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Em Campina Grande, Lula diz que transposição foi ‘compromisso de fé’

Ex-presidente comemorou o fim do racionamento que durava mais de dois anos, e disse que os governos anteriores não combatiam a falta d'água no Nordeste, pois só conheciam a seca pelos jornais

Ricardo Stuckert

Compartilhamento e democratização das águas do São Francisco colocaram fim a racionamento na Paraíba

São Paulo – A caravana Lula pelo Brasil chegou neste domingo à Campina Grande, na Paraíba, para o evento com o tema “Água e Democracia”, que reuniu milhares de pessoas e lideranças políticas para saudar o fim racionamento de água que atingia cerca de 700 mil pessoas, em 19 cidades da região, desde dezembro de 2014, e que só foi possível graças às obras da transposição do Rio São Francisco, que garantiram segurança hídrica para a região. 

A decisão da suspensão do racionamento chegou a ser questionada na Justiça, em liminar que foi derrubada. O governador Ricardo Coutinho (PSB) atribuiu a ação às “hienas da política” e disse que a suspensão do racionamento atendeu a critérios técnicos. “Acham que podem simplesmente privar o povo da água, porque para eles não tem racionamento, porque têm caixa d’água de 20 mil litros.”

“Como é que pode alguém entrar com um processo para evitar que o governador acabe com o racionamento?”, questionou o ex-presidente, que ressaltou os esforços realizados no combate à seca, no Nordeste, durante o seu governo e da presidenta Dilma Rousseff. Segundo ele, no início do seu mandato, a transposição era “quase um compromisso de fé”, porque alegavam que o projeto, que vinha desde os tempos de D. Pedro II, era impossível.

Aprendi que a única coisa impossível é Deus pecar. O resto a gente pode tudo”, afirmou Lula, que disse não haver comparação entre os cerca de R$ 9 bilhões investidos na transposição, que pôs fim “a um sofrimento de cinco séculos”, com os R$ 14 bilhões liberados por Temer aos deputados para barrarem a denúncia contra ele, na Câmara dos Deputados. 

Segundo o ex-presidente, o esforço efetivo para levar água ao semi-árido nordestino não havia sido feito antes, porque os governantes anteriores “só conheciam a seca pelos jornais e pela televisão”. “A seca era um dado estatístico, que não causava sensibilidade”, disse Lula, lembrando dos tempos em que chegou a carregar latas d’água na cabeça, quando era criança, em Pernambuco. 

Além das obras da transposição, Lula citou também a construção de 1 milhão e 400 mil cisternas construídas na região do semi-árido. O governador Coutinho lembrou da época em que não havia, segundo ele, uma única cisterna. “O desânimo era total, as pessoas não existiam para o poder público.” Ambos lembraram do “dia histórico”, quando as águas do Velho Chico chegaram à cidade de Monteiro, em março, na inauguração popular da transposição.

Agora, com o “compartilhamento e democratização” das águas do São Francisco, o governador diz que percebe o ressurgimento do sentimento de generosidade, que deve guiar a política. “Hoje, percebo o sentimento de generosidade quando vejo o agricultor plantando às margens do Rio Paraíba.”

Aos 79 anos, o aposentado Victor Serafim disse que foi ao evento para ver Lula, segundo ele, o melhor presidente que o Brasil já teve. “Vim aqui para ver o meu presidente. Não quero golpista. Meu pai votava em Getúlio, voto em Lula, porque ele fala a minha língua.”

O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, que também participa da caravana, também destacou o carinho da população com Lula. “Eu, que acompanhei o presidente Lula pelo mundo afora, estou vendo agora o que ele fez pelo Brasil e o carinho que o povo brasileiro tem, e como ele consegue redespertar a esperança”, afirmou Amorim. O deputado federal Vicentinho (PT-SP) contou que, no caminho entre João Pessoa e Campina Grande, a caravana teve que parar para o povo poder abraçar o ex-presidente.

Lula voltou a criticar o governo Temer. “É preciso que a gente saia às ruas, que a gente comece a defender o nosso país, porque essa gente que está lá não está apenas destruindo uma ou outra política pública que nós fizemos, eles estão tentando vender o nosso país.” 

Ele ressaltou conquistas econômicas dos 12 anos do governo do PT, com a criação de 22 milhões de empregos formais e a valorização de 74% no salário mínimo. “Agora eu vejo esse bando de jagunços querendo acabar com a aposentadoria rural do trabalhador, jogando a culpa no pequeno”.

Para o ex-presidente, o momento do Brasil é “delicado” e, assim como a seca, a fome, outro problema que havia sido erradicado, volta a ser uma ameaça. “A gente tinha acabado com a fome. A ONU reconheceu que a fome havia sido extinta no Brasil. Agora, estamos voltando para o mapa da fome. Está crescendo o número de pessoas desempregadas, de pessoas dormindo na rua, de pessoas pedindo esmola nos faróis.”

Com 97% de rejeição, Temer poderia “aliviar o país” e sair da presidência, segundo Lula. “Ele podia aliviar o país, pedir desculpas pela bobagem que fez e devolver o mandato da Dilma”, afirmou. 

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