balança mas não cai

Para analista, Temer depende de Renan e do PSDB, mas pode ‘sangrar até 2018’

Presidente ainda depende, entre outros fatores, de como será a atuação de Raquel Dodge na PGR e da postura do STF, cujo ministro Marco Aurélio decidiu restituir o mandato de Aécio Neves

Marcelo Casal Jr./ABr

Professora não descarta um “acordão”, que parece estar em andamento após decisão do STF que beneficia Aécio

São Paulo – São vários os fatores políticos que podem interferir positiva ou negativamente na capacidade de Michel Temer se manter na presidência da República. O cenário permanece imprevisível. Esta sexta-feira (30) foi marcada por manifestações em todo o país contra o peemedebista, um dia após a Câmara dos Deputados notificar o presidente sobre a denúncia da Procuradoria-Geral da República pelo crime de corrupção passiva de que é acusado.

Desde a absolvição pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Temer tem se balançado entre vitórias que lhe dão fôlego e ameaças que pesam sobre seu “mandato”, entre as quais se destacam a denúncia de Rodrigo Janot, que pode se desdobrar em outras, e a possível perda de aliados decisivos na Câmara, no momento em que o presidente precisa de 172 votos (do total de 513) para evitar que a denúncia da PGR tenha andamento. Caso o plenário autorize, caberá ao Supremo Tribunal Federal (STF) analisar a acusação.

O PSDB e o PMDB continuam a ser os partidos que vão decidir o futuro de Temer. “Ainda está confuso o cenário sobre qual a força que Renan Calheiros terá para desestabilizar o apoio que Temer ainda consegue segurar com os partidos grandes, o próprio partido dele e o PSDB, que se mantém nessa indecisão absurda. Se o posicionamento do PSDB for de sair do governo, a tendência fica mais precária para Temer na Câmara”, avalia a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos.

É fato que a denúncia de Rodrigo Janot aumenta consideravelmente a pressão sobre o PSDB, que já está rachado sobre se deve ficar ou sair do governo. De outro lado, há o fator Renan Calheiros. O senador do PMDB de Alagoas não apenas renunciou à liderança do PMDB na quarta-feira (28), atacando Temer, como afirmou que o impeachment de Dilma Rousseff  “foi um erro”. “A ideia de que todos os problemas se resolveriam com o afastamento dela foi uma estratégia do Eduardo Cunha para governar sob as costas do Michel”, disse.

Além do PSDB, Temer depende também, entre outros fatores, de qual será o tamanho da influência do senador de Alagoas na bancada peemedebista da Câmara. A sua influência é inversamente proporcional à capacidade de Temer resistir. “Renan pode angariar votos até de outros partidos no plenário da Câmara. Sua atitude aponta no sentido de ele romper com o grupo de Temer”, diz Maria do Socorro. “Ele vê que, se continuar com o governo, vai ter problemas em 2018.”

O filho do senador, Renan Filho, é governador de Alagoas e vai disputar reeleição em 2018.  Renan conhece como ninguém a popularidade do ex-presidente Lula no Nordeste brasileiro.

Acordão?

No cenário político, na opinião de Maria do Socorro, não está descartado um “acordão” que parece estar em andamento. Ela cita o caso do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que comemora a decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, que decidiu nesta sexta-feira (30) restituir o mandato do parlamentar. Ele havia sido afastado pelo ministro Luiz Edson Fachin depois da denúncia da PGR acusando-o de corrupção e obstrução da Justiça. 

“Para Aécio ter se livrado dessa forma, parece existir um ‘acordão’ que pode estar em andamento. Se Aécio sai impune de tudo isso, Temer também sairá, a não ser que algo aconteça nos próximos dias”, diz a professora. “Por esse lado, a gente vê o Temer se safando, pelo menos por enquanto, ou sangrando até 2018. Está mais para isso hoje do que para um impeachment, por exemplo.” Para ela, eleições indiretas não são, no momento, um cenário que interesse ao grupo que comanda o país liderado por PMDB e PSDB. “O que está em jogo é a votação de reformas.”

Há duas semanas, o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas avaliou que a permanência do PSDB no governo é provisória e que os tucanos ficariam no governo “apenas enquanto estiver sendo votada a reforma trabalhista e, talvez, tente avançar a reforma previdenciária”.

Para Maria do Socorro, Temer tem um trunfo com a indicação da procuradora Raquel Dodge para a PGR. Antes da indicação, ela era apontada como favorita de Temer e aliados, além de opositora de Rodrigo Janot. Não se sabe se ela manterá ou não as investigações com a determinação esperada pela oposição.

“Com a indicação, Temer se fortalece e Janot se enfraquece. Precisamos ver como ela vai agir. Se ficou em segundo lugar (na votação da lista tríplice) é porque tem força entre procuradores. Quanto maior a tendência de ela segurar as investigações, maior a tendência de Temer ficar, porque ele conseguiria segurar seus aliados”, avalia. Raquel Dodge assume a PGR em setembro.

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