Manifestantes detidos em protesto contra Michel Temer viram réus
Jovens do caso no Centro Cultural São Paulo, que teve ‘Balta Nunes', capitão do exército disfarçado, responderão por formação de quadrilha e corrupção de menores
Publicado 29/08/2017 - 09h42
Caso foi marcado pela presença infiltrada do então capitão do exército William Pina Botelho, o Balta Nunes
São Paulo – A Justiça de São Paulo tornou réus os 18 manifestantes detidos no Centro Cultural São Paulo, em dezembro de 2016, antes de um protesto contra o presidente Michel Temer. O caso foi marcado pela presença no grupo do então capitão do exército William Pina Botelho, o Balta Nunes, que trabalhava como agente infiltrado e forneceu à polícia informações que levaram à prisão dos jovens.
A audiência em que juíza Cecília Pinheiro da Fonseca, da 3ª Vara Criminal do Fórum Criminal da Barra Funda (SP), vai ouvir os indiciados e suas testemunhas, está datada para 22 de setembro. Eles respondem em liberdade aos crimes de associação criminosa e corrupção de menores. O caso está sob segredo de Justiça.
A denúncia contra os jovens coloca objetos como gaze e vinagre, como possíveis artefatos usados para depredar patrimônio público e privado. Além de, segundo a investigação, serem indícios de que seriam usados para ferir policiais e outras pessoas durante a manifestação.
Dos 18 réus, um rapaz, Felipe Paciullo Ribeiro, não estava indo à manifestação, e utilizava o local para estudos de seu trabalho de conclusão de curso. A juíza considerou que a denúncia tinha evidências de que Felipe fazia parte do grupo.
No momento da prisão, Felipe ouviu dos policiais, cerca de 30 PMs, que ele fazia parte do grupo e que se sentiu ameaçado. “Mesmo apresentando meu material de estudos e com o resto das pessoas presas falando que não me conheciam, eles insinuaram o tempo todo que eu estava junto ao grupo. Um policial me perguntou onde eu morava. Quando eu disse meu endereço, ele me encarou e falou que morava perto de mim. Fiquei quieto”, conta.
Por meio de nota conjunta, os advogados de 14 dos 18 réus alegaram que seus clientes são inocentes e foram atraídos para uma emboscada:
“Enquanto defesa constituída da maioria dos jovens, que foram há pouco tornados réus no caso em questão, e tendo em vista a reportagem deste portal de notícias G1.globo.com a respeito desse fato, viemos a público por meio desta nota para expressar:
(1) os referidos jovens estão plenamente tranquilos quanto à sua inocência; uma vez que nada faziam de errado, não portavam nada ilegal, são pessoas de bem e apenas pretendiam ir se manifestar pacificamente naquele dia, como fizeram milhares de outras pessoas – um dos jovens, por sinal, sequer ia à manifestação, tendo sido preso pelo fato de se encontrar no lugar e hora no qual houve a detenção;
(2) a maioria dos quais sequer se conhecia, não integram qualquer organização, tendo sido unidos pelo agente “Balta Nunes”, que se fazia se passar por manifestante;
(3) esta defesa acredita na Justiça brasileira e espera que, ao final, a ordem constitucional será preservada, uma vez que, o direito à manifestação pacífica é direito fundamental.
Saccomani, Albuquerque & Biral
Sociedade de Advogados
OAB/SP 19.882″