Defesa de direitos

Vereadores acreditam em mobilização e diálogo para evitar retrocessos na gestão Doria

Em minoria na futura composição da Câmara de Vereadores, Eduardo Suplicy, Juliana Cardoso e Sâmia Bomfim reconhecem o cenário desfavorável que aguardará os vereadores progressistas

Luiz França/CMSP

Eduardo Suplicy disse que fará audiências públicas para cada decisão polêmica proposta por Joao Doria

São Paulo – Em cerimônia na manhã de hoje (19) foram diplomados pela Justiça Eleitoral o prefeito eleito de São Paulo, João Doria, e seu vice, Bruno Covas (ambos do PSDB), além dos 55 vereadores eleitos para a próxima magistratura municipal. Ouvidos pela RBA, vereadores que já anunciaram que farão oposição a Doria afirmam que a tendência é que boa parte dos 55 parlamentares diplomados hoje deem uma folgada base de sustentação para o novo gestor da capital paulista.

Para a vereadora do Psol, Sâmia Bomfim (Psol), a situação trará dificuldades para sua legislatura. “Sem dúvida vai ser um cenário difícil pra gente, mas estando sempre em contato com o povo e os movimentos sociais, vamos conseguir fazer um mandato vitorioso”, disse ela.

Sâmia protagonizou o momento em que o protocolo da cerimônia foi quebrado (assim como a monotonia), quando subiu ao palco da Sala São Paulo vestindo uma camiseta de cor roxa com a frase “Fora Temer” em letras brancas. Enquanto ela caminhava para receber seu diploma de vereadora, o bordão “Fora Temer” ecoou, facilitado pela ótima acústica do local escolhido para a cerimônia. Os uivos e palmas de aprovação pela sua atitude logo foram sucedidos por uma ruidosa vaia, reação que não incomodou Sâmia Bomfim.

“Não é de surpreender. A maioria dos vereadores eleitos são do PSDB, são amigos e puxa-sacos do Doria. Acho que a Câmara e os vereadores não estão acostumados com esse tipo de posicionamento político forte, incisivo, acho importante oxigenar a forma de fazer política na Câmara, como expressão do que acontece nas ruas. O que eu vim dizer aqui é dito por milhares de manifestante todas as semanas nas ruas, nas redes sociais, nos locais de trabalho”, explicou a vereadora do Psol. “É importante aproveitar toda a visibilidade para colocar o nosso posicionamento político. Vivemos uma situação muito crítica no país, com um presidente ilegítimo com 70% de reprovação e citado mais de sessenta vezes em delação. Fui vaiada aqui dentro que tem a minoria da população, porque a maioria rejeita o Temer, como demonstram as pesquisas.”

Vereadora reeleita, Juliana Cardoso (PT) explicou, após a diplomação, temer que as ideias privatistas do PSDB sejam implementadas na cidade de São Paulo. “Já conhecemos muito bem esse modelo e temos sentido na pele, no governo do estado”, disse ela, citando a conhecida postura do PSDB em ser contra “políticas públicas vinculadas às populações mais vulneráveis”.

“Os movimentos sociais têm que se rearticular e se organizar para enfrentar os desmandos. Me parece que esse dom de privatização do PSDB vai nos bater muito de frente com algumas ações, como, por exemplo, o De Braços Abertos, o carnaval de rua, a própria Virada Cultural, que começou no Centro e passou a se expandir para a cidade inteira. São ações específicas que me preocupam e que estarei atenta para fazer a oposição devida.”

Eleito com 301 mil votos, quase 200 mil votos a mais do que o segundo colocado (Milton Leite, do DEM), Eduardo Suplicy (PT) também declarou ter preocupação com as futuras decisões do prefeito Doria, incluindo o programa De Braços Abertos. Suplicy disse ter entregue ao prefeito eleito cartas de 54 beneficiários do programa contando como suas vidas melhoraram nos últimos anos. “Tenho esperanças que continue.”

Para o ex-senador e ex-secretário municipal de Direitos Humanos, o diálogo será o caminho para tentar evitar retrocessos. “Já tive uma prolongada reunião com o João Doria e quero ter com ele uma atitude de construção. Para cada problema que ele está para tomar uma decisão, como o limite de velocidade nas marginais, é preciso que seja bem pensado o argumento.”

Suplicy ponderou que a limitação da velocidade máxima dos veículos em grande número de vias da cidade, implementada pelo prefeito Fernando Haddad, tem evitado a morte de mais de 260 pessoas por ano, assim como a redução de quatro mil feridos que se utilizariam do sistema de saúde pública. “Para cada decisão desse tipo, antes que ele tome, vamos propor audiências públicas com pessoas que muito estudaram cada um desses temas”, afirmou.

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