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Manifestantes fixam cruzes no gramado do Congresso Nacional

Cada cruz representa um direito que será perdido caso a proposta de reforma trabalhista seja aprovada. Caravanas que estão na capital reúnem trabalhadores de pelo menos nove estados, de várias categorias

José Cruz/Agência Brasil

Em cada cruz um direito ameaçado: licença-maternidade remunerada, intervalo do almoço, concurso público, acordo coletivo e progressão salarial

Brasília – Enquanto o Senado continua com luzes apagadas no plenário, mesa diretora ocupada por senadoras da oposição e integrantes da base aliada reunidos para decidir sobre a continuidade dos trabalhos, manifestantes de vários estados brasileiros se reúnem em pontos estratégicos da capital do país. Eles protestam, de forma pacífica, mas organizada, contra a proposta de reforma trabalhista. Na manifestação desta terça-feira (11) as concentrações foram divididas em regiões administrativas do Distrito Federal, no espaço do servidor (na Esplanada dos Ministérios), na área em frente ao Congresso Nacional, na rodoviária do Plano Piloto, em frente ao Palácio do Buriti (sede do governo do DF) e no campus da Universidade de Brasília (UnB).

No total, são caravanas de trabalhadores de Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso formadas, em sua maior parte, por professores, bancários, servidores públicos, metalúrgicos, eletricitários e comerciários.

Eles viajaram até Brasília no final de semana para acompanhar a votação da reforma e, como ponto mais emblemático do protesto, fixaram no gramado localizado em frente ao Congresso aproximadamente 100 cruzes brancas que representam perdas de direitos para os trabalhadores brasileiros.

Em cada cruz está uma inscrição como licença-maternidade remunerada, intervalo do almoço, concurso público, acordo coletivo e progressão salarial. “Tudo isso vai se perder se a gente não conseguir barrar a reforma. Estamos animados com o fim desse governo, achando que o Temer vai sair, mas não adianta sair e deixar essa reforma aprovada, porque não vai melhorar muito as coisas para nós. Se Rodrigo Maia (presidente da Câmara) chegar ao Planalto, para nós vai dar no mesmo”, reclamou o analista de sistemas Robson Tavares.

Servidor público cearense, Tavares destacou que a questão não é apenas a mudança nas regras trabalhistas, mas as reformas neoliberais que o grupo que está no poder tenta implantar no país como um todo.

‘Estado de exceção’

Mais dispersos depois da notícia da “ocupação” da mesa diretora pelas senadoras, os manifestantes aproveitaram para criticar, do microfone dos carros de som, o que chamaram de “arbitrariedade” por parte do presidente do Senado. “A cada dia que passa temos maior percepção de que estamos vivendo um estado de exceção no Brasil. Essa atitude do senador Eunício Oliveira de suspender a sessão e proibir a entrada de jornalistas e sindicalistas ao plenário é uma prova nítida disso”, disse Francisco Machado, representante do Sindicato dos Servidores Públicos do DF.

O bancário Max Bezerra, de Nova Friburgo, trouxe junto com ele um grupo de bancários de várias cidades do interior do Rio de Janeiro e aguardava o desenrolar dos acontecimentos no Senado, para decidir se continuaria em frente ao Congresso ou se se mobilizaria com o grupo para outro local onde estão acontecendo manifestações. Max classificou a proposta de reforma trabalhista de “golpe continuado”.

“Até mesmo o episódio observado no final da manhã no Senado consiste em golpe, pretexto para dar andamento às propostas. Enquanto estivermos vendo programações de TV direcionadas para um determinado setor, o país viverá uma espécie de realidade paralela. A solução é ir para as ruas e se posicionar”, afirmou.

A professora Adriana Andrade, do Paraná, lembrou das lutas que os sindicatos de professores têm feito em todo o país, como forma de combater o salário pequeno pago à categoria e reclamou que, caso seja aprovada a reforma trabalhista, a situação ficará ainda pior. “Para pessoas como eu, que sou concursada, a situação já é difícil, que dirá para outros trabalhadores. Esta reforma é uma perda total para o país, com precarização de direitos para todos”, disse.

Saída de Temer

Entre os eletricitários, o ambiente foi de faixas e cartazes tanto contra vários itens da reforma como também pedindo a saída do presidente Michel Temer. “Estamos tendo um dia de mobilização silenciosa hoje, sem alarde nem grandes passeatas, mas sabemos que nosso clamor está sendo ouvido e queremos acompanhar a votação da proposta até o fim”, afirmou Edvaldo Nogueira, de Goiás.

A CUT Brasília e seus sindicatos filiados realizaram, durante a manhã, passeata que intitularam de “Marcha Contra os Assassinos de Direitos”, em oposição aos senadores que declararam apoio ao texto da reforma. “Essa matéria retira todos os direitos da classe trabalhadora em benefício dos capitais financeiro, agrário e empresarial, os verdadeiros responsáveis por colocarem Temer no poder e que agora cobram a alta fatura do financiamento do golpe”, afirmou o presidente da CUT local, Rodrigo Britto.

“Os trabalhadores e trabalhadoras não se esquecerão dessa traição por parte dos parlamentares. A CUT, os sindicatos e os movimentos sociais, em todos os estados, estamparão nas ruas e nas redes sociais, a cara desses assassinos de direitos para que sejam riscados do cenário político nacional”, destacou Britto.

Desde as 13h até por volta das 16h45, as senadoras que ocuparam a mesa diretora do plenário continuam no local, dentro do plenário, com luzes apagadas. As senadoras são Fátima Bezerra (PT-RN), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Vanessa Graziotin (PCdoB-AM), Regina Sousa (PT-PI), Kátia Abreu (PMDB-TO) e Lídice da Mata (PSB-BA). Elas estão sendo acompanhadas por senadores da oposição, que as apoiam neste protesto.