REAÇÃO

Gleisi: ‘Palocci mente em troca de benefícios’

Para presidenta do partido, ex-ministro já estava “política e moralmente fora do PT”. Gabrielli considerou carta “vergonhosa” e parlamentares repercutem declaração de Dirceu: “Prefiro morrer a delatar”

Ag. Senado / Ag. Brasil

Gleisi, em nota, repudiou manifestação do ex-ministro Antonio Palocci, que negocia acordo de delação premiada: mentiras e interesses próprios

Brasília – A carta do ex-ministro Antonio Palocci, preso há mais de um ano em Curitiba, na qual ele pede sua saída do partido e critica o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, suscitou reações diversas no Congresso e na executiva nacional da sigla. A primeira reação partiu da presidenta nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), que foi a destinatária do documento do ex-ministro. Gleisi emitiu nota afirmando que “política e moralmente, Palocci já está fora do PT”.

O ministro tomou a iniciativa de enviar a carta oficialmente ao PT numa forma de se antecipar à decisão da sigla, que fará uma reunião para decidir sobre sua saída, depois que ele fez acusações a Lula em delação premiada aos juízes da força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba. As acusações foram negadas pelo ex-presidente e por dirigentes petistas. 

Para Gleisi Hoffmann, a carta divulgada por Palocci e seus advogados não se destina verdadeiramente ao PT, mas aos procuradores da Lava Jato”. “É a mensagem de um condenado que desistiu de se defender e quer fechar negócio com o MPF, oferecendo mentiras em troca de benefícios penais e financeiros”, afirmou a senadora, no documento.

A presidenta nacional da sigla ainda destaca que a carta repete falsas acusações que teriam sido feitas por Palocci diante do juiz Sérgio Moro e que contrariam seus depoimentos anteriores.  E ela questiona em qual Palocci se deve acreditar. “No que diz ter mentido antes ou no que mudou de versão agora para se salvar? ”

A senadora ainda afirmou que o PT trata de forma igual todos os filiados que enfrentam investigações e ações judiciais e respeita o princípio da presunção da inocência. “Ninguém será julgado por comissão de ética partidária antes do trânsito final dos processos na Justiça.”

“Palocci decidiu ‘queimar seus navios’, romper com sua própria história e renegar as causas que defendeu no passado. A forma desrespeitosa e caluniosa como se refere ao ex-presidente Lula demonstra sua fraqueza de caráter e o desespero de agradar seus inquisidores”, acrescentou ela.

‘Sem reunião mencionada’  

O ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli, apontado por Palocci em delação premiada por ter participado de uma reunião com Lula e a então presidenta Dilma Rousseff para negociar acordos que envolveram denúncias relacionadas à Lava Jato, também disse, em nota, que considera a carta do ex-ministro vergonhosa e que Palocci “assume falsamente minha potencial concordância com suas posições”.

Gabrielli afirmou que nunca teve qualquer reunião com Lula e Dilma “para discutir atos de corrupção relativas às sondas para o Pré-Sal brasileiro”. E acrescentou que as reuniões de que participou consistiram na discussão de desafios sobre como montar estas sondas no Brasil, buscando formas de organização empresarial e estruturas financeiras para isso.

“Sabíamos que os desafios da implantação de uma nova indústria envolviam uma curva de aprendizagem que impossibilitaria a geração de qualquer excedente extraordinário nos fluxos de caixa previstos”, acrescentou ele.

O ex-presidente da Petrobras apontou, ainda, uma confusão de datas nas falsas alegações de Palocci, uma vez que a pretensa reunião mencionada pelo delator teria ocorrido em 2010, mas os contratos das sondas só efetivamente foram assinados em 2011.

Comparações com Dirceu

Entre os petistas, o ambiente é de constrangimento na bancada. Muitos senadores e deputados do PT criticaram em reservado a posição de Palocci, mas preferiram não se manifestar publicamente até que fosse divulgada a carta de Gleisi Hoffmann e ficaram de falar sobre o caso a partir desta quarta-feira (27). O mesmo também acontece com parlamentares de siglas da oposição, como o PCdoB.

Como ontem foi o dia de decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF 4) em relação a réus na Lava Jato, muitos parlamentares aproveitaram para fazer comparações entre a postura de José Dirceu e a de Palocci. 

No julgamento de ontem, os desembargadores do TRF-4 inocentaram o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, numa das ações em que ele é réu, e ao julgar recurso sobre o ex-ministro José Dirceu, decidiram ampliar sua pena na Lava Jato – que agora chega a 30 anos.

Um dos temas mais comentado entre as conversas de bastidores nos plenários das duas casas do Congresso foram frases ditas por Dirceu durante conversa reservada a pessoas próximas, dias atrás. Numa delas, segundo um deputado petista, o ex-ministro afirmou “meu nome não é Antonio Palocci”, numa forma de crítica ao colega que decidiu por fazer delação. Numa outra frase, Dirceu confidenciou a amigos: “Prefiro morrer a delatar”.

 

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