cabeça erguida

Lula: ‘Trabalho para que a juventude possa voltar a ter esperança’

Em entrevista, o ex-presidente disse que o golpe no país tenta 'evitar que alguém que provou ser possível resolver o problema dos pobres volte ao governo'

reprodução/facebook

Para Lula, a condenação é frágil, carece de materialidade e visa impedir sua candidatura em 2018

São Paulo – “Estamos em uma situação de intolerância quase absoluta. Não é possível construir uma sociedade nova se as pessoas não forem afáveis, carinhosas. Que exijam politicamente, mas que tenham esperança”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã de hoje (18), em entrevista ao radialista Eli Corrêa, da Rádio Capital. “Acredito cegamente e trabalho para que a juventude possa voltar a sonhar e ter esperança, e é preciso de um governo com credibilidade para isso”, completou.

Durante a entrevista, Lula tratou de temas relacionados à sentença do juiz Sérgio Moro, que o condenou a nove anos e meio de prisão no processo referente ao caso do tríplex do Guarujá, além da conjuntura política brasileira após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em maio do ano passado. “Veja bem, eles deram um golpe. E se eu voltar, o golpe não se fecha. Então, é preciso tentar evitar que alguém que provou ser possível resolver o problema dos pobres nesse país volte ao governo, porque na tese da elite, o Brasil tem que ser construído para uma parte da sociedade. Incomodamos essa gente”, disse.

Para Lula, sua condenação é frágil, carece de materialidade e visa a impedir sua candidatura em novas eleições. “A sentença é uma peça cheia de inverdades. Estou convencido que o juiz Moro não levou em conta os autos do processo, porque não tive só testemunhas de acusação que me defenderam, mas também 73 testemunhas de defesa que ele não levou em consideração. Ele não levou em consideração a verdade, porque o apartamento nunca foi meu. Portanto, estou convencido que o Moro me deu, na verdade, a oportunidade de continuar me defendendo”, afirmou.

Lula reafirmou sua posição de crítica à Operação Lava Jato, acusando os responsáveis em diferentes instituições de atuar de maneira “política e mal intencionada”. “Não morrerei tranquilo enquanto não provar para minha bisneta e para todos da minha família e do povo brasileiro que há uma verdadeira perseguição, uma tentativa que entendo, desde a apresentação do Power Point pelo procurador Deltan Dallagnol, que estava sendo julgado por um processo político onde a verdade não importa. A Polícia Federal da Lava Jato mentiu, o Ministério público da Lava Jato mentiu e o juiz deu a sentença sem nenhuma explicação porque não tem nenhuma prova.”

Mídia e rejeição

O ex-presidente argumentou que, na sentença, Moro, além de ignorar sua defesa, levou em conta a opinião da mídia comercial. “Só para ter ideia, o juiz cita nove vezes uma reportagem do jornal O Globo e não cita nenhuma vez minha defesa (…) Falei para o Moro que ele está preso ao compromisso que ele tem com a imprensa. Ele não tem como ter uma posição que não seja de me condenar, porque a imprensa já me condenou. Sobretudo a Rede Globo. Então, ele tem que prestar contas”, disse.

“O que aconteceu foi que a sentença saiu, todos os juízes criminalistas condenaram a fragilidade, então a Globo tratou de tentar dar veracidade”, disse em relação à cobertura do fato dada pela emissora. “Vamos entrar com pedidos de respostas para poder, dentro da Globo, explicar corretamente o que está acontecendo”, afirmou.

Lula também atribuiu a rejeição de parte da opinião pública aos veículos de comunicação hegemônicos. “O Jornal Nacional (Globo) já fez 20 horas de notícias contra mim. Isso sem contar o Bom Dia Brasil, boa tarde, boa noite, todos os jornais e todas as revistas. Veja, o Aécio Neves (senador do PSDB e ex-governador de Minas Gerais) não aguentou uma capa de revista. Com apenas uma, os tucanos caíram todos. Eu tenho 59 capas contra mim e estou inteiro, disposto a brigar. A rejeição existe para conversarmos com as pessoas que temos como arrumar o Brasil.”

Por fim, o ex-presidente afirmou “ter uma obsessão” relacionada com a defesa de sua integridade. “Quero ver a Globo colocar um apresentador para pedir desculpas para mim. Cada segundo que eu tiver será para provar minha inocência e, quem sabe, um dia eles peçam desculpas. Não é possível o que eles estão fazendo comigo, achando que vou abaixar a cabeça. Mexeram com uma pessoa que herdou de uma mãe analfabeta o direito de andar de cabeça erguida. Vou brigar até as últimas consequências”, concluiu.