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Roberto Romano: governo Temer se desmancha por falta de ética e legitimidade

'Não escapa ninguém', afirma o filósofo, que também critica excessos do Judiciário, e aponta para a necessidade de novo modelo de Estado, a partir de uma nova Constituição

reprodução/Unicamp

“Necessitamos de uma mudança radical, de uma nova Constituição e de um novo modelo de Estado”, diz Romano

São Paulo – Para o filósofo Roberto Romano, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a atual crise institucional e política, que ele classifica como “descontrole institucional”, é uma “tragédia” que vinha sendo anunciada “há muito tempo”. 

O presidente não pode ser questionado por ter o privilégio do cargo, mas o ministério inteiro está se liquefazendo, não tem ministério. Os principais nomes dos ministérios estão implicadíssimos, o que significa a reiteração absoluta da falta de legitimidade e ética, não escapa ninguém, é uma radiografia impiedosa da classe política brasileira”, destaca Romano. 

Ele, e mais outros quatro professores da Unicamp, em entrevista ao jornal da universidade, avaliam as consequências da divulgação da chamada Lista de Fachin – que traz dezenas de políticos, entre ministros, senadores, deputados e governadores, que agora são investigados a partir das delações de executivos da Odebrecht – para o atual cenário político, agora em xeque. 

“O país está em situação de quase ilegalidade, de muito pouco exercício legítimo do poder, tanto no Executivo e Legislativo, como no Judiciário. Vivemos um estado de anomia. Quando não há normas vigentes, não se obedece a normas e padrões éticos.“, analisa o professor.

O filósofo também chamou a atenção para a atração pelos holofotes de figuras do Judiciário que, desde o processo de impeachment contra a ex-presidenta Dilma, “frequentaram muito mais a mídia que artistas”. 

Ele também criticou o “cinismo” com que as denúncias foram recebidas por alguns políticos, dentre eles, o deputado federal Paulinho da Força (SD-SP), que afirmou que aqueles que não apareciam na lista de investigados estariam “sem prestígio”, e também de setores da mídia, “mais preocupada com as reformas”. 

É o anúncio dos fins dos tempos, do apocalipse. Necessitamos de uma mudança radical, de uma nova Constituição e de um novo modelo de Estado”, apela o professor. 

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