Homenagens

‘Viemos hoje aqui só dizer a ele: muito obrigado’

Em Arapiraca (AL), inúmeras pessoas buscam conhecer Lula pessoalmente, uma cena que tem se tornado rotina na caravana do ex-presidente pelo Nordeste

Ricardo Stuckert

Condutores de carro de boi viajaram para Arapiraca com o objetivo de ver o ex-presidente pessoalmente

Arapiraca (AL) – Dona Maria Cícera dos Santos Rodrigues, 63 anos, acordou cedo nesta quarta-feira (23) e saiu do seu bairro, Santa Esmeralda, em direção ao Parque Ceci Cunha, centro de Arapiraca. Às 8h30, já estava a postos na arquibancada do Ginásio Municipal João Paulo II. Ela queria ver o homem que “ama” receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal). De pé por horas para não perder nem um segundo da homenagem – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva só chegaria por volta de 10h, e a cerimônia iria até as 13h30 –, ela mostrou as pernas com meias de compressão, para enfrentar as varizes. “Mas nem estou sentindo”, disse.

“Hoje é um dos dias mais importantes da minha vida. Lula olhou para os pobres, deu comida a quem tem fome, água a quem tem sede.” Chorando, contou já ser aposentada e hoje atua como conselheira de saúde em seu bairro. “E esse povo de hoje, nunca mais, que homem ruim!”, disse, referindo-se ao presidente Michel Temer e às mudanças que quer fazer na Previdência para dificultar o acesso dos trabalhadores brasileiros à aposentadoria a pretexto de “enfrentar o déficit”.

A paixão que se via nos olhos de Cícera é a mesma que se vê nos olhos de milhares de pessoas que lotam os atos em que Lula recebe homenagens e presentes como fotos, cestas com frutas, doces e hortaliças. Nesta quarta, a caravana completa uma semana chegando a Maceió.

Ao receber seu título das mãos do reitor Jairo José Campos da Costa, Lula saudou sua coragem, ao manter a titulação oferecida ao ex-presidente mesmo depois de ser ameaçado de morte pelo gesto – uma prerrogativa da direção da universidade. “Nenhum agressor tem a dignidade de andar nessas ruas como você tem”, disse, ao destacar que a homenagem recebida “é mais para o povo do país”. Quando fala aos trabalhadores que acompanham sua jornada, o petista ressalta a força dos sertanejos, dos nordestinos, do povo brasileiro “que não desiste nunca”.

Dona Maria José Lins, a Marili, é uma dessas guerreiras. Aos 92 anos, paramentada em sua vestimenta colorida da Dança do Guerreiro, fez questão de participar da apresentação organizada pela associação de idosos, aposentados e pensionistas de Arapiraca. “Eu admiro ele e tive o maior prazer em conhecer pessoalmente”, disse dona Marili, que ganhou um abraço especial do ex-presidente. “É um homem de capacidade.”

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Dia de aula

Alex Gomes da Silva, o Pai Alex, presidente da ONG Casa de Caridade, não cabia em si ao ganhar um abraço especial do presidente. Sua organização atende 110 famílias de catadores de material reciclável. A ONG se qualificou como ponto de cultura – outro programa criado pelo governo Lula –, o Ponto de Luz, a partir de 2015, e tem em seu público alvo dezenas de crianças. “Somos o primeiro ponto de cultura do interior de Alagoas ligado a uma casa de candomblé. Tudo isso graças ao governo de Lula. E viemos hoje aqui só dizer a ele: muito obrigado”, disse o babalorixá, revelando o sonho de abraçar o presidente.

“Nem que ele não escute nossa voz, vai ouvir a voz dos nossos tambores e saber que muitas dessas crianças que estão aqui são filhos de catadores de reciclagem e que, no passado, alguns também eram ‘aviõezinhos’ de droga. Muitos perderam irmãos mortos pela violência. Mas graças à cultura, graças ao ponto de cultura, graças ao Lula, foram resgatados da marginalidade e estão caminhando para compor a sociedade arapiraquense, alagoana e brasileira, com esforço”, conta.

Os tambores dos pequenos do Ponto de Luz começaram a soar com toda força: Lula tinha chegado. O ex-presidente entrou na quadra, e quando viu as crianças tocando, mudou o rumo que o levava em direção ao palco e abraçou Alex. O babalorixá, que momentos antes tinha revelado o sonho de poder abraçar o ex-presidente, chorava emocionado. As crianças também ganharam beijos e abraços.

O dia especial de Lula, pela 29ª vez reconhecido com o título de Doutor Honoris Causa por seus feitos como presidente do Brasil, terminava ainda mais especial para Pai Alex e as crianças do Ponto de Luz. Mas tão logo Lula subiu ao palco, os tambores cessaram. Era hora de ir para a escola. Por mais diferente que fosse essa quarta-feira, a exigência para participar do grupo Afoxé Mirim é não faltar às aulas e ter um bom rendimento.

Assim, no futuro, a pequena Celinha, de 6 anos, poderá vir a ser uma Chirlene Oliveira de Jesus Pereira, a filha de quilombolas de Cruz das Almas que foi levar seu diploma a Lula em homenagem num dos primeiros atos da caravana, em 18 de agosto, e é mencionada pelo ex-presidente em todos os discursos que tem feito desde então.

Naquele dia, Lula foi proibido de receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, após a concessão de uma liminar solicitada pelo vereador soteropolitano Alexandre Aleluia, do DEM. “Percebi que a atitude do vereador, além de mesquinha, foi inútil. Meu verdadeiro título foi o diploma daquela menina. E ninguém vai conseguir tirar isso dela. Toda vez que um filho do povo se formar na universidade, esse é o maior de todos os títulos para mim”, voltou a dizer o ex-presidente.

Cláudia Motta/TVT/RBA e Ricardo Stuckert (Marili)
Maria Cícera aguentou horas em pé, como Pai Alex. Dona Marili, efeitada para a dança do guerreiro, ganha beijo