulação feita entre alguns caciques e o Planalto, que o deixou de fora. Para oposicionistas, manobra para blindar o presidente é clara e “espúria”

psdb.org

Bonifácio de Andrada, tucano escolhido para a relatoria da segunda denúncia contra Temer na Câmara

Brasília – Além do desgaste interno do PSDB com a questão que envolve o senador Aécio Neves (MG), a bancada tucana da Câmara apresentou novo racha, na quinta (28) , depois do anúncio de que o relator escolhido para a denúncia contra o presidente Michel Temer é o deputado Bonifácio de Andrada (MG), pertencente à legenda.

O líder do PSDB na Casa, Ricardo Trípoli (SP), tinha afirmado que o partido não queria pegar a relatoria e iria analisar o caso com seu departamento jurídico para, a partir daí se posicionar oficialmente – podendo se manifestar no sentido de liberar os integrantes para votar da forma como quisessem.

O gesto iria repetir a orientação dada pela sigla na votação da primeira denúncia e estava sendo visto como um aceno para o partido reduzir os desgastes entre os parlamentares que são contrários e favoráveis a Temer. Mas com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação a Aécio e a interferência do Planalto para livrar o senador, pedindo como moeda de troca aos tucanos maior apoio na votação da denúncia contra Temer, o jogo mudou.

Em reservado, Trípoli disse aos principais caciques da legenda que se sentiu traído, devido ao pedido feito anteriormente aos colegas. E afirmou que houve uma articulação em separado, por alguns parlamentares do PSDB com o restante da base do governo que não passou por ele. “Traíram um acordo”, reclamou, diante do acerto prévio feito entre a bancada de que ninguém, mesmo que fosse convidado, aceitaria a relatoria.

A primeira iniciativa do líder do partido na Câmara foi de tentar retirar o deputado Bonifácio de Andrada da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). Com a retirada, que é prerrogativa do líder partidário, Andrada ficaria de imediato fora do caso. Trípoli, porém, foi convencido de que o gesto poderia provocar um confronto ainda maior, por isso recuou.

Mudanças na negociação

Depois, preocupados com a situação e o clima tenso, deputados e senadores tucanos tentaram convencer o próprio Bonifácio de Andrada a desistir da relatoria, mas não obtiveram êxito. O entendimento de todos é de que a escolha alterou o encaminhamento da negociação que vinha sendo feita entre PSDB e o Planalto. O ideal, segundo contou um deputado deste grupo, teria sido convencer a bancada a apoiar o presidente, lembrando as ajudas em relação a Aécio, sem o desgaste de ter um tucano diretamente na relatoria.

Considerado amigo pessoal de Temer e de Aécio Neves, constitucionalista, e um parlamentar mais engajado com a direita do que com o centro, Andrada votou pela rejeição da primeira denúncia contra o presidente e já deixou claro seu posicionamento. Não há dúvidas entre os colegas de que o seu parecer será favorável à blindagem de Temer.

Ele já deu declarações, antes de ser indicado relator, no sentido de que não considera um problema o fato de o presidente ter se encontrado, sem registro oficial, com o empresário Joesley Batista no porão do Palácio do Jaburu. E sustenta desde o início que “Temer foi gravado de forma imoral”.

Andrada também é favorável a que a delação premiada negociada pelo Ministério Público com Joesley tenha todas as denúncias que provocou anuladas. Argumenta que as provas, a seu ver, “foram falhas desde o início”.

Silêncio e bastidores

Entre os tucanos, apenas a reclamação de Trípoli, que evitou falar mais do que o oficial, foi externada. O ambiente é de silêncio e conversas de bastidores até a reunião da bancada, na próxima terça-feira (2). Para aliados do governo, a escolha foi técnica e acertada, enquanto os oposicionistas destacaram o que consideraram manobra.

“Está claro o jogo de cartas marcadas. Bonifácio de Andrada vai livrar Temer e o Planalto vai ajudar o Senado a livrar Aécio”, disse o deputado Chico Alencar (PSol-RJ). “Estamos vendo de novo o esquema de manipulações e manobras espúrias nesta Casa, mas vamos trabalhar firme para que a denúncia seja acolhida”, destacou Alessandro Molon (Rede-RJ).

A princípio, o parecer do relator, após a fase de apresentação da defesa do presidente e dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) tem previsão de ser votado em 25 de outubro, na CCJ.

O governo tem pressa, mas os oposicionistas pretendem esquentar o debate sobre a matéria a partir da próxima semana e obstruir várias votações – o que pode atrasar este rito. Para que a denúncia seja aceita e retorne ao STF, são necessários os votos de 342 deputados (um terço da Câmara, composta por um total de 513 deputados).

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