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PSB ‘fecha questão’ e se posiciona contra as reformas trabalhista e da Previdência

Partido colocou o cargo de ministro de Minas e Energia à disposição do governo. Decisão do partido pode ter influência na bancada de outras legendas e causar um efeito cascata

Divulgação/PSB Nacional

Presidente do PSB afirmou que reformas do governo Temer atendem aos interesses de empresários e banqueiros

São Paulo – O PSB, que vinha votando majoritariamente em sintonia com o governo de Michel Temer (PMDB) no Congresso Nacional, anunciou nesta segunda-feira (24) que “fechou questão” e sua bancada vai votar contra as reformas trabalhista e da Previdência. Em evento que reuniu os prefeitos da legenda, em Brasília, o partido anunciou que o posto de ministro de Minas e Energia, ocupado pelo correligionário Fernando Coelho Filho, está à disposição. 

O posicionamento tomado pela executiva nacional foi expressado durante o encontro nacional de prefeitos do PSB pelo presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira, que convocou a militância a participar das mobilizações marcadas para a próxima sexta-feira (28) contra as reformas pretendidas pelo governo Temer. 

“Nós podemos apoiar as mudanças que têm a ver com os interesses do país e da sua população, não com os interesses dos grandes empresários, dos grandes banqueiros, do sistema financeiro internacional.(…) Traremos a militância do partido para protestar contra essa ignomínia que querem fazer com o trabalhador brasileiro. Não vamos aceitar”, disse Siqueira.

Uma fonte do PSB ouvida ontem à noite pela RBA disse acreditar que a decisão do partido terá um efeito cascata na Câmara dos Deputados e que parlamentares de outras legendas já estão se sentindo mais livres após o anúncio dos socialistas. Na avaliação dessa fonte, se Temer não demitir o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, muitos deputados se sentirão ainda mais livres, mesmo que seus partidos tenham ministros na Esplanada.

A avaliação é que a decisão do PSB e de eventuais outros parlamentares não deve influenciar a votação da reforma trabalhista, que por ser projeto de lei precisa de maioria simples para ser aprovada. Já a reforma da Previdência, que necessita do mínimo de 308 votos para ser aprovada, é possível que o governo desista de pôr em votação nesse momento.

Pressão da militância

Hoje (25) pela manhã o deputado federal Júlio Delgado (MG) afirmou que o partido vinha sofrendo “grande pressão” de suas bases. Delgado lembrou que, ainda no ano passado, o PSB havia tomado a decisão de adotar uma postura de independência perante o governo e que “votaria de acordo com os interesses do país”. Para o deputado, as reformas da Previdência e trabalhista propostas por Temer se contrapõem às questões dogmáticas do PSB. 

Delgado pondera que as divergências na bancada do partido já vinham sendo evidentes em votações anteriores, como a emenda constitucional que estabeleceu o teto de gastos por 20 anos e a reforma do ensino médio. “Há posições divergentes, mas chegou a hora de dar um chega”, afirmou. “O PSB, hoje, pode se colocar como o único partido que até o momento ‘fechou questão’ contra as reformas.”

Na noite de ontem (24), o senador Fernando Bezerra Coelho (PE), líder do partido na Casa e pai do ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, saiu antes do fim do evento, com os prefeitos demonstrando contrariedade com a posição do partido, da qual pretende recorrer nas instâncias internas, mas deixou a cadeira do filho à disposição. “Na medida em que as bancadas não respaldam as matérias que são importantes para o governo, é importante deixar o governo à vontade para compor a sua equipe com aqueles que possam contribuir na aprovação das matérias legislativas”, afirmou. 

Candidato à vice-presidente na chapa liderada por Marina Silva na eleição de 2014, o ex-deputado federal Beto Albuquerque (RS) contestou a posição do senador Fernando Bezerra, afirmando que o partido não integra o governo Temer e que a participação em seu ministério se dá por decisão pessoal ou de determinados grupos. 

“Não estamos no governo. É prudente o Palácio do Planalto começar a contabilizar votos a menos (nas votações do ajuste). Ninguém que está neste governo é indicação do PSB. Quem tomou a decisão de estar lá tem de se resolver”, ressaltou Albuquerque. Retomamos o nosso trilho e, para quem estiver descontente, a porta da rua é a serventia da casa”, afirmou o ex-deputado, durante a reunião em que o partido também se posicionou contrário a alguns pontos em debate na reforma política, como o voto em lista fechada. 

O PSB conta, atualmente, com bancada de 36 deputados federais e três senadores. Para a aprovação de proposta de Emenda à Constituição, como é o caso da reforma da Previdência, é necessário o mínimo de 308 votos na Câmara e 54 no Senado. O governo espera contar ainda com alguns votos dos PSB, mas o partido afirmou que os dissidentes poderão ser punidos com advertência ou, até mesmo, expulsão. 

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