Curitiba

‘Medo do que Lula tem a dizer explica decisão de Moro’, diz professor

Para o cientista político Pedro Fassoni, da PUC-SP, Moro receia principalmente o estrago que o depoimento do ex-presidente pode fazer nas redes sociais quanto à conduta parcial do juiz

Acampamento pela Democracia

O apoio de famílias a Lula, em Curitiba, e sua crescente popularidade também explicam temor de Moro

São Paulo – A proibição da gravação do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz federal Sérgio Moro na tarde de hoje (10), em Curitiba, no âmbito da Operação Lava Jato, não tem outra justificativa senão o medo do que Lula tem a dizer. A avaliação é do cientista político da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Pedro Fassoni. “Não vejo outra explicação mais verossímil que eu possa encontrar. As provas contra Lula são muito frágeis”, diz.

“Não existe justificativa para a proibição do depoimento, que está previsto no Código Penal. O advogado do réu tem o direito de gravar. O que Moro receia é que caia nas redes sociais a argumentação de Lula, revelando mais uma vez que sua conduta é parcial.”

Fassoni destaca a conduta de Moro, que vem sendo muito criticada por juristas e até mesmo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e lembra a divulgação da escuta de uma conversa entre a então presidenta Dilma Rousseff e Lula, em março de 2016. “Diante das críticas, ele pediu desculpas  aos integrantes do STF, mas não aos prejudicados pela divulgação e nada aconteceu com esse juiz.”

Outro aspecto é o fato de o juiz continuar a circular com desenvoltura entre integrantes do atual governo, parlamentares do PSDB, PMDB, Democratas, lideranças empresariais. Inclusive jantares e eventos promovidos pelo atual prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e até mesmo lançamento de livros contra Lula.

“Pesa ainda a forte militância da família de Moro no Paraná. Há muita coisa sobre o comportamento desse juiz que precisa ser questionada.”

Para ele, o fato é que os depoimentos que incriminam Lula foram feitos por pessoas que já estão na cadeia e que tiveram uma possibilidade de ter sua pena atenuada. “Existe uma tortura, uma pressão psicológica para que algumas pessoas que estão presas na carceragem em Curitiba acabem incriminando o Lula para poder obter um tipo de vantagem nisso.”

Para Fassoni, o que tem preocupado são os chamados vazamentos seletivos. “Até agora tivemos 70 pessoas que inocentaram o Lula e apenas duas aí que disseram que o tríplex do Guarujá pertence a ele ou pertenceu em algum momento. Curiosamente só esses dois acabaram vazando. Os outros 70 não. Veja que ele joga para o público que a ação do Moro trabalha em sinergia com os oligopólios midiáticos.”

Exemplo disso são as revistas semanais (Veja e IstoÉ), que colocam em suas capas a figura de Lula e Moro como adversários, quando o juiz deveria estar analisando os dois lutadores. A luta, para Fassoni, teria de ser entre a defesa e a acusação, o advogado de um lado e o Ministério Público do outro – quando na realidade se tem o juiz como julgador e como acusador. “A gente já imagina qual vai ser a sentença, né?”

Apoio a Lula

Para o professor da PUC, o temor do juiz federal tem outra razão: a forte presença de militantes dos movimentos sociais, que enviaram centenas de ônibus lotados em apoio a Lula, e o crescimento de Lula nas pesquisas eleitorais.

“A militância está atuante, a popularidade do Lula vem aumentando nas últimas semanas. A gente vê que ele é favorito em todas as pesquisas para a presidência em 2018 e vem caindo a aprovação popular ao Moro. Se no ano passado era mais de 70% da população, hoje tem apenas 44%.”

E o fato de Lula ter crescido nas últimas semanas demonstra a perseguição política com fins partidários. Ele também destaca que, entre as pessoas que há pouco tempo batiam panela em varanda gourmet, as reformas da Previdência e trabalhista acabam sendo bastante prejudiciais aos seus interesses.

“Então cai a popularidade do presidente golpista Michel Temer, 4%, a mais baixa popularidade da história, 71% da população é contra a reforma da Previdência com toda essa campanha sistemática dos oligopólios midiáticos martelando todos os dias a mentira de que Previdência é deficitária, a maioria é contra.”

É importante também pensar que nessa ação penal quando o Ministério Público protocolou a denúncia, com centenas de páginas, alguns minutos depois já havia saído o despacho do juiz autorizando o início da ação penal. “Ou seja, não houve nem tempo para a defesa.”