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Gestão Doria ganha nova doação de publicidade da Ultrafarma em jogo da seleção

Despacho publicado no Diário Oficial do Município de São Paulo revela que partida de hoje contra o Equador terá dois minutos de propaganda doada

Charles Sholl/Raw Image/Folhapress

Questionado em outros momentos sobre montante doado à prefeitura, Doria se irritou e publicou valores na rede social

São Paulo – O jogo desta quinta-feira (31) à noite entre as seleções do Brasil e do Equador, na cidade de Porto Alegre, válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018, terá um novo anúncio publicitário da gestão do prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), pago pela drogaria Ultrafarma. O despacho autorizando a veiculação foi publicado hoje no Diário Oficial do Município de São Paulo, para uma propaganda de dois minutos, em painel de LED. É a terceira vez que a empresa doa anúncios publicitários para a gestão Doria em jogos da seleção. Mais uma vez, o valor da benevolência não foi divulgado, contrariando a Lei de Acesso à Informação. 

Os valores das duas doações anteriores, nos jogos entre Brasil X Uruguai, ocorrido no dia 20 de março, em Montevidéu, e Brasil X Paraguai, realizado oito dias depois, em São Paulo, ambos válidos pelas Eliminatórias, até hoje não foi divulgado. O primeiro teve um anúncio de três minutos e o segundo de cinco minutos. No dois casos, a peça de propaganda se referia ao programa de zeladoria urbana São Paulo Cidade Linda. 

“Não há como não associar essa doação, que deve ser milionária, com as intenções do prefeito Doria em projetar sua gestão para todo Brasil e se promover como candidato à presidência da República”, comentou a vereadora Juliana Cardoso (PT). “Afinal, qual é o interesse público para a cidade e para o cidadão paulistano nessa propaganda? Doações empresariais são até bem-vindas, mas se fossem para cobrir os seus cortes de verbas para o leite das crianças das escolas ou para reverter a suspensão de transporte escolar”, criticou a parlamentar.

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O coordenador da Rede Nossa São Paulo Américo Sampaio, também não vê justificativa para esse tipo de publicidade de um programa de zeladoria local em rede nacional. “O critério de avaliação tem de ser o benefício para a cidade. Por que é estratégico ter propaganda no jogo de futebol? Não há clareza de que isso traga investimentos para a cidade, por exemplo. E qual o interesse de um programa de zeladoria ter publicidade nacional?”, questionou.

Sampaio lembrou que a Ultrafarma tem interesses diretos em negócios com a prefeitura de São Paulo. A gestão Doria estuda passar parte do fornecimento de medicamentos, hoje feito nas farmácias das Unidades Básicas de Saúde, para a rede privada. A empresa já doou também medicamentos para suprir o estoque da cidade no início do ano.

“Não há transparência sobre o objetivo da doação nem do benefício à cidade. Não houve chamamento público da prefeitura dizendo que precisava de uma doação. Por mais que alegue não ter contrapartida, será que quando tiver possibilidade de negócio não vai haver alguma vantagem? A relação fica suspeita”, afirmou.

Certa vantagem a Ultrafarma já teve em um vídeo divulgado por Doria nas redes sociais, no dia 11 de fevereiro. O prefeito aparece ao lado de seus secretários, ao final de uma reunião, comentando sobre suplementos vitamínicos, complexos minerais e outros produtos da empresa. De uma forma geral, a chegada de doações prometida por Doria no início do mandato não se concretizou. Até julho, dos R$ 268 milhões esperados pelo prefeito, apenas 8% tinham efetivamente sido doados à prefeitura.

Procurada pela reportagem da RBA, a prefeitura de São Paulo informou que vai divulgar os valores da atual doação em até 30 dias. A gestão alegou que os valores das doações anteriores podem ser consultados no Portal da Transparência. Porém, o link fornecido para acessar as informações difere da própria página da prefeitura destinada a divulgar os dados de doações, comodatos e parcerias. 

A gestão Doria informou ainda que os valores das doações anteriores foram de R$ 91.875,00, para a doação de três minutos de publicidade, e R$ 153.125,00 para a de cinco minutos. No entanto, esses valores estão caracterizados como “estimado” na planilha e não correspondem ao valor do contrato celebrado, que continua em branco. 

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