Posse de Gleisi

Para Dilma, esquerda deve buscar unidade contra ‘radicalização’ do golpe

Evento teve presença de militantes, centrais sindicais, movimentos sociais, outros partidos e até embaixadores. Unidade marcou discursos e homenagens

Lula Marques / APT

Dilma, Gleisi e Lula, na posse da nova executiva do PT: retomada da normalidade democrática, com unidade das forças progressistas

Brasília – A presidenta afastada Dilma Rousseff alertou ontem (5), em seu discurso durante a posse  da presidenta nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR), e da nova executiva nacional da sigla, que a esquerda precisa ficar atenta à possível radicalização do golpe que culminou com o seu impeachment. Para ela, o governo de Michel Temer “caminha a passos largos para a ruína” e o país tem tradição de acentuar a ditadura dos golpes, lembrando o golpe de 1964 e os atos institucionais que vieram depois dele “quando mataram, exilaram e levaram pessoas à prisão”.

Segundo a ex-presidenta, “hoje é fato que houve um golpe no país e quis a história que nossa discussão passasse para o terreno do fato”, ao se referir ao seu impeachment. Dilma também destacou que “a história está sendo severa e implacável com todos aqueles que trabalharam pelo golpe e para implementar um processo de desconstrução dos nossos programas (sociais e econômicos)”.

Dilma questionou quantas vezes os políticos que agora estão presos ou são alvo de processos tentaram enterrar o PT e alardearam que o partido tinha acabado, numa referência direta ao próprio presidente, Michel Temer, ao senador Aécio Neves e ao deputado afastado e hoje preso Eduardo Cunha. “Quantas vezes nos enterraram? Quantas vezes nos deram o atestado de que tínhamos morrido? Na última eleição de 2016, nos deram esse atestado e hoje por qualquer aspecto que se olhe, o PT é, sem dúvida nenhuma, o partido que vai cada vez mais conseguindo resgatar o espaço que sempre teve”, afirmou.

Sobre Gleisi Hoffmann, que foi sua ministra da Casa Civil, Dilma disse que o PT foi capaz, ao longo de sua história, de construir lideranças masculinas e femininas, como é o caso da senadora. E acrescentou que “Gleisi tem uma imensa capacidade de trabalho e inequívoco comprometimento político”.

“Todos sabem como este partido dá importância à democracia. Sabemos que mudar é necessário, desde que não se mude de lado. Nós não mudamos de lado, mas nos adaptamos aos novos tempos”, destacou. Na avaliação da ex-presidenta, o governo Temer não tem a menor condição de aprovar as medidas propostas.  

O agora ex-presidente do PT Rui Falcão disse que o ato marcou o final de um processo muito rico para a sigla, que foi a realização do sexto congresso nacional e que esse evento se destacou, sobretudo, pela eleição de mulheres em cargos diretivos, tanto da executiva nacional, como também de vários estados (caso da deputada Erika Kokay, eleita presidenta do partido no Distrito Federal).

Realizado no auditório do centro de convenções Brasil 21, no centro da capital federal, o ato de posse da nova executiva nacional do PT mobilizou representantes do partido de todos os estados, governadores, sindicalistas, representantes de outras legendas de esquerda, de movimentos sociais e até mesmo de embaixadas de outros países, que estiveram no evento também para homenagear os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

O líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), disse que, em mais de 30 anos de vida, o PT soube mudar a forma de pensar o país e se mobilizar, não apenas para questões nacionais, mas também para a luta de cada dia dos cidadãos. “Para quem queria a destruição do partido, o que respondemos aqui é que, como se pode ver, estamos cada vez mais unidos”, afirmou.

‘Mobilização continuará’

O presidente da CUT, Vagner Freitas, aproveitou para citar o próprio ex-presidente Rui Falcão, por ter conduzido o partido durante todo o processo que levou ao impeachment de Dilma Rousseff, no ano passado. Freitas também homenageou o ex-tesoureiro do partido, João Vaccari, que foi inocentado, mas injustamente teve pedido de prisão negado.

Precisamos pressionar para que a Justiça seja feita, afirmou, ao conclamar os militantes e anunciar o calendário das próximas mobilizações, dentre as quais a vinda a Brasília de trabalhadores de todo o país, na próxima terça-feira (11), data em que está prevista a votação da proposta de reforma trabalhista n plenário do Senado.

Vagner também disse ser absurda a perseguição do Judiciário ao ex-presidente Lula e destacou que “se houver qualquer tipo de condenação, vamos tomar o Brasil e os municípios em mobilizações para pedir por Justiça”. “Continuaremos lutando pela saída de Temer, contra estas reformas e pela defesa dos nossos direitos”, acrescentou.

Eleições diretas

O governador do Piauí, Wellington Dias, foi um dos mais enfáticos ao reivindicar realização de eleições diretas para definir a sucessão de Michel Temer. Em uma fala curta, destacou a gravidade da atual crise política e ressaltou que a democracia é a melhor solução para a sucessão do atual presidente. “Temos que voltar a colocar no Planalto alguém que seja escolhido pelo povo”, afirmou.

A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Marianna Dias, afirmou que o PT tem sido importante para o futuro do país. “O PT constrói a luta lado a lado com todos os estudantes do Brasil. É necessário que a gente faça uma grande reflexão. Eu acredito que disputar a consciência do povo, de fazer o povo acreditar que a política muda a vida, possa fazer com que tenhamos vitórias, que a gente consiga construir a unidade e restabelecer a democracia no Brasil”.

Representando o PCdoB, Renato Rabelo disse que as forças de esquerda não podem, sob o peso da sucessão de pautas negativas contra os direitos dos trabalhadores, deixar de buscar a unidade da luta. “É essa unidade que vai nos manter. Não aceitaremos a política ser criminalizada. Nós nos orgulhamos de fazer política unidos, e lá no Congresso fazendo a resistência para o Temer cair”.

Mulheres

Empossada, Gleisi afirmou que o fato de ter chegado à presidência da sigla é, sobretudo, “fruto da luta das mulheres, inclusive daquelas mulheres anônimas, que lutaram para que tivéssemos espaço, mesmo em um partido como o PT, o que mais tem políticas para as mulheres, o primeiro partido a ter paridade”. Sou resultado dessa luta, de política de cotas, da paridade, da luta pela igualdade de homens e mulheres no PT. Conto com todos os companheiros, mas principalmente com todas as companheiras”. disse, ao afirmar estar ciente do tamanho dos desafios que tem pela frente.

Também participaram do evento, que recebeu cerca de mil pessoas, representantes do PDT, do PSB e integrantes do PMDB (como o senador Roberto Requião, do Paraná).

Lula Marques / APT
Gleisi Hoffman, em sua posse à frente do PT, com as também presidentas Marianna Dias, da UNE (esq) e Tamara Naiz, da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG)

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