Pelo Brasil

Perto de completar um ano de impeachment, Dilma se integra à caravana de Lula em PE

Processo que pede anulação do golpe está parado nas gavetas do ministro Alexandre de Moraes e do procurador-geral, Rodrigo Janot. Nesta quinta, ex-presidente começa roteiro de três dias em seu estado natal

Cláudia Motta/TVT/RBA

Ônibus da caravana improvisa parada em Xexéu, entrada de Pernambuco, para saudar camponeses que aguardavam na estrada

Rio Largo (AL) – A ex-presidenta Dilma Rousseff se juntará nesta quinta-feira (24) à caravana Lula pelo Brasil. O ônibus da comitiva seguiu de Maceió para Recife, onde o ex-presidente se encontrará com Dilma e cumprirá agenda até o próximo sábado. A caravana já passou por Bahia, Sergipe e Alagoas e o nome da ex-presidenta esteve presente nos discursos de Lula nas 13 cidades já percorridas. Frequentemente é mencionada como parceira na construção, manutenção e ampliação de políticas públicas, programas sociais e investimentos em infraestrutura que alteraram o PIB nordestino e a realidade da população nos últimos anos. Pela mesma razão, a petista é frequentemente tema de cartazes e manifestações de apoio popular durante as manifestações.

Lula costuma citar também o golpe que derrubou o governo Dilma com objetivo de promover mudanças estruturais no Estado brasileiro. O impeachment da ex-presidenta – sem comprovação de crime de responsabilidade e sem nenhuma acusação que se compare às que são dirigidas a Temer e integrantes de sua equipe de governo – está próximo de completar um ano, em 31 de agosto, quando o Senado votou pelo seu afastamento definitivo. As mudanças de rota em relação ao projeto vencedor das eleições de 2014 começaram desde o primeiro dia de “interinidade” de Temer, em 12 de maio do ano passado. São portanto 15 meses do que Lula tem chamado de “desgoverno”. Ao definir a política de desmonte das empresas públicas e oferta de áreas estratégicas – energia, petróleo, crédito, previdência, infraestrutura – a empresas privadas, o ex-presidente comparou Temer a “marido que não trabalha e vende as coisas da casa”.

Mais cedo, antes de deixar Maceió, ele disse em entrevista a uma rádio local que as instituições perderam a credibilidade e que é necessário reconstruir um clima de paz para que o país volte a crescer. “Eu acredito que a decisão do povo sempre vai prevalecer. Hoje, estamos sem nenhuma instituição com credibilidade. O presidente não tem credibilidade, os partidos e o Congresso estão muito mal na imagem do povo. Então é preciso reconstruir o clima de paz na sociedade para o país voltar a crescer”, afirmou.

Por volta de meio-dia, a caravana fez uma parada improvisada à beira da estrada na altura de Xexéu, primeiro município do estado de Pernambuco, a 135 quilômetros da capital. Lula desceu rapidamente do ônibus para fazer uma saudação a centenas de trabalhadores rurais que aguardavam sua passagem pela rodovia BR-101, duas horas depois da capital alagoana. O senador Humberto Costa (PT-PE) também esperava no local. Vinte e cinco minutos mais adiante, parou novamente, em Palmares.

A organização considera “especial” a passagem pelo estado natal de Luiz Inácio. A primeira visita oficial será ao museu Cais do Sertão, no Recife Antigo, no final da tarde. Nesta sexta (25), a agenda prevê parada em Ipojuca, 77 quilômetros ao sul da capital e um dos polos do setor naval, e de óleo e gás. Ali será realizado um ato em defesa da indústria petrolífera e da política de conteúdo nacional para os setores. Em seguida, a Frente Brasil Popular e movimentos sociais o recebem na Praça do Carmo, centro da Cidade.

No sábado de manhã, a caravana visita Brasília Teimosa, local de forte intervenção de urbana e de programas sociais da prefeitura de Recife em parceria com a gestão do prefeito petista João Paulo Silva, a partir de 2004, e que teriam inspirado outras ações dos governos de Lula e Dilma. A caravana encerrará seu roteiro pelo Nordeste no Maranhão, em 5 de setembro.

Leia também

Aniversário

Além da proximidade do “aniversário” do impeachment, está perto de completar um ano o mandado de segurança apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF) em 29 de setembro de 2016. A ação assinada pelo ex-ministro José Eduardo Cardozo pede a anulação da condenação por crime de responsabilidade. A defesa alega que não há motivos jurídicos que amparem a decisão condenatória e pede a imediata reintegração de Dilma em seu mandato presidencial, apontando que o processo de impeachment nasceu de conduta caracteriza como desvio de poder do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso por corrupção em decisão da Justiça Federal do Paraná.

Em julho do ano passado, especialistas afirmavam que a anulação do impeachment permitiria à ex-presidenta revogar todos os atos de seu sucessor ilegítimo. O caso, porém, está parado na gaveta do ministro Alexandre de Moraes, com origem no PSDB e que ocupou o Ministério da Justiça logo após a posse de Temer, em maio do ano passado. O processo aguarda manifestação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

“Em um Estado Democrático de Direito não pode ser admitida a invocação de falsos motivos jurídicos para a destituição de um Presidente da República”, diz José Eduardo Cardozo, no mandado de segurança.

Movimentos pela anulação do impeachment tentam recolher assinaturas junto à população para encaminhar ao Supremo e reivindicar celeridade na apreciação do caso.

Com informações de Cláudia Motta e da TVT. Assista à reportagem do Seu Jornal