Desequilíbrio

Segundo o Dieese, ‘Conselhão’ pendeu para o lado empresarial

Diferença é de concepção, observa diretor técnico. Na visão dos trabalhadores, Estado deve ter presença maior na economia. 'Ficou difícil ter um debate equilibrado. Crise política só aguçou o problema'

Beto Barata/PR

Temer e Roberto Justus, que hoje integra o Conselhão: formação do CDES passou a privilegiar empresários

São Paulo – O diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, pode deixar nos próximos dias o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o chamado Conselhão. Ele já conversou com alguns dirigentes e deverá discutir o assunto na segunda-feira (29) com a direção do instituto, ponderando que se trata de uma decisão institucional. Ainda que o colegiado, criado em 2003, continue funcionando do ponto de vista formal, como observa Clemente, na dinâmica política e econômica tem prevalecido uma visão empresarial, com representação reduzida dos trabalhadores no atual formato. “Ficou difícil manter um debate equilibrado”, observa. O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, anunciou sua saída.

Segundo Clemente, já havia certo “desconforto” interno, no CDES, pelo andamento da discussão. “Do ponto de vista formal, o trabalho do Conselhão continua tendo uma dinâmica, uma efetividade semelhante à que tínhamos no passado. O fato real é que houve um desbalanceamento muito grande. A participação dos trabalhadores ficou minoritária. Essa crise política só aguçou o problema”, afirma o diretor técnico do Dieese.

As próprias reformas, trabalhista e da Previdência, refletem o ponto de vista predominante. No primeiro caso, Clemente aponta “um ataque frontal a todos os direitos dos trabalhadores”, o que faz ficar ainda mais sem sentido permanecer no Conselhão. “Nossa posição não tem expressão e é divergente daquilo que o governo vem fazendo.”

E as propostas da gestão Temer se afastam ainda mais do Compromisso pelo Desenvolvimento, um documento firmado por trabalhadores e empresários no final de 2015, com princípios básicos de retomada. Bastante distintos da visão atual, tornando nítidas as diferenças de concepção de modelos. “Eles acham que a retomada do desenvolvimento passa pelo aporte de capital internacional. Nós achamos que deve haver uma estratégia fortemente orientada pela capacidade de intervenção do Estado.”