Inquéritos

Clima de tensão e expectativa cerca divulgação dos nomes da lista de Janot

Segundo deputados, nervosismo é observado principalmente por parte dos membros do PMDB ligados ao governo e do PSDB. Nomes da lista encaminhada hoje pelo procurador-geral ao STF não foram divulgados

José Cruz/Agência Brasil

Rodrigo Janot apresentou lista com 83 nomes de políticos e respectivos pedidos de abertura de inquérito

São Paulo – Deputados ouvidos pela RBA relatam um clima de nervosismo e apreensão no Congresso Nacional sobre a chamada “segunda lista” do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com 83 nomes de políticos e respectivos pedidos de abertura de inquérito. A Procuradoria-Geral da República protocolou os pedidos nesta terça-feira (14), no Supremo Tribunal Federal. Os nomes da lista, baseada nas delações da Odebrecht, não foram divulgados. Janot pediu o fim do sigilo e a decisão sobre isso será do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no tribunal.

“Quanto mais demora para se conhecer essa lista, mais alguns parlamentares ficam preocupados. Há um clima de tensão principalmente por parte dos membros do PMDB ligados ao governo e do PSDB”, diz o deputado Enio Verri (PT-PR).

Segundo o deputado Wadih Damous (PT-RJ), “boa parte do Congresso está em compasso de espera, em polvorosa”, à espera do conteúdo da lista.  Para ele, o momento reflete o ambiente que se criou no país em torno dos políticos. “A política hoje está submetida a esse tipo de expectativa, está completamente criminalizada.”

As declarações de Emílio Odebrecht à Justiça, nesta segunda-feira (13), aumentaram o clima de expectativa e insegurança por parte da “elite histórica” da Câmara dos deputados, aponta Verri. Isso porque o “patriarca” da construtora afirmou que o caixa dois “sempre existiu”. “Acredito que isso vai atingir os políticos mais tradicionais que estão aqui há décadas”, avalia o paranaense.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) usa de ironia ao falar de suas expectativas a respeito da lista de Janot. “Certamente boa parte aqui deve estar apreensiva. Só espero que a lista não seja seletiva, que coloque quem tem que colocar, inclusive do PSDB e PMDB. E sem tarja.”

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que os trechos referentes ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) que constam no depoimento de Benedicto Júnior, ex-presidente da construtora Odebrecht, sejam tarjados nas transcrições do processo que pede a cassação da chapa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB). Em trecho do depoimento vazado publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, Benedicto Júnior disse ter repassado R$ 9 milhões para políticos do PSDB via caixa 2 a pedido de Aécio.

Para Enio Verri, duas coisas ficaram evidentes nos debates de bastidores sobre a lista de Janot. A primeira é a questão da reforma política. “Hoje já se fala no financiamento público de campanha e voto em lista, o que nós, do campo da esquerda, sempre defendemos. A direita agora começa também a defender, já que vai ser complicado para eles sobreviverem depois das denúncias.”

A segunda questão, ainda de acordo com o parlamentar, é a retórica de lideranças do PSDB, segundo as quais é preciso “separar o joio do trigo”, ou seja, o que é usado para caixa dois e o que se caracteriza como enriquecimento pessoal. “Curioso que esse tema só surja agora, quando estão envolvidos o PSDB e lideranças do PMDB. Antes não tinha isso e o Gilmar Mendes lembrou dessa pauta agora”, diz Verri.

Na semana passada, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que “é preciso separar o joio do trigo. Ter cuidado para não misturar pessoas que fizeram corrupção, se enriqueceram, patrimonialismo, com outros casos”, segundo o jornal Folha de S. Paulo.

Para Wadih Damous, pelo que o noticiário diz, “parece que os mais atingidos (pela lista de Janot) vão ser o PSDB, o governo e o PMDB, até porque, se tivesse gente proeminente do PT, já teria vazado, a (revistaVeja já teria colocado na capa. Como isso não aconteceu, as especulações são de que o tiro vai ser para cima do governo e do PSDB”.

Na opinião do deputado do Paraná, o presidente Michel Temer “está envolvido” nas denúncias. “Nós achamos que as denúncias chegam no Temer e em ministros mais próximos dele. O conjunto do Palácio hoje está ameaçado”, diz Verri.

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