Análise

Representações dos movimentos sociais podem fortalecer a esquerda no Congresso

Movimentos precisam incorporar a prática de eleger seus representantes diretamente para o Legislativo e legendas populares deveriam facilitar essas candidaturas

Paulo Pinto/AGPT

A única forma pela qual a esquerda pode ter maioria no Congresso é pela presença generalizada dos representantes diretos dos distintos setores da sociedade no Congresso

Vários fatores se juntaram para que fosse possível o golpe contra a democracia, que fechou o período mais importante, até aqui, da nossa história. Entre eles, está o Congresso mais conservador que o país teve na democracia. Não fomos capazes de eleger um Congresso ao menos tão ruim como os anteriores, e sim um insuperavelmente ruim.
 
O Congresso deveria ser a cara da sociedade, expressando sua diversidade na proporção real em que ela existe. Mas este expressa de maneira absolutamente deformada a realidade concreta. Basta dizer que há uma enorme bancada ruralista e muito poucos representantes dos trabalhadores rurais. Há uma grande bancada que defende os interesses da educação privada e poucos representantes da educação pública. Da mesma forma ocorre com a saúde privada e a saúde pública. Há poucos representantes dos movimentos de mulheres, dos movimentos de negros, dos movimentos de jovens, dos movimentos indígenas, dos movimentos LGBT, e assim por diante.
 
E foi com esse Congresso conservador, eleito pelo poder do dinheiro, com a caixinha que os grandes empresários entregaram a Eduardo Cunha – só a Odebrecht confessa ter entregue recursos para financiar a 140 parlamentares –, que o golpe se impôs e que todos os imensos retrocessos têm sido colocados em pratica.
 
A única forma de reverter essa situação é que os movimentos sociais incorporem a prática de eleger seus representantes diretamente para o Congresso. Isso vale para os sindicalistas em geral, mas em particular para todas as categorias – professores, bancários, petroleiros, metalúrgicos, químicos, trabalhadores rurais etc. –, assim como para os movimentos de negros, de jovens, de mulheres, de indígenas, LGBT, e de todas os demais segmentos que estão presentes na sociedade brasileira.
 
Esses parlamentares não vão substituir os atuais, eleitos em geral pelo voto de opinião, pelo apoio difuso e generalizado que costumam ter na sociedade. Vão reforçar essa bancada, da única forma pela qual a esquerda pode ter maioria no Congresso, pela presença generalizada dos representantes diretos dos distintos setores da sociedade no Congresso.
 
Os partidos de esquerda deveriam facilitar essas candidaturas, abrindo espaço especial para elas, ampliando assim o leque de candidatos nas distintas legendas populares. Esse argumento vale para todos os níveis da representação parlamentar, mas também para os cargos majoritários nos distintos estados.
 
Os movimentos sociais deveriam fazer reuniões especificas para isso, para definir candidaturas e plataformas deles, com todas as reivindicações concretas, somadas às posições gerais que queiram assumir diante da crise do país e das soluções para sua superação. 

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