contradições

Maia compara Temer a paciente no centro cirúrgico ‘com a barriga aberta’

Presidente da Câmara assegura votação de denúncia contra Temer pelo plenário na quarta-feira. E aposta em crescimento do DEM mesmo colado a uma agenda de arrocho com 5% de aprovação da população

Nelson Antoine/Folhapress

Maia diz que brasileiro não quer imposto, mas ignora que maioria da população não quer Temer

São Paulo – O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), diz ter “certeza” que haverá quórum para a votação da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Temer por corrupção passiva, na próxima quarta-feira (2), afastando boatos de adiamento. 

Maia comparou a situação de Temer à de um paciente que aguarda no centro cirúrgico “com a barriga aberta”, mas preferiu não especular sobre possíveis resultados, já que, como presidente da Câmara, será o “árbitro” da votação da denúncia contra o presidente. “Não se pode jogar com assunto tão sério”, disse. “Nosso papel é votar. Não votar é manter o país parado. Não podemos deixar o paciente no centro cirúrgico com a barriga aberta.”

O deputado do DEM afirma não temer os baixos índices de popularidade do governo, assegurou que segue apostando na agenda de cortes de gastos, e manifestou apoio ao aumento de impostos nos combustíveis como forma de aumentar a receita. 

A convite do presidente da Câmara Municipal, vereador Milton Leite (DEM), que ocupa a cadeira de prefeito – com a ida do titular João Doria à China e o afastamento do vice Bruno Covas (PSDB) por problemas pessoais – , Maia almoçou, na sede do executivo municipal, na companhia de cerca de 20 deputados e vereadores do seu partido.

Com a possível chegada de cerca de uma dezena de deputados do PSB, o DEM espera turbinar sua bancada, planejando, inclusive, superar os tradicionais aliados do PSDB, hoje terceira força da Casa.

Perguntado se a impopularidade do governo Temer pode ser obstáculo para essa estratégia, Rodrigo Maia preferiu reafirmar apoio, e do seu partido, às propostas do governo, em especial a reforma da Previdência. Disse que mais importante do que a popularidade, ou impopularidade, do governo atual é a “responsabilidade”, segundo ele, com que as reformas vêm sendo conduzidas.

Ao concordar com uma eventual ampliação do rombo fiscal em cerca de R$ 30 bilhões, medida considerada pela equipe econômica para tentar fechar as contas do ano, o parlamentar disse que “o brasileiro não aceita mais privilégios e aumento de impostos”. O presidente da Câmara ignorou o fato de que os brasileiros também não aceitam mais Temer, hoje apoiado, de acordo com pesquisa CNI-Ibope divulgada nesta quinta-feira (27), por 5% da população, ante 70% que o classificam como ruim ou péssimo.  

O anfitrião Milton Leite pediu a Maia para levar demandas ao Palácio do Planalto. Leite afirmou que a cidade de São Paulo não tem condições de arcar com os impactos da elevação da tributação dos combustíveis no transporte público, e que não se cogita repassar o aumento para as tarifas. O prefeito em exercício classificou ainda como inaceitável que o governo Temer congele, por completo, verbas destinadas a obras do programa Minha Casa Minha Vida, em São Paulo.