TENSÃO NO AR

Para senadora, Câmara cometerá ‘suicídio político’ se proteger Temer

Vários encontros foram marcados para acertos sobre trocas de cadeiras na CCJ e escolha do relator do pedido da PGR

Marcos Oliveira / Agência Senado

Fátima Bezerra: além de golpista, Temer organizou quadrilha criminosa em menos de um ano de mandato

Brasília – A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) defendeu hoje (29) que a Câmara acolha o pedido de indiciamento da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer. “Se a Câmara livrar a cara do presidente da República, cometerá um suicídio político, com consequências dramáticas para o Brasil”, afirmou.

Fátima disse, em discurso no plenário, que “além de ser taxado como golpista e contra os trabalhadores, Michel Temer conseguiu algo inédito no Brasil que foi o fato de, em menos de um ano de mandato, organizar uma quadrilha criminosa, fazer obstrução da Justiça e ser o primeiro presidente no exercício a ser denunciado por corrupção”.

O Congresso Nacional já está esvaziado hoje, com a expectativa de parlamentares se reunirem nos seus estados para negociar apoios sobre a posição de colegas, seja pela rejeição ou pelo acolhimento do pedido de indiciamento de Temer. As discussões a serem feitas passam por substituições, postulação de nomes para a relatoria da matéria, por obstruções aos trabalhos e alertas aos deputados e senadores.

Apesar das declarações da senadora Fátima Bezerra, o embate mais duro do dia foi travado entre os senadores do PT e o presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Ele convocou a realização de duas sessões plenárias na Casa e os petistas questionaram o motivo do açodamento, visto por eles como forma de garantir a continuidade dos trabalhos e se contrapor ao movimento da oposição de reduzir o ritmo de tramitação de matérias. A intenção dos oposicionistas, com a estratégia (que está sendo combatida pela base aliada) é garantir o acolhimento da denúncia.

Eunício, apesar de costumar adotar posturas polidas, desta vez respondeu aos senadores de forma curta e grossa. Disse que a convocação das sessões consiste em “prerrogativa” que lhe cabe e da qual ele “não abrirá mão”.

Na Câmara, o que chamou a atenção foi o cancelamento da reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), por falta de quórum, no início da manhã. A CCJ é alvo da atenção de todas as bancadas partidárias nos últimos dias, pelo fato de vir a ser a comissão que receberá a denúncia da PGR na próxima semana (após o cumprimento do prazo que precisa ser dado para a defesa de Temer se manifestar, que é de dez sessões plenárias).

Discussão pela relatoria

A previsão apontada nos bastidores é de que a apreciação da denúncia pode ser concluída até o final de julho, caso o recesso seja cancelado. E mesmo sendo dado como certo que a principal discussão, hoje, entre os partidos, está relacionada a trocas dos integrantes do colegiado de forma a garantir votos favoráveis ou contrários a Temer, um outro grupo já iniciou a briga pela relatoria da matéria na CCJ.

A base aliada trabalha para que o relator seja o deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), mas Moreira conta com grande restrição por parte dos oposicionistas, que não querem que a relatoria caia nas mãos de alguém da mesma legenda do presidente da República.

O líder do PT na Casa, Carlos Zarattini (SP), lembrou conversas que os petistas tiveram com o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), no sentido de garantir um nome que tome postura de isenção. Em reservado, entretanto, o que se fala é que nem os oposicionistas nem os integrantes da base aliada estão seguros em relação à escolha a ser feita por Pacheco.

“Já dissemos, e reitero outra vez, que não permitiremos quebras regimentais na apreciação desta denúncia”, disse Zarattini. “A base aliada tem que atuar em favor do governo e isso não se questiona”, afirmou Darcísio Perondi (PMDB-RS), um dos principais aliados do Planalto na Casa, numa ironia à possibilidade de o presidente da comissão ter dito que procurará adotar uma postura de independência.

No Senado, os parlamentares se dividem entre trabalhos para impedir a tramitação de matérias emblemáticas, de forma a contribuir para que seja priorizada a apreciação da denúncia da PGR pela Câmara e, ao mesmo tempo, para apoiar e acompanhar as articulações dos deputados.

“Os brasileiros estão sendo rifados para que sejam atendidos interesses pessoais. É um absurdo sem precedentes o que está acontecendo no país”, acusou o senador Humberto Costa (PT-PE). No mesmo tom, Jorge Viana (PT-AC) – um dos primeiros a alertar que não existe clima de normalidade como tenta pregar o governo e a pedir que as reformas parem de tramitar – afirmou que “mesmo a votação sendo somente na Câmara, o Senado não tem condições de trabalhar normalmente no momento pelo qual passa o país”.

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