Deslegitimação

Crise abre espaço para ‘salvador da pátria’, alerta cientista político da Unicamp

Segundo Reginaldo Moraes, lista de Fachin confirma que empreiteiras financiavam e influenciavam a política desde os tempos da ditadura

Dario Crispim/Unicamp

“Não tem ninguém do Judiciário nas caixinhas?”, questiona cientista político Reginaldo Moraes, da Unicamp

São Paulo – Para o cientista político Reginaldo Moraes, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Lista de Fachin não traz “novidades”, mas a sensação de crise de legitimidade, com o “desmonte geral” das instituições pode abrir espaço para soluções “heroicas”. 

“Até Poliana moça deveria saber que campanhas eleitorais recebem dinheiro –declarado ou não – de empreiteiras, fornecedoras de governos locais, estaduais, federal. Empreiteiras azeitam dirigentes de governo desde a ditadura”, destaca o professor, que diz que “agora é oficial”. 

Ele, e mais outros quatro professores da Unicamp, em entrevista ao jornal da universidade, avaliam as consequências da divulgação da chamada Lista de Fachin – que traz dezenas de políticos, entre ministros, senadores, deputados e governadores, que agora são investigados a partir das delações de executivos da Odebrecht – para o atual cenário político, agora em xeque. 

Segundo Moraes, a depender de quem controla a interpretação dos fatos – a mídia tradicional – pode se criar a percepção desmonte geral. “Ou seja, de erosão das principais lideranças políticas e, também, de deslegitimação do conjunto das instituições representativas – executivos, legislativos.”

Para o cientista político, tal cenário de “nada se sustenta” não pode durar muito tempo, sob risco do aparecimento de um “salvador da pátria”, de fora do sistema político, e contrário a ele. “O desmonte do país abre espaço para soluções ‘heroicas’. Já existe quem as proponha. A cadeia de info-entretenimento fomentará esse ‘apelo’ ao salvador da pátria?”

Ele também questiona a ausência de figuras do Judiciário nas denúncias de corrupção.

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