Crise

Classe política está encurralada, diz analista

Para Maria do Socorro Sousa Braga, presença de Temer, de certa forma, sustenta parte da classe política envolvida em atos ilícitos. Sua queda poderia levar boa parte de parlamentares de roldão

Reprodução/TV Câmara

“Eles querem passar as reformas a qualquer custo, mas não tem condição”, diz professora da Ufscar

São Paulo – O momento a que chegou o país, no processo que culminou com as mobilizações do Ocupa Brasília, reflete a situação que vive um governo sem nenhuma capacidade de funcionar. “É um governo que quer passar as medidas a qualquer custo, e a oposição tenta segurar, dada a ilegitimidade concretizada nas últimas semanas, a partir do momento em que se soube que o presidente Michel Temer está envolvido nisso tudo. Vivemos a expressão da situação a que o Brasil chegou. A classe política está encurralada”, diz a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

Para a professora, a permanência de Temer na presidência vai depender da pressão. “É difícil prever porque ele tem apoio de uma parte da classe política que sabe que, se ele sai, pode ser preso. Não acho que ele sai por renúncia.”

A capitulação de Temer no atual momento poderia levar diversos políticos de roldão, acredita a analista. “Porque a presença dele, de certa forma, sustenta parte dessa classe política envolvida em atos ilícitos.”

Ela observa que o Congresso Nacional está “pegando fogo”, em referência à tentativa do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aliado de Temer, de prosseguir com a votação das reformas e medidas do governo. “Eles querem passar as reformas a qualquer custo. Mas não tem condição de dar continuidade a essas reformas”, afirma Maria do Socorro.

Em discurso na Câmara na tarde desta quarta-feira (24), a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) protestou contra a tentativa de Maia de conduzir uma sessão na Casa como se nada estivesse ocorrendo em Brasília. Ela denunciou a repressão contra manifestantes e parlamentares. “Mais de 100 parlamentares nas ruas foram vítimas de violência. Encaminhe (a sessão) pela excepcionalidade dos problemas no Brasil. Não há clima para deliberações normais”, disse a parlamentar, dirigindo-se a Maia.

A deputada citou uma frase de Ulysses Guimarães, que comandava a Câmara à época da promulgação da Constituição de 1988. “Quando querem impedir a palavra do povo, isto é que é grave”, disse. “Estão condenando Ulysses como a ditadura fez. Querem construir uma nova ditadura.”

O clima na Câmara dos Deputados está tenso. Maria do Rosário pediu que Rodrigo Maia exerça um papel institucional. Mas a sessão continuou. “Vossa excelência não pode ser preposto do governo Temer. Aja como instituição, como Câmara dos Deputados, como é da altura dos grandes que ocuparam esta casa.” Por volta das 17h, Maia suspendeu a sessão por 30 minutos, depois de reconhecer que solicitou a segurança das Forças Nacionais.

Maia convidou as lideranças dos partidos a irem a seu gabinete para esclarecer as versões sobre a presença das Forças Armadas na Esplanada dos Ministérios. Deputados da oposição denunciaram que intervenção de forças federais tinha sido pedida pelo presidente da Câmara.

“Eu pedi ao governo a intervenção da Força Nacional para a proteção dos manifestantes, dos servidores e do patrimônio público. Se o governo decidiu pelo envio de tropas das Forças Armadas foi em razão do que avaliou pelo já ocorrido”, afirmou Maia. 

“Parte da população está em casa e assiste de camarote. E a outra acredita que indo para a rua é capaz de mudar e não deixar quem está no poder continuar as reformas”, diz Maria do Socorro, da Ufscar.

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